Religiosidade e qualidade de vida relacionada à saúde dos idosos em um município na Bahia, Brasil
Santos, N. C., & Abdala, G. A. (2014). Religiosidade e
qualidade de vida relacionada à saúde dos idosos em um município na Bahia,
Brasil. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 17(4),
795-805.
Resenhado por Maísa Carvalho
Sabe-se que a religiosidade é tida como um elemento deveras
significativo para muitos idosos, tanto em termos existenciais quanto em termos
de saúde e qualidade de vida, visto que é utilizada como uma importante
estratégia de enfrentamento para muitas situações. Em sua definição, entende-se
por religiosidade como comportamentos, atitudes, valores, crenças, sentimentos
e experiências favorecidas por um contexto religioso, podendo ser dividida em
três dimensões: religiosidade organizacional (RO), que consiste em
comportamentos religiosos que ocorrem dentro de uma instituição; religiosidade
não organizacional (RNO), relacionada a comportamentos privados ou informais
que ocorrem fora de uma instituição; e religiosidade intrínseca (RI), que é a
percepção individual a respeito da religiosidade e de como ela se manifesta na
vida do sujeito.
Ao compreender que indivíduos adeptos de alguma religião
possuem menor probabilidade de riscos comportamentais, o presente estudo buscou
avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde de idosos e sua relação com as
três dimensões de religiosidade mencionada. O estudo foi realizado no bairro Capoeiruçu, situado
no município de Cachoeira-Bahia, e contou com uma amostra aleatória de 82
idosos cadastrados na Estratégia de Saúde da Família da comunidade mencionada,
em sua maioria do sexo feminino (61%) e com média de 71 anos de idade. Foram
utilizados como instrumentos o Índice de Religiosidade de Duke e o Short
Form-36 (SF-36). Os dados foram tratados e analisados pelo programa de pacotes
estatísticos SPSS (versão 17).
No que se refere aos resultados das três dimensões
do Índice de Religiosidade de Duke, 37% dos idosos frequentam a igreja, templo
ou encontro religioso mais de uma vez na semana [dimensão RO], 43% dedicam seu
tempo a realizar atividades individuais (preces, rezas, meditações, etc) mais
de uma vez ao dia [dimensão RNO] e 67% dizem ser totalmente verdade de que
sentem a presença de Deus ou do Espírito Santo em suas vidas, 52,4% afirmam que
é totalmente verdade que suas crenças religiosas estão por trás da maneira de
viver e 48,8% também afirmam que é totalmente verdade que se esforçam muito para
viver a religião em todos os aspectos da vida [dimensão RI].
Quanto ao SF-36, os participantes obtiveram escore
maior que 50 em todas as 8 dimensões da escala, a saber: capacidade funcional
(81,7%), aspectos físicos (61,4%), dor (70,7%), saúde geral (74,5%), vitalidade
(74,7%), aspectos sociais (75,9%), aspectos emocionais (83,1%) e saúde mental
(83,8%). Na associação entre os dois instrumentos utilizando o teste do
qui-quadrado, se constatou que “limitações por aspectos emocionais” foi a
dimensão que esteve mais associada com à RO (X² = 11,534; p = 0,001), RNO (X² =
7,949; p = 0,005) e RI (X² = 5,126; p = 0,005). Também foi encontrada uma
associação positiva sobre as dimensões “limitações por aspectos físicos”,
“dor”, “saúde geral”, “aspectos sociais” e “saúde mental”.
Os resultados encontrados evidenciaram que os idosos
estudados tem a religiosidade como um elemento importante em suas vidas, bem
como possuem um elevado índice de qualidade de vida. Além disso, foi encontrada
uma associação positiva entre os dois construtos, demonstrando que a presença
da religiosidade pode contribuir para uma melhor qualidade de vida. Sendo
assim, compreende-se a importância da realização de novos estudos sobre essas
duas temáticas na área da Psicologia da Saúde, visto que
as práticas religiosas podem servir como bons elementos terapêuticos para esse
e outros grupos.
Nenhum comentário: