Os questionários de avaliação da fala interna são confiáveis e válidos?

 

Uttl, B., Morin, A., & Hamper, B. (2011). Are inner speech self-report questionnaires reliable and valid? Procedia-Social and Behavioral Sciences30, 1719-1723. https://doi.org/10.1016/j.sbspro.2011.10.332

Resenhado por Maísa Carvalho

A fala interna – também nomeada como “discurso privado”, “falar sozinho”, “diálogo interno” etc. – é um pensamento verbal silencioso que possui um papel importante em comportamentos e processos de autorregulação. Pode ser tanto funcional quanto disfuncional e, assumindo esse último viés, está relacionada a transtornos psiquiátricos, como transtornos de ansiedade, transtornos depressivos, esquizofrenia, dentre outros. Atinente às suas formas de mensuração, há, na literatura, diversos instrumentos para medir esse fenômeno, todavia, muitos deles também discutem sobre as propriedades psicométricas dessas medidas. Nesse contexto, o presente estudo objetivou, de forma geral, examinar a confiabilidade e a validade dos instrumentos existentes para medir a fala interna. Como objetivos específicos, o estudo buscou avaliar a validade das respostas desses questionários com os relatos dos participantes e, além disso, avaliar a relação entre a fala interior e diferenças individuais na ruminação, personalidade, inteligência verbal, episódios recentes de vida e reflexão.

Participaram do estudo 380 universitários com idade média de 21,3 anos e 83% desse público composto por mulheres. Os instrumentos utilizados foram o The Inner Speech Report, o The Self-Verbalization Questionnaire (SVQ), o The Self-Talk Scale (STS), o The Inner Speech Scale (ISS), o The Self-Talk Inventory (STI), o The Rumination-Reflection Questionnaire (RRQ), o The NEO Five Factor Inventory (NEO FFI), o The Recent Life Changes Questionnaire (RLCQ) e o The Words/A40. Os quatro últimos avaliam, respectivamente, a ruminação, a personalidade, as mudanças de vida recentes e o idioma. O restante das medidas mensura a fala e/ou discurso interno. Os estudantes responderam a esses instrumentos coletivamente e subdivididos em pequenos grupos.

Os resultados apontaram que as medidas utilizadas para mensurar a fala interna apresentaram boa confiabilidade através do alpha de cronbach, possuindo escores que variaram de 0.81 a 0.91. Dentre as escalas, a maior correlação observada foi entre a Self-Talk Scale e a Inner Speech Scale. As outras correlações entre o restante das escalas foram fracas, indicando a falta de validade convergente entre essas medidas. Por fim, os autores concluíram que embora as medidas de fala interna utilizadas terem apresentado boa confiabilidade, a validade dessas escalas é limitada.

Sabe-se que a fala interna apresenta relações importantes entre desajustes psicológicos e algumas psicopatologias, sendo, portanto, um processo que necessita de estudos mais aprofundados e também do desenvolvimento de instrumentos que consigam captá-la em diferentes aspectos. Pesquisas com o foco em Psicologia da Saúde e Psicologia Clínica teriam ganhos interessantes, visto ser a fala ou discurso interno uma variável que pode ser bastante comum na população e que pode interferir na saúde mental das pessoas.

 


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