Enfrentamento parental como amortecedor entre fatores infantis e parentalidade empática em famílias de crianças com Transtorno do Espectro Autista

 

Alostaz, J., Baker, J. K., Fenning, R. M., Neece, C. L., & Zeedyk, S. (2021, May 20). Parental coping as a buffer between child factors and emotion-related parenting in families of children with Autism Spectrum Disorder. Journal of Family Psychology. Advance online publication. http://dx.doi.org/10.1037/fam0000757

 

Resenha por Ana Beatriz A. Silveira

 

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno de neurodesenvolvimento caracterizado por déficits na comunicação social e pela presença de comportamentos restritos e repetitivos. Em estudos anteriores, pais de crianças com TEA relataram maiores níveis de estresse comparados a pais de crianças neurotípicas e pais de crianças com outras deficiências. Apesar de muitos fatores estarem por trás desse estresse, os sintomas do TEA e os problemas de comportamento são os que mais se destacam. Em decorrência disso, o comportamento parental pode ser afetado, o que consequentemente poderia exacerbar as dificuldades da criança ao longo do tempo. No entanto, observou-se também que apesar de os fatores estressores estarem presentes na vida das famílias, algumas conseguiam se adaptar melhor à situação, o que fez com que surgissem esforços para entender os processos de resiliência dessas famílias.

O presente estudo, então, objetivou examinar se o enfrentamento adaptativo dos pais seria moderador de associações entre estressores associados aos sintomas do TEA e problemas de comportamento dos filhos e a parentalidade empática nas famílias com crianças com TEA. Foi realizado um estudo transversal, que aproveitou a amostra de um estudo maior sobre a interação entre a parentalidade e a regulação de crianças em famílias de crianças com TEA. Os participantes foram familiares, principalmente mães (95%), de 63 crianças de 6 a 10 anos, meninos, em sua maioria (79%), que tiveram o diagnóstico de TEA confirmado pelo instrumento ADOS-2, uma avaliação semiestruturada que permite o registro de comportamentos infantis relacionados à linguagem, comunicação social, brincadeira, comportamentos repetitivos e interesses restritos. Foram respondidos questionários relativos ao diagnóstico, ao Quociente de Inteligência da criança, aos seus problemas de comportamento, ao enfrentamento dos pais e às reações deles às emoções das crianças.

O enfrentamento adaptativo mostrou-se não apenas compensatório na manutenção de reações empáticas com os sentimentos das crianças, como também potencialmente amortecedor dos efeitos dos problemas de comportamento neste aspecto, tendo como tipo de enfrentamento significativo o planejamento ativo. No entanto, não houve significância do enfrentamento adaptativo em relação a reações não empáticas dos pais, o que sugere que um enfrentamento não adaptativo apenas diminua as reações empáticas ao invés de provocar reações punitivas. Já em relação aos sintomas do TEA, o enfrentamento adaptativo não aparece como amortecedor dos efeitos dos estressores na parentalidade em reações empáticas nem em reações não empáticas, não havendo significância na correlação entre estes fatores. Finalmente, o nível de QI das crianças se mostrou relacionado com o nível de enfrentamento adaptativo dos pais.

Uma das áreas de atuação da Psicologia da Saúde é a intervenção em situação de dificuldades de ajustamento à condição da doença, o que é uma realidade para muitas famílias de crianças com TEA. Dito isso, estudar as estratégias de enfrentamento utilizadas e seus efeitos na dinâmica familiar se mostra de vital relevância a fim de elaborar intervenções eficazes que possam trazer melhores resultados no manejo do estresse relacionado.

 


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