Perfil do Portador de Comportamento Suicida Atendido em Hospital Universitário.
Resenhado por
Mariana Menezes
Bento,
A. C. B.; Mazzaia, M. C., & Marcolan, J. F. (2015). Perfil do portador de
comportamento suicida em hospital universitário. Revista de enfermagem UFPE online, 9, 9188-9196. doi: 10.5205/reuol.7874-68950-4-SM.0909201505
O suicídio é um sério problema de saúde
pública e está entre as dez principais causas de morte no mundo. As taxas mundiais
de suicídio aumentaram em 60% nos últimos 50 anos e se estima que as tentativas
de suicídio sejam 10 a 20 vezes mais frequentes do que as taxas de suicídio
efetivado, sendo que a maioria ocorre entre indivíduos jovens, com idade
inferior a 35 anos. Sabe-se também que os homens apresentam taxa de morte por
suicídio três vezes maior que as mulheres, porém as mulheres tentam se matar de
3 a 4 vezes mais que os homens.
Embora os fatores de risco para o comportamento
suicida variem de região para região, a presença de transtornos mentais e de
doenças físicas, principalmente crônicas, quando são responsáveis por importantes
limitações na vida dos sujeitos têm sido encontrados como fatores de risco para
o suicídio em vários países. Indivíduos solteiros, viúvos e divorciados são os
que apresentam maior risco para o suicídio. O desemprego ou perda do emprego,
bem como fatores estressores da vida cotidiana (perdas afetivas e econômicas,
problemas de relacionamento etc.) ocorridos principalmente nos últimos três
meses prévios ao ato suicida, também estão associados ao risco para o mesmo.
Os dados que o Brasil dispõe sobre o
suicídio são obscuros e insuficientes para que se chegue a conclusões
confiáveis. Tais dados podem não demonstrar de maneira fidedigna a realidade
devido a problemas no acompanhamento dos casos e de diagnóstico. Além disso, no
Brasil há pouco investimento nessa área para estudos e intervenções,
treinamento de profissionais de saúde e desenvolvimento de programas nacionais
para prevenção.
Assim, o estudo em questão teve o objetivo
de verificar o perfil de pessoas atendidas entre 2007 e 2008 no pronto socorro
e unidade de internação de hospital universitário da cidade de São Paulo com o
diagnóstico de tentativa de suicídio a fim de contribuir para o planejamento de
ações na área de suicídio.
Após a análise de 122 pacientes atendidos
no hospital universitário, os resultados mostraram que a prevalência de
tentativas de suicídio é um pouco maior nas mulheres com 50,8% e nos jovens
entre 10 a 35 anos; que o período noturno é o preferido para tentar suicídio; que
16,4% das mulheres e 13,9% dos homens já tinham tentado se suicidar outras
vezes; que 7,4% mulheres e 18,9% dos homens abusavam de drogas; 23,0% das
mulheres e 27,9% dos homens tinham algum transtorno mental; 13,1% das mulheres
e 14,8% homens tinha submetido a tratamento farmacológico prévio; os métodos
mais utilizados por mulheres e homens, foram respectivamente: ingestão de medicamentos
(28,7% e 14,8%), corte dos pulsos/automutilação (6,6% e 7,4%), se atirar de lugar
alto (4,1% e 7,4%) e envenenamento (4,9% e 4,1%). As tentativas de suicídio se
mostraram mais frequentes entre jovens (83,6%), mulheres com problemas no
relacionamento amoroso (12,3%) / relações familiares (13,1%), homens por
relações familiares (4,1%) e desemprego/problemas financeiros (4,9%).
Os transtornos mentais se mostraram
associados com mais de 90% dos casos de suicídio e há evidências de que
portadores de transtorno mental apresentam quatro vezes mais chances de ideação
suicida quando comparados àqueles que não têm transtorno mental.
Uma das explicações para a associação
entre suicídio e o abuso de drogas é a de que o abuso deixa o indivíduo mais
vulnerável, causando desestruturação mental e encorajando-o a cometer tal ato
contra a própria vida.
A pesquisa também encontrou que os meses
de novembro e dezembro são os preferidos das mulheres para cometer suicídio,
coincidindo com o clima de preparativos para as festas de final de ano, em que
se evidencia a importância da família. Já os homens geralmente apresentam
comportamento suicida durante o primeiro semestre, principalmente depois do
Carnaval, o que pode estar associado ao insucesso em conseguir emprego.
Os resultados do estudo apontam para a
necessidade de desenvolvimento de programas que visem à prevenção e vigilância
ao suicídio, bem como à identificação precoce de fatores de risco com a
finalidade de estabelecer estratégias para diminuir as dimensões deste
problema, uma vez que o país carece de tais programas. Além disso, a limitação
para a obtenção dos dados é grande devido à falta de informação pelo
preenchimento incorreto e falho das fichas de atendimento. Outro problema
identificado foi a falha na condução dos que tentaram suicídio, pois ao invés
de serem encaminhados para avaliação psiquiátrica com possibilidade de
internação, receberam alta e poucos foram orientados a procurar o Centro de
Atendimento Psicossocial (CAPS). Tais fatos revelam o desconhecimento e a falta
de qualificação dos profissionais da saúde para atender esses pacientes de
maneira adequada. Faz-se necessário que a populações e os profissionais da
saúde sejam educados e que os conhecimentos em torno do suicídio sejam
divulgados para que a desinformação e os tabus sobre o tema sejam quebrados.
Nenhum comentário: