Crenças que influenciam adolescentes na doação de órgãos.

Resenhado por Geovanna Souza

Moraes, M. W., Gallani, M. C. B. J., & Meneghin, P. (2006). Crenças que influenciam adolescentes na doação de órgãos. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 40, 484-92.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que o termo ‘órgão humano’ se refere a órgãos e tecidos, com exceção de tecidos reprodutivos, tais como ovários, óvulos, espermas, testículos, embriões, sangue e seus constituintes. Como cita os autores em seu texto, hoje, são realizados transplantes de diversos órgãos como coração, fígado, pulmão, pâncreas, rins, córneas, pele, entre outros. Embora a temática do transplante e doação de órgãos humanos sejam bastante divulgadas nas mídias, ainda são temas polêmicos que geram discussões em várias comunidades.
No Brasil, o interesse pela doação é realizado em vida pelo próprio doador ou após sua morte, por seus familiares. Na maioria das vezes o desconhecimento das resoluções e legislações existentes contribuem para a não doação, prolongando o sofrimento de pacientes que dependem da doação de órgãos para continuar vivendo. Segundo Moraes, Gallani e Meneghin (2006), tanto a estrutura educacional e religiosa, como a ignorância que ainda existe a respeito do tema contribuiu para a elaboraração deste estudo.
Entender e explicar o comportamento humano não é uma tarefa fácil. Partindo desse ponto, surgiram várias teorias dentro da Psicologia Social com o intuito de tentar explicar os aspectos que levam as pessoas a se comportar de determinada maneira. Uma dessas teorias é a Teoria da Ação Racional (TAR), que tem tem como objetivo predizer e compreender o comportamento do indivíduo. Essa teoria parte do pressuposto que o ser humano é racional e faz uso sistemático das informações disponíveis, para então formar a intenção comportamental.
Para a TAR, a intenção é função de dois determinantes básicos: a atitude (influência pessoal) e as normas subjetivas (influência social). Porém, para explicar o comportamento é também necessário o reconhecimento das crenças salientes em relação à ação investigada. Dessa forma, conhecer as crenças que cercam adolescentes a respeito da doação de órgãos é de fundamental importância, visto que essa fase do desenvolvimento é uma fase de influências e decisões. A partir disso, este estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento sobre transplante e doação de órgãos, além de identificar as crenças salientes, pessoais e normativas, em relação ao transplante e doação de órgãos.
Para atingir aos objetivos do trabalho, foram coletados dados de 94 alunos de ambos os sexos, entre 16 e 18 anos, que cursavam o ensino médio em escolas públicas. Tratou-se de um estudo do tipo descritivo e seu instrumento baseou-se na TAR, constituído por questões sociodemográficas, conhecimentos específicos sobre doação de órgãos e transplantes, além de mensuração de crenças salientes. Os participantes do estudo foram, em sua maioria, do sexo feminino (68,1%), com idades entre 16 e 18 anos (73,4%), brancos (63,8%), católicos (66,0%). Mais da metade da amostra (74,5%) afirmou se atualizar a respeito das temáticas da doação e do transplante através da televisão e 52,1% afirmaram que permitiriam o carimbo de doador.  
De acordo com a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, a maior causa para não se efetivar uma doação ainda é a recusa familiar, seguida da contra-indicação médica. Assim, ressalta-se a importância de comunicar aos familiares e pessoas próximas o interesse em ser doador.  Anualmente, no Brasil a taxa de doadores é de 3,7 por milhão de habitantes. Esse número ainda é considerado pouco perto da taxa de pessoas que compõem a lista de espera por doações de órgãos.
Quando os adolescentes foram questionados se deveriam ou não ser doadores de órgãos, segundo a opinião de pessoas significativas para eles, 53,2% responderam que não deveriam. Estes dados caracterizam uma norma social com grande peso negativo sobre a formação da opinião dos adolescentes. Os autores ressaltam ainda que foram identificadas oito crenças positivas em relação à doação de órgãos, demonstrando intenção positiva dos adolescentes quanto ao ato de doar órgãos e cinco crenças negativas menos favoráveis à doação de órgãos. Tais dados evidenciam que as crenças populares são decorrentes do preconceito pelo não conhecimento dos fatores que cercam a doação e o transplante, evidenciando o desconhecimento acerca dos procedimentos que envolvem todo o processo. Assim, notou-se que apenas a educação não é suficiente para solucionar estes problemas, sendo necessário o estabelecimento de técnicas cognitivas e comportamentais capazes de amenizar o temor dos doadores.
A presente pesquisa revelou que o instrumento utilizado permitiu atingir os objetivos estabelecidos, esclarecendo algumas crenças que cercam os processos de doação e transplantes de órgãos. Embora a pesquisa não possa ser generalizada a todos os públicos, sexos e faixas etárias, ela se fez importante no conhecimento das crenças afetivas, pessoais e sociais que permeiam tais questões. Com isso, ressalta-se a necessidade de realizar mais pesquisas na área, que tenham como produto final o desenvolvimento de ações que contribuam na explicação e minimização de comportamentos menos favoráveis à temática. 

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