Flexibilidade na resolução de problemas em tentadores de suicídio.
Postado por Iracema
Freitas
Keller, M., & Werlang, B.S.G. (2005).
Flexibilidade na resolução de problemas em tentadores de suicídio. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 54, 128-136.
A violência tem se
manifestado de diversas maneiras na sociedade, comprometendo a qualidade de
vida e a saúde dos indivíduos. Suas consequências se refletem em danos fisícos
e mentais que por sua vez podem contribuir para a violência autodirigida, como
o suicídio. No comportamento suicida o teor volitivo denota certa
intencionalidade do indivíduo em infligir a autoviolência, que pode ser ideação
suicida, ameaça suicida, gesto suicida, tentativa de suicídio e suicídio consumado.
As causas para tais comportamentos são apresentadas com base em estudos que
apontam para: conflitos familiares e amorosos, conflitos ocupacionais, humor
depressivo, desesperança, prévio tratamento psiquiátrico e tentativas de
suicídio mal sucedidas.
De acordo com
estudos de Williams e Pollock (1991), existem características cognitivas
semelhantes em indivíduos com comportamento suicida, como a rigidez cognitiva (mesmo que a solução
não seja correta, o sujeito persiste por dificuldade em acessar memórias sobre
certas informações que facilitariam a resolução do problema), pensamento dicotômico (algo é bom ou
mau) e dificuldades de solucionar
problemas de modo efetivo. A flexibilidade na resolução de problemas
refere-se a uma habilidade cognitiva que cada um vai adquirindo ao longo da sua
formação frente às situações que exigem respostas adaptativas. Essa
flexibilidade pode ser reduzida quando o indivíduo se encontra desprovido de habilidade
cognitiva e emocional para enfrentar eventos problemáticos na sua vida.
Em Porto Alegre, foi
realizado um estudo com pacientes que receberam atendimento após tentativa de
suicídio e outros sem história de tentativa de suicídio. A amostra contou com
32 sujeitos com tentativa de suicídio (G1) pareados a 32 indivíduos sem
história de tentativa de suicídio (G2). Os instrumentos utilizados foram: teste
Wisconsin de classificação de cartas (WCST), teste Stroop de cores e palavras,
escala de desesperança de Beck, subtestes cubos, códigos e vocabulário
(WAIS-III), e Mini-international Neuropsychiatric
Interview. Os resultados apontaram que o G1 foi composto, em sua maioria
por mulheres (53,1%), com idade abaixo dos 30 anos (28,25), de classe social
baixa (62,5%), utilizando como principal método a ingestão de medicamento
(59,5%). Porém, nas tentativas em geral,
os métodos mais utilizados na tentativa de suicídio foram: a ingestão de medicamento, enforcamento, ferimento a
faca, ingestão de medicamento associado
a uso de álcool, ingestão de medicamento associado a corte nos pulsos, corte nos pulsos, jogar-se de locais altos, atear-se fogo e ingerir veneno de rato.
Diante da baixa
flexibilidade na resolução de problemas, a influencia de transtornos
psiquiátricos, a desesperança e todas as variáveis de ordem social, os
tentadores de suicídio devem ser assistidos de maneira incisiva a fim de que
haja um tratamento que favoreça uma reelaboração das suas crenças. O suicídio
não se resume as estatísticas, estas apenas sinalizam o quanto a autodestruição
tem crescido nas ultimas décadas, trazendo consequências para familiares e para
a sociedade em geral.
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