O processo de luto no idoso pela morte de cônjuge e filho.
Resenhado
por Maisa Silva
Oliveira, J.
B. A., & Lopes, R. G. C. (2008). O processo de luto no idoso pela morte de
cônjuge e filho. Psicologia em
Estudo, 13,
217-221.
O
jovem é considerado o padrão do modelo social pela sociedade moderna, que é
pautada no produtivismo e no consumismo, acabando por estigmatizar a velhice.
Constantemente renegada, essa negação tem como base o pensamento de que apenas
o outro envelhece, desconsiderado a individualidade. Para Kovács (2002), a
velhice é uma fase do desenvolvimento que não possui início definido, mas
claramente o fim é a morte. Considerada
um tabu por esse modelo social e algo que não se deve debater, o processo de
luto também deixou de ser valorizado.
Segundo
Parkes (1998), o luto pode ser considerado como um conjunto de reações diante
de uma perda, e é algo que precisa ser valorizado e acompanhado, pois faz parte
da saúde emocional. Assim como vários outros eventos da vida, o luto também
contém diferentes simbolismos, e um deles é a cor. Em nossa sociedade, a cor
que predomina essa fase é o preto.
O
luto é a fase onde ocorrem as expressões de sentimentos pela perda do ente
querido, da aceitação de que a morte é um evento real e que precisa ser
refletida. No presente artigo, o autor
menciona algumas fases do luto, as quais são: choque, desejo, desorganização e
organização. A fase de choque pode durar horas ou dias, e representa
expressividade de sentimentos intensos, onde o indivíduo possui sentimentos
como irritabilidade, desespero e amargura, tendendo a confrontá-los com pessoas
que venham a partilhar do luto, como uma manifestação de defesa. A fase do desejo pode durar meses ou anos e é
caracterizada pelo constante desejo de busca por qualquer lembrança que remeta
à figura perdida, tais como lugares em que frequentava e objetos pessoais. Na fase de desejo e busca, a desorganização e
o desespero se misturam, pois a perda traz outras que são secundárias. Por
último, na fase da reorganização, há a aceitação da perda e o pensamento de um
recomeço diante do ocorrido. Entretanto, há a possibilidade de momentos de
recaídas, embora não sejam frequentes.
Como
o luto não é um processo linear, pode durar meses, anos ou até mesmo não ter
fim, a depender da intensidade do contato quehavia com o ente perdido. Para o
autor, uma forma de amenizar o luto é idealizar boas lembranças que se teve com
a pessoa que faleceu, aceitando a morte como real e passando a investir em sua
própria vida. Além disso, mesmo não considerando que há definições claras para
os tipos de luto, somente enfatizando que é patológico quando é prolongado e
com características obsessivas, o autor traz dois tipos de luto: o
mal-elaborado e o bem-elaborado.Em perspectivas psicanalíticas,o luto
mal-elaborado caracteriza-se pelo desinvestimento gradual da libido objetal (o
luto) e a reapropriação da libido no ego. Já o bem-elaborado é caracterizado
pelo surgimento de quadros melancólicos, em que o luto apresenta a perda real,
mas a melancolia representa o inconsciente, que relaciona-se com o objeto
perdido, não sabendo o que verdadeiramente se perdeu.
No
idoso, esse processo possui um grande impacto, pois traz perdas pessoais e
sociais advindas da estigmatização da velhice. Diante de uma situação em que o
cônjuge esteja debilitado por doenças severas, o parceiro (e cuidador) por
muitas vezes vive em um dilema paradoxal entre desejar a morte do cônjuge e o
desejo de que sobreviva, mas já sentido o luto antecipatório. Entretanto, diante
da morte de um filho, o idoso sente-se incapaz, impotente e culpado, pois como
progenitor, a ida antecipada do filho é vista como uma ordem inversa da
natureza. Mesmo tendo a velhice como
fase da sabedoria e do amadurecimento, não há fortes condições emocionais para
a elaboração da perda, pois, em muitos casos a vivência do luto ocorre em
solidão, favorecendo alterações emocionais, distúrbios como os do sono e
alimentação e até manifestações somáticas, sendo comum falta de ar, dor no
peito e insônia, por exemplo.
Por
fim, é necessário que o enlutado possua liberdade para expressar seus
sentimentos em decorrência da morte, principalmente em meio aos que o ajudam, que
são os que mais estarão reafirmando a perda. A vivência desse processo nos
idosos também pode ser auxiliada e fortalecida por profissionais, já que com o
passar dos anos, esse indivíduo pode não conseguir suportar mais perdas.
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