Representações sobre o suicídio para mulheres com história de violência doméstica e tentativa do mesmo.

Resenhado por Laís Almeida

Correia, C. M., Gomes, N. P., Couto, T. M., Rodrigues, A. D., Erdmann, A. L., & Diniz, N. M. F. (2014). Representações sobre o suicídio para mulheres com história de violência doméstica e tentativa do mesmo. Texto & Contexto Enfermagem, 23, 118-125.

Fenômenos complexos e com múltiplos fatores costumam caracterizar a tentativa de suicídio, que é considerada uma grave questão de saúde pública. No Brasil, foram registradas mais de 25 mortes por suicídio por dia em 2009 e esse número aumenta a cada ano. Estudos anteriores apontam que perdas interpessoais, dificuldades de relacionamento e violência física, verbal e sexual constituem as principais causas para o suicídio ou sua tentativa pelo sexo feminino. Segundo o Centro Toxicológico da Bahia, as mulheres tem realizado maior número de tentativas de suicídio e os métodos mais utilizados são os medicamentos, raticidas e produtos de limpeza. Esse artigo teve como objetivo apreender a estrutura das representações sociais sobre o suicídio para mulheres com história de violência doméstica que tentaram realizá-lo.
O estudo realizado foi exploratório e descritivo, baseado na Teoria das Representações Sociais, que consiste em um conjunto organizado de informações, atitudes e crenças que um indivíduo ou grupo elabora sobre um objeto, apresentando-se como uma visão subjetiva e social da realidade. As representações são estruturadas em um sistema interno duplo, que lhe confere complementaridade: o núcleo central e o sistema periférico. Esse último protege o núcleo central e permite a fusão de diferentes informações e práticas sociais, promovendo a transformação do que era desconhecido em familiar. Participaram da amostra 30 mulheres adultas com histórico de violência doméstica e tentativa de suicídio por envenenamento atendidas pelo Núcleo de Estudo e Prevenção ao Suicídio (NEPS) em Salvador-BA. Os instrumentos utilizados foram o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) e entrevista.
O teste continha uma questão aberta para que fosse feita associação livre de palavras: que palavras vêm à sua cabeça quando digo a palavra suicídio? Cada sujeito falou cinco palavras, que foram organizadas seguindo uma hierarquia de importância atribuída pelos próprios sujeitos e duas foram escolhidas por melhor definirem a palavra suicídio. Através dos discursos obtidos nas entrevistas foram identificadas mensagens que pudessem ser agrupadas em categorias para serem posteriormente analisadas.
Dentre as 150 palavras ditas pelas participantes, apenas 31 eram diferentes, mostrando que a maioria das mulheres com história de violência doméstica e tentativa de suicídio possuem a mesma representação sobre suicídio. Os dados foram agrupados em três categorias: elementos do núcleo central, elementos intermediários e elementos periféricos. As palavras que tiveram as maiores frequências formam o núcleo central, que no caso desse estudo foram “depressão” e “morte”, as quais dão o significado real à representação do suicídio. É importante destacar o fato de que nas entrevistas a depressão foi o transtorno mais relacionado com o suicídio pelas participantes.
Os elementos intermediários englobam outras palavras que também tiveram alta frequência, mas que não foram suficientes para integrar o núcleo central, como “desesperança”, “medo” e “saída”. Desesperança e medo são comuns no quadro depressivo e o termo “saída” está diretamente relacionado à morte, enxergada como uma possível solução. Palavras com menores frequências, mas que foram prontamente evocadas foram: alívio, arrependimento, dor, família, mal e perdas. Esses elementos não modificam os elementos centrais e a própria representação do suicídio, sendo esse conjunto chamado de zona de contraste. A interrupção de uma dor interminável, de desligamento da consciência é vista pelo suicida como a solução perfeita para a pressão dos problemas que enfrenta na vida, dessa forma uma mente angustiada torna-se vulnerável e inicia os atos destrutivos.
Os elementos periféricos são os mais mutáveis, mostram as transformações sofridas pela representação, representados pelas palavras: desamor, doença, impotência, libertação, mudança e rejeição. Por serem mais flexíveis e apresentarem uma menor resistência a mudanças, esses elementos possibilitam modulações individuais que permitem flexibilidade na formação das representações sociais.

O estudo mostra que a representação sobre suicídio nessas mulheres origina-se em histórias de vida cheias de rejeição, violência e desamor, as quais levam a doenças, principalmente a depressão. Invadidas pelo sentimento de impotência e visualizando uma solução, elas decidem pela morte. O artigo ressalta a importância do atendimento psicoterápico que contemple um olhar diferenciado para as mulheres que vivenciaram violência e tentaram suicídio, de maneira que as ajudem a enxergar outras saídas para seus problemas. 

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.