Mudanças na regulação emocional em tempo real e perda de controle alimentar

 

 

Stevenson, B. L., Wilborn, D., Kramer, M. P., & Dvorak, R. D. (2019). Real-time changes in emotion regulation and loss of control eating. Journal of Health Psychology, 26(4), 556-566. https://doi.org/10.1177/1359105318823242

 

Resenhado por Brenda Fernanda

 

Dificuldades na regulação emocional são componentes importantes na manutenção da perda de controle alimentar. O comer compulsivo é sintoma fundamental em dois dos mais comuns transtornos alimentares no DSM: transtorno de compulsão alimentar e bulimia nervosa. A alimentação compulsiva é composta por dois elementos: comer uma quantidade consideravelmente grande de comida e sensação de perda de controle sobre a alimentação. A perda de controle alimentar, sobretudo, implica em prejuízo funcional e sofrimento. Algumas explicações teóricas para a alimentação compulsiva são os modelos de regulação das emoções (RE). Acredita-se que a compulsão alimentar regula o afeto negativo para quem come, de modo que o afeto negativo aumenta antes do episódio compulsivo e diminui após o episódio, ou até mesmo durante o episódio. Este estudo buscou examinar a relação entre as dificuldades de RE e a perda de controle alimentar em tempo real.

Uma primeira fase de rastreio online foi realizada, na qual 1345 participantes responderam um questionário sobre compulsão alimentar. Na fase 2, 75 pessoas participaram de uma entrevista clínica baseada nos critérios diagnósticos do DSM, para detectar transtornos alimentares e psicose e obter informações detalhada sobre o comportamento de perda de controle alimentar. Foram para a fase 3 50 respondentes, na qual receberam um tablet equipado com um aplicativo para sinalizar os participantes em intervalos aleatórios para responder aos questionários. Cinco participantes foram excluídos da amostra e, dos 45 respondentes restantes, 73,0% eram universitários e 27,0% pessoas da comunidade, 73,0% mulheres, 91,5% pessoas brancas, com idade média de 23,73 anos (DP = 6,30).

Os participantes se envolveram em um episódio de perda de controle alimentar em 54,5% dos dias registrados. As habilidades de RE permaneceram estáveis em dias sem perda de controle, mas houve um aumento significativo nas dificuldades de RE após episódios de perda de controle alimentar. Tais achados sugerem que os aumentos nas dificuldades de RE não são responsáveis pelo início da perda de controle da alimentação. Os dados também indicaram que 46% da variabilidade na RE ocorreu dentro da pessoa, apoiando a importância de investigar a regulação emocional como uma variável a nível de estado.

Concluiu-se que os padrões de desregulação emocional ocorreram em decorrência da perda de controle alimentar, ao invés de funcionar como um fator precipitante para os episódios compulsivos. Este estudo se mostra relevante para a psicologia da saúde porque associa um construto cognitivo a um quadro clínico. O foco da psicologia da saúde é estudar e intervir nos aspectos psicológicos associados ao adoecimento, portanto, a partir do entendimento da relação entre RE e transtornos alimentares, torna-se possível pensar em intervenções com foco em estratégias de RE mais saudáveis, pensando também em melhorar os episódios de compulsão. Apesar de os achados deste estudo não identificarem as dificuldades de RE anteriormente aos episódios de compulsão, a literatura tem sinalizado que a relação entre esses dois fenômenos se dá de forma bilateral, de modo que um alimenta o outro. Ou seja, a desregulação das emoções leva a episódios compulsivos, da mesma forma que os episódios compulsivos impactam na regulação das emoções.



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