Transtorno do espectro autista: Onde estamos e para onde vamos
Schmidt,
C. (2017). Transtorno do espectro autista: Onde estamos
e para onde vamos. Psicologia Em Estudo, 22(2), 221–230.
https://doi.org/10.4025/psicolestud.v22i2.
Resenhado por Luanna Silva
Definido como uma desordem neurobiológica
complexa e multifatorial, o autismo foi incialmente descrito em 1943 por Leo
Kanner. Baseado nas observações de seus pacientes, Kanner relatou um quadro de
incapacidade de se relacionar com outras pessoas, dificuldade no
desenvolvimento da linguagem, tendência para interpretação literal e
sensibilidade sensorial. No ano seguinte, Hans Asperger publicava artigo
descrevendo condição semelhante, mas manifestada de forma mais branda, a qual
denominou psicopatia autista. O autismo surge como categoria nosográfica apenas
na terceira edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
(DSM) e desde então houve um aprimoramento contínuo para o diagnóstico atual
presente no DSM-5. Adotou-se uma perspectiva dimensional, abandonando
categorias diagnósticas isoladas, reunindo sob a classificação de Transtorno do
Espectro Autista (TEA) o conjunto de transtornos caracterizados pelo déficit de
comunicação social e comportamentos sensório-motores repetitivos e incomuns.
Apesar do destaque e notoriedade recebidos
nos últimos anos, tornando-se objeto de intensa investigação, a base patológica
do TEA continua desconhecida. Não se atribui a esse quadro uma etiologia
definitiva, oriunda de determinado agente genético ou ambiental, antes há uma
tendência a reconhecer essa condição como resultado de uma complexa combinação
de fatores. A identificação de elementos genéticos e neurobiológicos relevantes,
assim como fatores de risco para esse transtorno tem sido percebida como um
progresso importante.
Por conta da falta de marcadores
biológicos, o diagnóstico de TEA continua sendo clínico, baseando-se, portanto,
em observações de manifestações comportamentais. Dada as dificuldades de
comunicação e de comportamento do indivíduo, que sofre com esse transtorno, o
processo de avaliação pode ser desafiador e envolve o esforço de uma equipe
multiprofissional que conheça o paciente e o observe em diferentes contextos. Adicionalmente,
um trabalho colaborativo com a família da criança deve ser empreendido a fim de
que a avaliação alcance os melhores resultados. Quanto as possibilidades de tratamento
baseados em evidências, as intervenções comportamentais são consideradas a primeira
escolha, tendo por objetivo melhorar o comportamento socialmente adaptável e a
aquisição de novas habilidades.
Ao longo dos últimos anos, o aumento do
número de casos de autismo tem sido relatado de forma consistente na literatura.
Os motivos pelos quais isso tem ocorrido ainda não estão completamente claros.
Contudo, acredita-se que a maior sensibilidade das ferramentas diagnósticas e o
aumento da disseminação de informação sobre a condição entre médicos,
educadores e a população em geral tenha contribuído para a expansão das taxas
de prevalência desse transtorno.
A despeito dos avanços conquistados, ainda
há muito a compreender sobre o autismo, sendo essa uma temática de interesse
para pesquisadores da psicologia da saúde, os quais podem contribuir para a
ampliação do conhecimento científico sobre TEA.
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