Avaliação do coping da dor em crianças com Anemia Falciforme

 

Garioli, D. D. S., Paula, K. M. P. D., & Enumo, S. R. F. (2019). Avaliação do coping da dor em crianças com Anemia Falciforme. Estudos de Psicologia (Campinas)36. https://doi.org/10.1590/1982-0275201936e160079

Resenhado por Maria Heloísa

 

A Anemia Falciforme é uma das doenças genéticas e hemoglobinopatias mais comuns no Brasil e afeta o desenvolvimento emocional, social, comportamental e acadêmico do indivíduo. Decorrente da alteração das hemácias em forma de foice, a condição está associada à anemia crônica, infecções, cálculo biliar e dores que pode ocorrer em episódios que duram meses. Há indícios de que impactos psicológicos da Anemia Falciforme envolvem estratégias inadequadas para lidar com a dor, impactos na qualidade de vida, ansiedade e depressão. O coping é caracterizado como a “regulação da ação sob o estresse” e há macrocategorias de coping que podem ser usadas na avaliação psicológica da Anemia Falciforme: Percepção de desafio ou ameaça à necessidade de competência; Percepção de desafio ou ameaça à necessidade de relacionamento ou pertença e Percepção de desafio ou ameaça à necessidade de autonomia. Nesse sentido, o objetivo do estudo foi avaliar o coping da dor em crianças com Anemia Falciforme.

Participaram do estudo 12 crianças com diagnóstico da doença, entre 8 e 10 anos (M = 9; DP = 1,08) e suas cuidadoras, que frequentavam o ambulatório de Hematologia Pediátrica de um Hospital Universitário em Vitória (ES). A fim de se obter informações sobre a criança, a família e a doença, realizou-se uma entrevista de anamnese adaptada com as mães. Além disso, foi usado o Instrumento Informatizado de Avaliação do Enfrentamento da Hospitalização adaptado para a dor (AEHcomp-Dor), para identificar as estratégias de enfrentamento usadas pela criança e o nível de dor percebido foi mensurado pela Escala de Faces de Dor – Revisada – EF-R.

Nos resultados, encontrou-se que todas as crianças já tinham sido hospitalizadas por um período de 2 a 15 dias devido a problemas advindos da Anemia Falciforme. Os comportamentos mais identificados no AEHcomp dizem respeito a estratégias de enfrentamento mais adaptativas como a solução de problemas, com o ato de “tomar remédio”; busca de conforto, “rezar” e distração, com a atividade de “ver TV”. Já os comportamentos menos frequentes foram associados ao coping de evitação ou esquiva como “pensar em fugir” e “esconder-se” e ao coping de oposição ou negação como “sentir raiva” e “fazer chantagem”.

Dentre as estratégias de enfrentamento encontradas, houve maior frequência da ruminação (22,7%), solução de problemas (22,3%) e a reestruturação cognitiva (15,1%). A ruminação é um coping de submissão, é considerado um desfecho mal adaptativo, indica a necessidade de submissão e já foi identificado em crianças com outras doenças crônicas. Logo, é dada a necessidade de direcionar tais grupos a intervenções psicológicas com foco no enfrentamento. A solução de problemas diz respeito à percepção de desafio e necessidade de competência. Já a reestruturação cognitiva, a uma resposta de acomodação a uma circunstância e está associada à solução de problemas.

Por fim, viu-se que o estudo demonstrou que doenças crônicas são um processo dinâmico e sua identificação deve considerar os fatores que influenciam as estratégias. Foi sugerido que estudos futuros avaliem outras variáveis socioemocionais. Encontrou-se que há vantagens no uso de um formato computadorizado na avaliação psicológica com crianças e os dados foram consistentes com outras pesquisas. O estudo é de relevância para a Psicologia da Saúde, pois os dados encontrados permitem direcionamentos quanto às intervenções que envolvem coping na Anemia Falciforme no público infantil.

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