Experiências de Perda e de Luto em Escolares de 13 a 18 anos.
Postado
por Laís Almeida
Domingos, B., &
Maluf, M. R. (2003). Experiências de Perda e de Luto em Escolares de 13 a 18
anos. Revista Psicologia: Reflexão e
Crítica, 16, 577-589. doi: 10.1590/S0102-79722003000300016
Uma
das maiores preocupações do homem ocidental é a morte e a perda do outro
costuma ser muito problemática, tanto para quem a enfrenta quanto para as
pessoas ao redor, que nem sempre sabem como agir frente a alguém enlutado. O
luto é entendido como uma constelação de reações psíquicas, conscientes e
inconscientes a uma perda significativa. É uma experiência complexa, moldada
pelo contexto social que atinge o indivíduo, sua família e os sistemas mais
amplos da sociedade dos quais participa. Para os adolescentes, os fatores que
influenciam seu luto são o conhecimento que eles têm das causas e
circunstâncias da perda, os padrões de relacionamento anterior e a mudança
desses padrões. A perda de pessoas próximas e parecidas servem de alerta para a
própria vulnerabilidade e mortalidade, principalmente de forem repentinas.
O
artigo teve como objetivo examinar as experiências de perda e de luto
vivenciadas por um grupo de estudantes que perderam entes queridos. Além disso,
buscou-se analisar como, na percepção desses estudantes, comportaram-se a
família e a comunidade escolar ao lidar com essa questão. A pesquisa foi
realizada em duas escolas públicas de São Paulo com 25 adolescentes do ensino
fundamental e médio, de 13 a 18 anos. Foram utilizados dados sociodemográficos
e duas entrevistas clínicas que abordaram os seguintes tópicos para posterior
análise de conteúdo: circunstâncias da perda; como era o relacionamento com a
pessoa falecida; reações à perda; impacto da perda nas atividades escolares e
rotineiras e no relacionamento com outrem; a família como suporte/outras redes
de apoio e a comunidade escolar como suporte.
O
comportamento da família como suporte foi percebido como pouco eficaz e, apesar
dos jovens terem recebido algum apoio de colegas e professores, esse apoio se
deu em ajuda prática (com provas e trabalhos) e não abordou as necessidades
emocionais decorrentes da perda. Na escola o déficit de atenção e concentração
aparece como o maior problema enfrentado pela metade dos entrevistados,
principalmente por conta da ansiedade, quadro conhecido na literatura sobre
luto.
Na
maioria dos casos o apego às pessoas que vieram a falecer compensava em parte
as necessidades afetivas negligenciadas na família nuclear. As reações de raiva
e hostilidade foram mais expressivas nas perdas geradas por homicídio, pois
além de serem repentinas, evocam a impunidade dos assassinos, fazendo com que
os jovens sintam-se vitimizados e vulneráveis. Perdas por suicídio,
envolvimento com drogas e resultantes da AIDS costumam ser menos compartilhadas
devido ao preconceito e julgamento moral que circunda o tema, trazendo um
sofrimento que o jovem sente a necessidade de esconder.
Por
fim, o estudo mostra reações de um grupo de adolescentes estudantes brasileiros
frente ao luto e confirma os achados consagrados na literatura sobre morte e
luto. Além disso, sinaliza que a família tem que saber lidar com situações que
trazem fortes emoções, como o luto, e sugere que a escola aprenda a lidar com a
demanda de alunos enlutados.
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