Cuidados paliativos: tudo a fazer quando não há mais nada a fazer
Postado por Brenda Fernanda
Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), os cuidados paliativos consistem na assistência, ofertada por equipe
multidisciplinar, a fim de promover maior qualidade de vida ao paciente e seus
familiares frente à terminalidade de uma doença, através da prevenção e alívio
do sofrimento. Ressalta-se a importância do cuidado não só com o paciente, mas
também com a família, visto que esta adoece junto, desde o diagnóstico, e esse
processo pode desintegrar ou fortalecer os laços afetivos. O papel da
Psicologia nesse contexto abrange a compreensão de todas as dimensões do ser
humano, oferecendo suporte e escuta e auxiliando na elaboração do sentimento de
perda.
A médica geriatra Ana Claudia
Quintana Arantes fez pós-graduação em psicologia e especialização em cuidados
paliativos pela Universidade de Oxford. Na introdução de seu livro “A morte é
um dia que vale a pena viver”, editado pela Casa da Palavra, ela conta que,
numa festa, ao lhe perguntarem o que fazia, respondeu: “Eu cuido de pessoas que
morrem”. Foi o suficiente para que eu não conseguisse interromper a leitura. A
área ainda é pouco conhecida, mas terá cada vez mais visibilidade com o
envelhecimento da população.
De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), a especialidade de cuidados paliativos consiste na
assistência, promovida por equipe multidisciplinar, para melhorar a qualidade
de vida do paciente e de seus familiares diante de uma doença que ameace a
vida, por meio de prevenção e alívio do sofrimento. Não se trata apenas de
cuidar de quem tem pouco tempo de vida, mas também de todos que sofrem de
enfermidades crônicas graves. A família tem que ser incluída porque adoece
junto, desde o diagnóstico, e o processo pode desintegrar ou fortalecer os
laços afetivos.
A doutora Ana Claudia atribui a
escolha desse campo de atuação ao fato de ter testemunhado o que a avó
enfrentou depois de amputar as pernas por causa de uma doença arterial. Ela
chegou a largar a faculdade de medicina na metade do quarto ano por não
suportar a agonia dos doentes, como relata:
“Durante a faculdade, quando via
alguém morrendo em grande sofrimento (e, num hospital, isso acontece quase
sempre), eu perguntava o que era possível fazer, e todos diziam: nada. Isso não
descia. Esse ‘nada’ ficava engasgado no meu peito”. É justamente onde atuam os cuidados
paliativos: mesmo que o tratamento não vá mais surtir efeito, ainda há muito o
que fazer pelo ser humano que está ali.
No curso de medicina não se fala
sobre a morte, ele é voltado para curar. Para a autora, isso é um grave senão
na formação do profissional. “O médico que foi treinado sob o conceito ilusório
de ter poder sobre a morte está condenado a se sentir fracassado em vários
momentos da carreira”, diz. Ela diz que o desafio do médico é acertar na
avaliação e no tratamento da dimensão física sem sedar o doente: “infelizmente,
no Brasil, todo mundo pensa que fazer cuidados paliativos é sedar o paciente e
esperar a morte chegar”, critica.
A qualidade desse tempo que resta
fará toda a diferença. Tempo que servirá para a despedida dos entes queridos
ou, se houver condições para isso, até participar de um evento marcante como,
por exemplo, a formatura de um neto. Como ensina a médica:
“O que mata é a doença, e não a
verdade sobre a doença. Quando pergunto em uma aula quem gostaria de saber a
verdade sobre uma doença grave, a maioria levanta a mão dizendo que sim. Então
já aviso: conversem com seus filhos, amigos, família, sobre esse desejo. Porque
na hora que migramos para a condição de doente, quase todos à nossa volta nos
considerarão incapazes de viver o que precisamos viver.”
Fonte:
http://g1.globo.com/bemestar/blog/longevidade-modo-de-usar/post/cuidados-paliativos-tudo-fazer-quando-nao-ha-mais-nada-fazer.html
Nenhum comentário: