Resiliência em famílias de crianças com Transtorno do Espectro Autista
Rethinking resilience in families of children with autism spectrum disorders
Gunty, A. L. (2020). Rethinking
resilience in families of children with autism spectrum disorders. Couple and Family Psychology: Research and
Practice,
10(2), 87-102. http://dx.doi.org/10.1037/cfp0000155.supp.
Resenhado por Luíza Ramos
O Transtorno do Espectro Autista
(TEA) é um transtorno do desenvolvimento neurológico caracterizado por déficits
nas habilidades sociais e pela presença de padrões repetitivos e restritos de
comportamento. Apesar do estresse decorrente dessa característica do
transtorno, algumas famílias de crianças com TEA vivem uma condição tão
saudável quanto outras famílias. Isso indica bons níveis de resiliência
familiar, processo pelo qual as famílias que estão passando por estressores
significativos trabalham para equilibrar esses estressores e os recursos
disponíveis, enquanto se envolvem na construção de significado, permitindo, portanto,
resultados positivos apesar dos estressores que enfrentam. Assim, a teoria da
resiliência familiar pode ampliar a compreensão do funcionamento e adaptação
das famílias de crianças com TEA. O objetivo do texto foi fazer uma revisão
sistemática incluindo uma análise do que é conhecido sobre a resiliência
familiar em famílias de crianças com TEA e fornecer uma integração teórica para
o estudo dessa temática.
O foco
principal baseou-se em três elementos da resiliência: estressores, recursos e
construção de significado. Em relação aos estressores, nota-se a necessidade de
serviços específicos de tratamento e apoios, que pode representar um fardo
econômico para a família por meio de custos diretos. A presença de certos
recursos melhora o funcionamento das famílias, visto que o apoio formal de
escolas e outros profissionais, a comunicação familiar positiva, as rotinas
consistentes e o tempo da família juntos contribuem para a diminuição da tensão
familiar e o melhor funcionamento da família. Já sobre a construção de
significado, a resiliência é aumentada quando as famílias são capazes de
reconhecer as características positivas da criança com TEA, de reformular os
problemas positivamente, de identificar os pontos fortes da família e cultivar
a autoeficácia dos pais. Sendo assim, quando os estressores superam os recursos
na presença da construção de significado, o bem-estar familiar fica
comprometido.
A teoria
mais comumente representada é o modelo ABCX duplo de resiliência familiar, que
consiste em fases dentro do processo de resiliência. Inicialmente, existe um
estressor (A) que interage com os recursos existentes (B) e a percepção da
família (C) sobre o estressor. Se o estressor ultrapassa os recursos, a família
vivencia uma crise (X). Em uma segunda fase do modelo, se os estressores
continuam após a crise, a família experimenta um acúmulo de estressores. Em
seguida, as estratégias de enfrentamento da família interagem com o acúmulo de
estressores para levar a um resultado positivo, a boa adaptação. Entretanto, os
estudos geralmente não usam a teoria além disso, colocando a responsabilidade
pela resiliência na família, já que não considera as restrições contextuais.
As teorias
mais úteis para integrar a compreensão atual da resiliência familiar de crianças
com TEA são a teoria do estresse minoritário e a teoria ecológica. A primeira
considera que crianças de grupos minoritários são mais propensas a receberem
diagnóstico em uma idade mais avançada e terem acesso a serviços de intervenção
de qualidade, além de experimentarem mais estressores no cotidiano. A teoria
ecológica enfatiza a necessidade de prestar atenção às maneiras pelas quais os
indivíduos estão em um ciclo de feedback constante com seus ambientes. Por fim,
considerar os diferentes elementos da resiliência familiar é fundamental para a
Psicologia da Saúde uma vez que pode orientar efetivamente as decisões sobre
quais intervenções, serviços e apoios são melhores para cada família.
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