Prática da Psicologia Baseada em Evidência no contexto do Cuidado Paliativo

Postado pro Beatriz Reis

Neste mês, o blog está abordando o tema da Prática da Psicologia Baseada em Evidência (PPBE) no contexto do Cuidado Paliativo (CP). Tais cuidados se caracterizam pela assistência a pacientes, bem como aos familiares, com doenças sem possibilidade de cura ou crônicas, a partir da prevenção e do alívio do sofrimento físico e emocional.
O post de hoje abordará como isto se dá na prática. Para tanto, retoma-se o que foi apresentado no último post sobre PPBE. Lá, foi visto que esta temática constitui-se como uma prática que visa nortear a tomada de decisões na atuação profissional, tendo sido concebida pela American Psychological Association como a estratégia que proporciona a integração da melhor evidência de pesquisa disponível com a experiência prática no contexto das características do paciente, de sua cultura e suas preferências. Foi apresentado também que a PBE não considera como secundário o conhecimento adquirido pela experiência do profissional ou o trazido pelo cliente a respeito de sua individualidade. Muito pelo contrário, considera estas duas fontes de conhecimento como pertencentes ao processo de tomadas de decisões. Por esta razão, preocupa-se em incorporar neste mesmo processo o conhecimento científico atualizado. Deste modo, o processo de decisão baseado em evidências científicas envolve três etapas: 1- a formulação da pergunta de pesquisa originária da prática profissional; 2- a busca pela melhor evidência científica utilizando uma postura crítica sobre a mesma; e 3- a integração desta evidência ao conhecimento tácito, adquirido com a experiência profissional, bem como com as características da demanda do cliente. Este processo favorece a tomada de decisão sobre a atuação prática de modo a minimizar as chances de erro.
Utilizando-se desta estratégia para a tomada de decisões sobre a assistência psicológica em CP, mais especificamente aos familiares dos pacientes, recorreu-se à literatura para colher evidências a respeito desta assistência. Foi encontrado um estudo que realizou uma revisão integrativa da literatura sobre a atenção psicossocial oferecida a familiares enlutados no cenário da oncologia pediátrica. Entre seus resultados, destacam-se as seguintes possibilidades de assistência:
1- Assistência preventiva: a partir da avaliação da experiência de luto antecipatório por meio da aplicação da escala de Luto antes da ocorrência do óbito do familiar. Quanto a isso, estudos já indicam o efeito positivo relativo à experiência de antecipação do luto para a adaptação desta condição, posteriormente. Logo, considerou-se que acompanhar individualmente os pacientes e familiares ao longo do processo de morrer se mostra como uma boa opção de atenção. Ainda sobre o modo de assistência preventiva relativa à antecipação do luto, evidenciou-se que a possibilidade de discutir a evolução e o prognóstico da criança com o médico responsável e ter acesso aos profissionais de saúde mental, psicólogos e psiquiatras, ao longo do adoecimento e no final de vida da criança, facilitou a elaboração da perda por parte dos pais e irmãos.
2- Assistência aos familiares no momento do óbito do paciente: estudos indicam que tal assistência traz efeitos positivos que duram nos primeiros 5 anos de lutos. Esta prática tem o caráter psicoeducativo e estruturado, abordando estratégias e informações para enfrentamento do processo de luto.
3- Assistência após o óbito: alguns estudos indicam que sintomas graves de luto podem ser aliviados com tratamento psicofarmacológico e/ou intervenção psicoterapêutica, em nível individual ou grupal. Por esta razão, considera-se importante apresentar aos familiares os serviços comunitários disponíveis, bem como sugerir a participação em grupos terapêuticos focais para promover apoio mútuo entre pais e filhos sobreviventes. Também é possível  recorrer ao uso de narrativas e relatos de histórias sobre o luto para facilitar o processo de elaboração. Acredita-se que esta estratégia de recuperar características da pessoa falecida, das circunstâncias de sua morte, dos eventos anteriores e posteriores à perda, do impacto nos membros da família e do aprendizado obtido ao longo desse processo pode auxiliar na definição do percurso emocional do enlutado e, assim, contribuir para a definição dos focos da intervenção.
Dado o exposto, compreende-se que o estudo em questão traz boas evidências sobre atuação da Psicologia na assistência aos familiares de pacientes pediátricos que experienciam o processo de luto. Porém, para que se utilize tais evidências como referência para a prática profissional, com base na PPBE, julga-se importante agregar tais informações ao que o profissional já tem como experiência prática e ao contexto e demandas dos familiares assistidos. Sendo considerado como uma pratica pouco assertiva a mera reprodução da assistência mencionada pela literatura, cabendo ao profissional assumir sempre uma postura crítica acerca de tais menções.



Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.