Coping strategies in people attempting suicide.
Resenhado por Ariane de Brito
Bazrafshan, M., Jahangir, F., Mansouri, A., &
Kashfi, S. H. (2014). Coping strategies in people attempting suicide. International Journal of High Risk Behaviors
& Addiction, 3, 1-6. doi: 10.5812/ijhrba.16265
O presente artigo teve como objetivo identificar
as estratégias de enfrentamento utilizadas por pessoas que tentaram suicídio e os
fatores de risco de suicídio, de modo a auxiliar pesquisadores a reconhecer
preditores de suicídio e introduzir intervenções mais adequadas para evitar o
problema.
Alguns estudos têm revelado uma maior
incidência de suicídio (9 por 100.000 habitantes) e tentativa de suicídio nas
últimas duas décadas no Irã, principalmente em pessoas do sexo masculino (65,0%
por casos) e em adolescentes (12,0% das causas de morte). Segundo dados
estatísticos internacionais, a taxa de suicídio bem sucedido em jovens do sexo
masculino é de 5 vezes mais do que a taxa de suicídio em jovens meninas, porém
elas tentam o suicídio três vezes mais do que eles. Além disso, estudos sobre
fatores de risco de suicídio têm demonstrado que algumas pessoas que são
expostas a tais fatores não necessariamente mostram tendências suicidas, o que
indica que pode haver fatores de proteção nessas pessoas que diminuem o risco
nesta população.
Para a teoria cognitiva, a tentativa de
suicídio é resultado da incapacidade de identificar e resolver problemas, ou
seja, incapacidade de encontrar soluções para os problemas e a falta de
estratégias de enfrentamento para lidar com estressores imediatos. Ter um
repertório eficiente das habilidades de enfrentamento reforça o sentimento do
indivíduo de autocontrole e autodireção, no entanto, quando a vulnerabilidade
de uma pessoa é alta, ela mostra um comportamento não-adaptativo até mesmo em
situações estressoras consideradas leves. Já em relação aos dois tipos de
habilidades de enfrentamento (1- habilidades de enfrentamento baseado na ação/foco
no problema; e 2- habilidades de enfrentamento baseado nos aspectos emocionais/foco
na emoção) alguns dos comportamentos associados a estratégias de enfrentamento baseados
nos aspectos emocionais como esquiva, autodepreciação e falta de envolvimento
na questão estão associados com depressão e ideações suicidas.
Em relação ao método, trata-se de um estudo
transversal, que contou a participação de 50 indivíduos, todos pacientes internados
no Hospital Shiraz Shahid Faghihi e selecionados por meio de amostragem
conveniente. Utilizou-se como instrumento de coleta de dados o COPE Inventory (Carver, Scheier, &
Weintraub, 1989), o qual inclui 18 escalas de enfrentamento e 52 itens. No
estudo piloto, com 24 sujeitos, o instrumento se mostrou adequado quanto a sua
consistência interna (α = 0,78). Os dados foram analisados pelo SPSS, onde
foram feitas análises descritivas e inferenciais.
A análise descritiva indicou que a maioria
dos participantes da amostra eram do sexo feminino (56,52%), solteira (69,57%),
tinha idade entre 10-20 anos (46,74%), e idade média total de 23,48 anos. Além
disso, a maioria tinha escola secundária (40,40%). Os escores médios para foco
no problema, foco emocional e estratégias de enfrentamento menos úteis foram
30,27, 27,83 e 49,32, respectivamente.
Nos testes inferenciais foi encontrado
relação significativa entre as médias dos dois grupos na área de estratégias de
enfrentamento menos úteis. A relação entre as estratégias de enfrentamento e
educação foi investigada através da ANOVA oneway, na qual se observou que as
pessoas que tinham nível de educação superior utilizam principalmente
estratégias focada no problema e estratégias de enfrentamento menos úteis (p =0,009; p=0,006). As outras análises não apresentaram relações
estatisticamente significativas, como entre a idade, estado civil e estratégias
de enfrentamento utilizadas pelos participantes.
De modo geral os resultados mostraram que
os participantes da amostra utilizam mais estratégias de enfrentamento menos
úteis (M = 49,32) do que as outras
estratégias. No estudo de Sun et al. (2006), verificou-se que o fator de risco
mais importante para a tentativa de suicídio eram as estratégias adaptativas
negativas, coincidindo com o encontrado no presente estudo.
As estratégias com foco no problema (M = 30,3) foi maior do que as
estratégias com foco na emoção (M =
27,8). No entanto é importante destacar que as estratégias de enfrentamento
centradas na emoção não removem diretamente a fonte de estresse, mas reduzem os
sintomas. Desse modo, profissionais de saúde podem ensinar tais estratégias
para pessoas em risco como forma de prevenção do suicídio.
Quanto ao sexo, a estratégias ineficazes
ou menos úteis usadas por mulheres que tentaram suicídio foram
significativamente maiores do que nos homens (p = 0,029). A pontuação média das mulheres nessas estratégias de
enfrentamento foram maiores, e vários estudos já têm demonstrado que homens e
mulheres utilizam estratégias diferenciadas, isto é, as mulheres costumam utilizar
estratégias e técnicas centradas na emoção para lidar com os problemas,
enquanto que os homens usam mais estratégias focadas no problema. No entanto,
outros fatores eficazes como barreiras culturais não devem ser ignorados, já
que, além de diferenças individuais existem também questões socioculturais.
Para os autores, por exemplo, as mulheres podem fazer uso principalmente de
estratégias menos úteis, uma vez que, elas enfrentam obstáculos quando querem
usar estratégias eficazes, mesmo nos países ocidentais. Sendo assim, a
identificação destas barreiras pode ser uma medida eficaz para prevenir o
suicídio nas mulheres.
Foi encontrada ainda diferença
significativa entre nível de escolaridade e tipo de estratégias de coping (estratégias
de enfrentamento focada no problema e estratégias menos úteis). Sobre isso,
sabe-se que quanto maior o nível de escolaridade, maior a capacidade do
indivíduo para lidar eficientemente com os problemas, no entanto, ele também
pode atuar como um estressor. Contudo, visto que a maioria dos indivíduos
usaram estratégias de enfrentamento ineficazes para lidar com problemas, fica
evidente a necessidade de ensinar estratégias de enfrentamento eficazes, principalmente,
para grupos vulneráveis na sociedade, como pessoas com níveis de escolaridade
mais baixo.
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