Epidemiologia e fatores relacionados às doenças psiquiátricas em um centro de atenção psicossocial infanto-juvenil no interior do nordeste brasileiro
Pitaluga, E. M., Avancini, R. V. P.,
Avancini, G. S., Caetano, D. A. P., Soares, J. C., Guedes, K. S. A., &
Teixeira, L. M. (2020). Epidemiologia e fatores relacionados às doenças
psiquiátricas em um centro de atenção psicossocial infanto-juvenil no interior
do nordeste brasileiro. Revista Educação
em Saúde, 8(2), 64-73. https://doi.org/10.29237/2358-9868.2020v8i1.p64-73
Resenhado
por Brenda Fernanda
Os
transtornos mentais figuram como grande desafio para o cuidado em saúde
mundial, visto que 12% da população demanda algum tipo de atendimento em saúde
mental e 3% possuem transtornos mentais severos e persistentes, que necessitam
de acompanhamento. As crianças e adolescentes também fazem parte do público
afetado pelos problemas em saúde mental, sendo fundamental entender os fatores
de risco e proteção associados, visando a um melhor cuidado. Dentre os fatores
de risco, observa-se a influência dos aspectos sociais e emocionais que, em
situações de estresse, desencadeariam alterações no comportamento
infanto-juvenil. Quanto aos fatores de proteção, um ambiente familiar funcional
e a ausência de histórico familiar de doenças, atrelados à rede de apoio
saudáveis, são fundamentais para a manutenção da saúde mental de crianças e
adolescentes.
O
presente estudo objetivou identificar as condições psiquiátricas mais
prevalentes em pacientes atendidos pelo Centro de Atenção Psicossocial
Infanto-Juvenil (CAPSi) de Imperatriz, bem como associar os fatores que
poderiam estar relacionados ao aparecimento desses transtornos. Para tanto,
realizou-se uma investigação analítica-descritiva e retrospectiva a partir de
dados coletados dos prontuários obtidos no CAPSi. A amostra foi composta por
casos de pacientes de 2 a 12 anos admitidos ao longo do ano de 2017, sendo
excluídos pacientes que obtiveram alta médica. Finalmente, foram avaliados 120
prontuários.
A
idade dos casos avaliados teve média 6,53 (DP
= 2,90). Em relação ao sexo, observou-se maioria de meninos (n = 90; 75%). Foram levantadas 137
hipóteses diagnósticas, tendo algumas crianças recebido mais de um diagnóstico.
Os transtornos globais do desenvolvimento (F840) e transtornos hipercinéticos
(F90) ou de hiperatividade (R463) foram os mais prevalentes, sendo 39
diagnosticados para cada um deles. Além disso, foram observadas reações ao
estresse graves e transtornos de adaptação (F43) (n = 17), retardo mental leve (F70), moderado (F71) e grave (F72) (n = 14), transtornos ansiosos e fóbicos
(n = 13) e outros transtornos (n = 15).
Dentre
os fatores de risco observados na amostra, podem-se citar: ser menino aumenta
os riscos para transtornos globais do desenvolvimento e ser menina aumenta os
riscos para transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) e transtornos ansiosos.
Não ter como responsáveis pai e mãe foi fator de risco para o TEPT. Em relação
à presença pregressa de transtornos mentais na família (ocorrida em 55,8% dos
casos), observou-se risco para os transtornos ansiosos. Além disso, o
comprometimento do afeto e a vivência de traumas foi fator de risco e definidor
para o TEPT.
Conhecer fatores de risco e proteção
é fundamental para que se possa pensar em intervenções adequadas e num melhor
cuidado e assistência a crianças e adolescentes. Sendo o objetivo da psicologia
da saúde, sobretudo, a promoção da saúde mental frente ao adoecimento, tais
dados fornecem base importante para pensar em estratégias de cuidado
pertinentes tanto ao público infanto-juvenil quantos a seus cuidadores, que
constantemente são sobrecarregados com as demandas parentais e assistenciais.
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