Doença grave e os desfechos em longo prazo ao redor do mundo
Righy, C. (2019). Doença grave e os desfechos em longo prazo ao redor do mundo. IN: Teles, J. M. M., Teixeira, C. & Rosa, R. G. (Eds.), Síndrome pós-cuidados intensivos: como salvar mais do que vidas. AMIB.
Resenhado
por Danielle Alves Menezes
Doença
grave é compreendida como um conceito múltiplo, que envolve comorbidades, condições
heterogêneas de saúde que necessitam de suporte de vida avançado. O aumento de
sobreviventes da doença grave em unidades de terapia intensiva (UTIs) tem
despertado interesse científico sobre sequelas após alta hospitalar e retorno
desses indivíduos à família e à sociedade.
Repercussões
duradouras e progressivas dessas condições, em diversos aspectos da vida desses
pacientes, levaram a Society of Critical
Care Medicine, em 2012, a ampliar o alcance do conceito para englobar
mudanças cognitivas e mentais, o que foi denominado de PICS (Post Intensive Care Syndrome), assim
como impactos sobre a família (PICS-F). De acordo com os estudos analisados
pelos autores, relacionam-se como principais desfechos associados à PICS, a longo
prazo, disfunções cognitivas, limitações físicas e sequelas psiquiátricas.
Disfunções
cognitivas tiveram incidência entre 4% e 62%, em período de follow-up que variou entre 2 e 152
meses. Apesar da variabilidade indicar possível diversidade de critérios
diagnósticos, não diminui a importância das consequências desse tipo de
sequela, pois estima-se que o custo social fique em torno de R$18 bilhões por
ano. Como fatores de risco durante a internação, o delirium é o mais constantemente associado,
ao lado de fatores de risco considerados não modificáveis, como idade, nível
educacional, comorbidades, gravidade da doença e sepse. Delirium é uma alteração do nível de consciência, e diz respeito a
uma síndrome confusional aguda (Dalgalarrondo, 2019).
Quanto
aos desfechos físicos, foram observadas importantes alterações da
funcionalidade, demonstradas por limitações da atividade, restrição da
participação e modificação da estrutura e funções do corpo. Além dessas, são
citadas: diminuição da função pulmonar, redução da força dos músculos
respiratórios, reduzida habilidade de realizar atividades da vida diária e
diminuição da habilidade de dirigir e de voltar ao emprego. Fadiga também é
frequentemente relatada por sobreviventes e, na literatura, está associada à
presença de ansiedade, depressão, dor e disfunção cognitiva.
Dentre
as sequelas psiquiátricas, são notadamente associadas ansiedade, depressão e
transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Prevalência de ansiedade pode
variar desde 5% até 7% em sobreviventes, sendo comum entre 2 a 3 meses após
alta. Relacionados ao desenvolvimento desse transtorno se encontram reações de estresse
agudo, pesadelos intensos ou medo extremo durante a internação. Presença de
traço estável de ansiedade em pacientes também se mostrou relevante. Depressão
foi comum após alta entre 29% e 30% dos pacientes, e teve como principal fator
de risco ter tido reação de estresse psicológico agudo na UTI. O TEPT foi
identificado em cerca de 20% dos sobreviventes, taxa comparável à de
sobreviventes de guerras civis (26%). Dentre os fatores de risco para TEPT
estão presença de psicopatologia prévia, uso de benzodiazepínicos e memórias
assustadoras da experiência de UTI.
Apesar
da relevância crescente do tema, são escassos estudos com qualidade suficiente
para detectar outros impactos, ou mesmo magnitude desses eventos, na vida dos
sobreviventes e seus familiares. Esses dados são relevantes e apontam para o
campo de investigação e análise a ser explorado pela psicologia da saúde, a fim
de contribuir para maior planejamento de ações em saúde e para o
desenvolvimento de métodos de intervenção que possam reinserir essa população
em seu contexto.
Nenhum comentário: