Morte, separação, demissão: entenda o luto para superá-lo.

11:12
Postado por Geovanna Souza
O luto se apresenta em qualquer tipo de perda, seja diante da perda de uma pessoa, de um objeto, animal ou qualquer outra coisa que tenha algum valor sentimental para a pessoa. Ele está presente em todos os momentos que as pessoas precisam se desprender de algo importante de sua vida, como num término amoroso ou numa demissão do emprego. Cada pessoa reage de forma diferente diante de uma perda, porém diante da suspeita de que o luto evoluiu para algo mais grave, o indicado é buscar ajuda. Nesse contexto, cabe avaliar até que ponto o sofrimento está impedindo a pessoa de realizar tarefas cotidianas e afetando sua relação com pessoas próximas.
Fonte:http://mulher.uol.com.br/comportamento/noticias/redacao/2014/05/29/morte-separacao-demissao-entenda-o-luto-para-supera-lo.htm

O ex-funcionário continua destilando palavras de ódio contra a empresa meses após ser demitido. O filho fica sem ação ao receber a notícia da morte da mãe. O namorado traído não consegue se envolver em um novo relacionamento. Todas essas situações fictícias envolvem experiências de perdas. E quem passa por algo parecido vivencia exatamente o mesmo processo psicológico: a vivência do luto.O luto, ao contrário do que se imagina, não faz referência apenas à reação que se tem diante da morte de alguém querido. "O luto é um processo relacionado a todas as perdas significativas que sofremos", diz a psicóloga Elaine Gomes dos Reis Alves, professora e pesquisadora do Laboratório de Estudos Sobre a Morte, do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo). Ela explica que essas privações podem ocorrer tanto no plano concreto –quando ocorre a perda de um emprego, por exemplo– quanto no simbólico –quando "morre" a figura idealizada da namorada.
Segundo Gabriela Casellato, psicóloga pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e cofundadora do Instituto de Psicologia 4 Estações, instituição particular na capital paulista, o luto se apresenta como um conjunto de reações associadas à perda."Na esfera física, podem surgir fadiga, queda de resistência imunológica e alterações de sono, alimentação, atenção e concentração. As alterações emocionais incluem tristeza, angústia, ansiedade, raiva, medo e insegurança. Também pode ocorrer isolamento social ou, ao contrário, a necessidade de falar continuamente sobre a perda. Há, ainda, pessoas que têm a fé abalada nessas situações, que perdem a esperança e questionam valores antes arraigados", diz Gabriela.
De fato, cada pessoa pode reagir de maneira diferente a uma perda que, para ela, tenha um valor importante. Mas, na década de 1960, uma psicóloga suíça chamada Elisabeth Kübler-Ross (1926-2004) descreveu cinco fases que, de maneira geral, compõem o processo do luto:
- Negação: a pessoa tenta negar a existência do problema ou situação e, às vezes, evita até falar sobre o assunto. "Isso não pode ser verdade!", pensa.
- Raiva: é comum aparecer revolta e ressentimento quando a pessoa se dá conta da perda. "Por que eu?" é o pensamento recorrente.- Negociação: quando a hipótese da perda começa a se concretizar, é comum que a pessoa tente reverter a situação tentando um acordo consigo, com outra pessoa ou divindade. - Depressão: ocorre quando a pessoa toma consciência de que a perda é inevitável. Tristeza, desolação, apatia e medo são sentimentos comuns nessa fase. Não deve ser confundida com a doença diagnosticada como depressão, que envolve um desequilíbrio químico e tratamento específico. Por isso, a psicóloga Elaine prefere usar o termo "tristeza".- Aceitação: é a fase em que pessoa aprende a viver sem aquilo que perdeu. Não significa esquecer ou não sentir mais tristeza ao se lembrar do fato. "Um pai nunca vai aceitar a morte de um filho", exemplifica a psicóloga Elaine. Nesse contexto, aceitar é apenas conseguir continuar tocando a vida. Elaine Alves explica que essas fases não devem ser vistas como obrigatórias e também não seguem necessariamente uma sequência. Podem, inclusive, se sobrepor umas às outras. A fase descrita como depressão está, com maior ou menor ênfase, presente em todas as outras. "O processo é sofrido, mas necessário para a superação da perda. A tristeza precisa ser vivenciada. O problema, hoje, é que toda tristeza é tratada como depressão", diz ela. Você não tem que ser forte. Perdeu um filho? "Você tem que ser forte!" Está sofrendo por um amor? "Isso vai passar". Perdeu o emprego? "Foi melhor para você". Levaram o carro em um assalto? "Não fique assim, o importante é que você está com saúde".Apesar de estarem sempre carregadas de boas intenções, essas tentativas de consolar alguém que sofre uma perda quase nunca funcionam, segundo Elaine. Ao contrário. A tentativa de amenizar o sofrimento do outro pode até prejudicar o processo de luto dele. "É muito ruim quando a pessoa se sente desvalorizada em sua dor. Os pequenos lamentos também precisam ser acolhidos", diz a psicóloga.
Nesse momento, ajudar é reconhecer o direito de quem sofre a ser fraco e expor sua dor ou, ao contrário, o direito a silenciá-la. Assim, tão prejudicial quanto inibir o sofrimento pode ser a insistência para que a pessoa que está triste chore. "Quem não consegue chorar sofrerá, além da dor da perda, a culpa por não reagir da maneira esperada", alerta Gabriela Casellato. E em boa parte das vezes, o melhor consolo é o silêncio. "Os judeus, por exemplo, têm o costume de se revezar para ficar em silêncio ao lado da pessoa enlutada", diz Elaine. Quando procurar um especialista?
A psicóloga Elaine diz que as pessoas mais resilientes tendem a reagir melhor ao luto. "Elas geralmente enfrentam melhor as situações de perda", afirma. O conceito de resiliência, emprestado da física, é utilizado para definir essas pessoas que lidam bem com situações adversas.Para a psicóloga Rosane Rodrigues, professora do Departamento de Psicodrama do Instituto Sedes Sapientiae, instituição que oferece cursos para profissionais e atendimento psicológico, de São Paulo, o amadurecimento –não necessariamente ligado à idade– também pode influenciar positivamente na maneira como a pessoa lida com o luto. "O enfrentamento da morte e das perdas vai ficando menos difícil a cada vez que passamos por essas situações", afirma.
O processo de elaboração do luto pode ser longo: não há tempo definido para terminar. Mas as especialistas identificam que o período de um ano costuma ser o mais crítico. É quando diferentes marcos temporais lembrarão a perda sofrida, como o aniversário da pessoa que morreu, o primeiro Natal em situação adversa ou a época de confraternização de final de ano da empresa em que se trabalhou durante tanto tempo. Passados esses meses, é esperado que a pessoa já saiba como é viver e sobreviver à nova realidade e que, aos poucos, consiga ir retomando a sua vida.
Pode ocorrer, no entanto, que pessoas com condição ou histórico prévio de depressão tenham a doença desencadeada ou agravada numa situação de luto. Segundo a psicóloga Gabriela Casellato, três aspectos podem pesar nesse diagnóstico: o tempo do luto, a intensidade das reações e o impacto que elas têm sobre a vida da pessoa. Vale avaliar, por exemplo, até que ponto a tristeza está impedindo quem sofre de desempenhar as atividades que antigamente faziam parte da rotina, afetando os relacionamentos com outros parentes e amigos ou colegas de trabalho.
Diante da suspeita de que o luto evoluiu para algo mais grave, o indicado é buscar ajuda. Gabriela explica que o psicólogo pode propor um trabalho psicoterápico individual ou em grupo. "E mesmo em caso de luto considerado normal, grupos de apoio e autoajuda podem dar um bom suporte no nível do aconselhamento e acolhimento", diz a psicóloga.

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