Percepção do corpo, medo da morte, religião e doação de órgãos.
Resenhado
por Marcelle Mota
Bendassoli, Pedro F. (2001). Percepção do corpo, medo
da morte, religião e doação de órgãos. Revista
Psicologia: Reflexão e Crítica, 14, 225-240.
A partir do fim da década de 90 houve
um aumento das discussões sobre a doação de órgãos com o intuito de promover
novos critérios referentes aos procedimentos de transplante de órgãos. A
psicologia social aplicada a saúde infere sobre os desdobramentos oriundos das
questões referentes a este tema propondo projeto de intervenção a comunidade.
Esta pesquisa tem como objetivo geral o
levantamento e a investigação dos possíveis motivos que ocasionaria nos
estudantes universitários a serem doadores de órgãos ou não. De acordo com a
literatura as variáveis são: a percepção o próprio corpo e a maneira como os
órgãos figuram nessa imagem, podem influenciar de modo a facilitar ou
dificultar o fato de desejarem ou não serem doadores de órgãos. Outro aspecto
interessante que exerce influência sobre este tema, a relação como a cultura ocidental contemporânea lida
com a morte.
Os participantes que não se apresentaram como
possíveis doadores órgãos, foi comum encontrar o tema doação de órgãos como uma
relação que evocava a morte. A institucionalização da morte, ou seja, a
restrição da morte ao ambiente hospitalar, acaba por favorecer a doação de
órgãos por alimentar o desejo contemporâneo de levar a vida até a última instância.
A religião é um fator que também irá interferir na decisão de ser um doador de
órgãos.
Com efeito, foram realizados em três estudos
interdependentes, sendo o segundo uma continuação do primeiro e o terceiro um
aprofundamento das hipóteses do terceiro. Levando-se em consideração o objetivo
desta pesquisa, apresentou-se como associação relevante para o favorecimento ou
não da doação de órgãos a percepção do próprio corpo; a visão do que recebe a
doação; a percepção de morte; cultura; origem. Não houve relação entre se
considerar um doador e religião, provavelmente devido ao ambiente de coleta, já
que existe a visão de a doação de órgão ser útil para o meio universitário. Inclusive
indo de encontro ao esperado pelo senso comum, evangélicos se consideraram doadores
e os nãos doadores foram compostos por católicos.
Foi possível perceber neste artigo
que entre as pessoas que se consideravam doadores em geral acreditavam na
divisão entre corpo e alma; o transplante de órgãos como o retorno da harmonia
ao receptor, e o doador como aquele irá ajudá-lo. Já os que não se consideravam
doadores, acreditavam que seriam prejudicados pela doação, poderiam ser mortos
prematuramente e obtiveram maiores escores em relação às variáveis medo de morrer
e medo de ser destruído.
As limitações deste estudo estão relacionadas à
impossibilidade de generalização devido ao número de participantes em cada
estudo, ter sido realizado somente com universitários e de sua natureza
explanatória. A realização de novas pesquisas sobre este tema é de fundamental
importância devido a sua relevância social. Levando-se em consideração as
limitações deste estudo seria interessante a realização de pesquisas com
amostras populacionais, aonde generalizações seriam possíveis. Estas pesquisas
poderiam fundamentar melhor se há ou não influência significativa entre
religiosidade e o fato de ser ou não ser um doador de órgãos em potencial. Já
que este estudo o fato de ser realizado num ambiente universitário parece ter
influenciado na variável religiosidade.
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