Sobre a neurodiversidade do (no) amor.

 

Por Danielle Alves Menezes


De acordo com o DSM-V (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), prejuízos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertório restrito de interesses e atividades, compõem, na verdade, um continuum que varia de leve a grave, e não transtornos distintos. Esse conjunto de alterações, antes concebido como TGD (Transtorno Global do Desenvolvimento), hoje é denominado como TEA (Transtorno do Espectro Autista).

Ao pensarmos sobre TEA, é comum e frequente nos vir de forma quase automática o aspecto restritivo nas atividades de vida diária, especialmente no que diz respeito às habilidades sociais. Entretanto, uma série exibida desde julho de 2019 na Netflix chamada “Amor no espectro”, põe em xeque nossas concepções, convidam-nos a transitar fora das categorias diagnósticas e nos desafiam a pensar o TEA como neurodiversidade.

Pôr em pauta a neurodiversidade na compreensão sobre o TEA exige deslocamento da percepção das alterações como “prejuízo” para “diferença”, no caso, diferença neurológica, e, como toda e qualquer diferença, deve ser reconhecida e respeitada. A série em tela apresenta essa temática sem romantizações, abordando o aspecto mais paradoxal do humano: o dos relacionamentos amorosos. O formato em reality show envolve os espectadores de maneira viciante.  Mostra ainda o autismo de maneira real e como é possível conviver melhor ele quando há aceitação dessa condição, tanto pelas pessoas com esse diagnóstico, como pelos pais e, sem dúvida, pela sociedade.                                                                 

As lições que podem ser tiradas da série interrogam o limite das intervenções em saúde no seu aspecto meramente “corretivo” e nos convidam a pensar que o investimento em estratégias que busquem maior grau de “adaptação” talvez seja mais coerente com a noção atual de bem-estar psíquico.  Esse conceito é um construto da psicologia e diz respeito a possuir uma atitude positiva em relação a si mesmo e aceitar múltiplos aspectos de sua personalidade; possuir relacionamentos acolhedores, seguros, íntimos e satisfatórios com outras pessoas; ser autodeterminado, independente, avaliar experiências pessoais segundo critérios próprios; ter competência em manejar o ambiente para satisfazer necessidades e valores pessoais; ter senso de direção, propósito e objetivos na vida; perceber um contínuo desenvolvimento pessoal e estar aberto a novas experiências (Machado & Ruschel 2012).

 

Fontes:

Associação Americana de Psiquiatria. (2013). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5 ª ed.). https://doi.org/10.1176/appi.books.9780890425596.807874

Machado, W. L. B., & Ruschel, D. (2012). Bem-estar psicológico: Definição, avaliação e principais correlatos. Estudos de Psicologia, 29(4). https://doi.org/10.1590/S0103-166X2012000400013



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