O estresse e a saúde mental de profissionais da linha de frente da COVID-19 em hospital geral
Horta, R. L., Camargo, E. G., Barbosa, M. L. L., Lantin, P. J. S., Sette, T. G., Lucini, T. C. G., Silveira, A. F., Zanini, L., & Lutzky, B. A. (2021). O estresse e a saúde mental de profissionais da linha de frente da COVID-19 em hospital geral. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 70(1), 30-38. https://doi.org/10.1590/0047-2085000000316
Resenhado por Franciely Santos
Profissionais de linha de frente são aqueles que atuam diretamente na
assistência aos pacientes na pandemia, esses encontram-se mais vulneráveis
aos efeitos psicossociais nesse momento. Dentre as causas que agem para o
agravamento dos efeitos negativos sobre esses profissionais estão: vacinas
insuficientes, falta de equipamentos de proteção individual, longas horas de
trabalho e elevado número de mortes. Acompanhar esses efeitos é imprescindível
para garantir aos profissionais intervenção e suporte adequado em saúde mental
quando necessário.
O conhecimento a respeito de como os profissionais estão reagindo a excessiva
sobrecarga e constante estresse nesse período crítico é de suma importância
para identificar possíveis mecanismos de enfrentamento que amenizem os danos
presentes e futuros, de forma que seja possível o cumprimento do papel desses
profissionais e manutenção da saúde dos mesmos.
O estudo em questão visou investigar as consequências na saúde mental
daqueles que estão na linha de frente do enfrentamento à pandemia. Tratou-se de
um estudo transversal de abordagem mista, com profissionais que atendem pacientes
diagnosticados com COVID-19 em um hospital da rede pública de saúde.
Participaram da amostra 123 pessoas, a coleta se deu em um momento crescente no
número de casos, hospitalizações e mortes, no período de 11 de junho a 14 de
agosto de 2020. Utilizou-se os seguintes instrumentos: Self-Reporting
Questionnaire (SRQ-20), o Perceived Stress Scale (PSS) e o Oldenbur
Burnout Inventory (OBI), para observar os escores de ocorrência de
transtornos mentais comuns, percepção de estresse e ocorrência de burnout,
respectivamente. Dos 123, 10 participantes aceitaram colaborar com outra etapa,
na qual poderiam explanar suas percepções a respeito da pandemia de forma
livre.
Conforme os resultados encontrados, 40% dos participantes obtiveram
escores compatíveis com transtornos mentais comuns. Em se tratando de exaustão,
60% da amostra atingiram os escores. Em 41% dos respondentes estava presente o burnout.
As mulheres constituíram 81% dos que estavam em atividade na linha de frente,
com idade média de 37,4 anos. A média de horas trabalhadas foi de 51, o que
representa8 horas/semana. Do total da amostra, 68% relataram ter feito a
testagem para COVID-19, 25% tiveram resultado positivo. Somente 9% constou
estar em atendimento psicoterápico, enquanto 13% faziam uso de psicofármacos.
Nas entrevistas abertas os dados também indicaram efeitos psicossociais, como
sofrimento psíquico, medo, estresse e insegurança.
Com base nos dados, observou-se que
a pandemia desencadeou sofrimento psíquico entre os profissionais de saúde que
lidam diariamente com pacientes de COVID-19. Dentre as possíveis explicações
para o adoecimento estão: a carga elevada de trabalho, o medo de ser infectado
e/ou infectar a família, a insegurança sobre o futuro e o estresse provocado
pela rotina de paramentação de equipamento de proteção individual.
Esta pesquisa contribui à Psicologia
da Saúde por apresentar dados atuais a respeito dos impactos na saúde mental causados
pela pandemia nos profissionais de saúde. Diante do exposto é fundamental que a
Psicologia da Saúde ajude a elaborar diretrizes que visem a promoção de saúde
mental e prevenção de transtornos mentais entre os profissionais de saúde a fim
de reduzir o sofrimento psíquico e exaustão.
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