Ortorexia nervosa e imagem corporal em adolescentes e adultos
Lopes, L.F., Minossi, P.B.P., & Pegolo, G.E. (2020). Ortorexia nervosa e imagem corporal em adolescentes e adultos. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 69(2), doi: https://doi.org/10.1590/0047-2085000000266
Resenhado por
Ariana Moura
Ortorexia nervosa é o termo que designa
indivíduos excessivamente preocupados com o consumo de alimentos saudáveis.
Esse quadro inicia-se de maneira sutil, a partir do desejo de corrigir hábitos
alimentares entendidos como ruins ou de melhorar a saúde como um todo. Todavia,
conduz a pessoa a desenvolver características comportamentais associadas à
obsessão pela pureza da alimentação, lutando repetidamente contra o consumo de
alimentos com substâncias consideradas impuras.
Cabe registrar que até o momento a
ortorexia não está incluída no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-V). No entanto, a fim de compreender e melhor categorizar a
ortorexia, destaca-se a sobreposição de sintomas incluídos nos quadros de
transtorno obsessivo-compulsivo, na anorexia nervosa e na bulimia nervosa,
sendo os principais sintomas comuns a ansiedade, a restrição de determinados
alimentos, o perfeccionismo e a adoção de comportamentos ritualísticos. Por
outro lado, são elencados sintomas exclusivos da ortorexia, especialmente a
obsessão por ser saudável ou mais saudável e o sentimento de superioridade e
aumento do senso de retidão, sintoma não associado a outros distúrbios
alimentares.
O objetivo da pesquisa foi identificar a
frequência do comportamento de risco para ortorexia nervosa e associar com o
estado nutricional (classificação do peso corporal) variáveis sociodemográficas
e imagem corporal. A amostra foi composta por indivíduos com idades entre 18 e
60 anos e tratou-se de um estudo transversal constituído por indivíduos de
ambos os sexos. Utilizou-se o questionário ORTO-15 para a identificação de
comportamentos de risco para ortorexia e a Escala de Silhuetas para a imagem
corporal. O estado nutricional foi avaliado por meio do índice de massa
corporal (IMC), com peso e altura autorreferidos. Participaram do estudo 430
indivíduos, sendo 56,7% mulheres, com idade para ambos os sexos entre 18,1 e
59,9 anos.
Nos resultados, observou-se que o estado
nutricional não esteve associado ao comportamento ortoréxico, bem como à imagem
corporal, em ambos os sexos. A idade entre 40 e 60 anos associou-se com a
presença de ortorexia, enquanto não houve associação com as variáveis sexo,
escolaridade, estado civil e renda.
Em se tratando da associação entre idade e
o risco de ortorexia, é possível considerar que os mais jovens, especialmente
os adolescentes, não demonstram preocupação com a alimentação saudável. Nessa
faixa etária, a comida está associada com diferentes contextos e emoções, sendo
os vegetais e alimentos tidos como saudáveis vinculados às refeições com os
pais e ao maior autocontrole, ao passo que a comida não saudável é associada à
independência e à integração com outros adolescentes. Contudo, diante das
frequências constatadas, ressalta-se a importância de estudos direcionados para
o desenvolvimento/refinamento de instrumentos e para a identificação do risco
de ortorexia. Especialmente para a população brasileira, nos diversos estágios
de vida e em segmentos não pertencentes aos grupos de risco, com o intuito de
conscientização e prevenção de possíveis malefícios à saúde.
Na atualidade, sobretudo, nas redes
sociais observa-se uma tendência à obsessão por alimentos naturais. Manter uma
dieta equilibrada é fundamental para a saúde, no entanto, a linha que separa o
saudável do patológico é tênue. Pesquisas desse tipo auxiliam os psicólogos e
profissionais da saúde a observarem os comportamentos de risco para a ortorexia
e oferecer tratamento adequado aos seus pacientes.
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