A modalidade de trabalho de parto está associada à saúde mental materna posterior.
Resenhado
por Susana Santana
Dekel, S., Ein-Dor, T., Berman, Z., Barsoumian, I. S.,
Agarwal, S., & Pitman, R. K. (2019). Delivery
mode is associated with maternal mental health following childbirth. Archives
of Women's Mental Health, 22, 817-824. https://doi.org/10.1007/s00737-019-00968-2
Cada vez mais se observa a importância de aspectos
obstétricos no bem-estar materno. Um deles é a influência do modo de trabalho
de parto no ajuste psicológico da mãe. Embora o parto seja visto como um evento
da vida, ele também envolve aspectos complexos. As rápidas mudanças
psicofisiológicas que a mulher vivencia durante o parto podem torná-lo um
evento estressante. Cerca de 85% das mulheres apresentam algum distúrbio de
humor no pós-parto, mas, em geral, essa ocorrência tem curta duração e
desaparece espontaneamente. Contudo, é provável que um número considerável de
mulheres sofra de sintomas mais duradouros e desenvolvam transtornos
psiquiátricos. Atualmente, a depressão pós-parto (DPP) é a complicação de saúde
mental mais documentada, mas há indícios de que outras condições também podem
ocorrer, incluindo ansiedade e transtornos relacionados ao estresse
pós-traumático. Esses quadros podem afetar o funcionamento e bem-estar da mãe,
o vínculo mãe-bebê e aumentar a vulnerabilidade a doenças mentais do bebê quando
adulto.
De acordo com os autores, ainda há poucas evidências sobre a
influência da modalidade de parto na saúde materna e a complexidade desse
evento poderia influenciar no adequado ajustamento psicológico de mulheres que
passam por essa experiência. Por isso, este estudo investigou o ajustamento
psicológico de 685 mulheres que estavam, em média, passando pelo período de 3
meses após o parto. Foram coletadas informações sobre o tipo de parto e a saúde
mental pré- e pós-parto e os dados foram analisados estatisticamente.
A análise de variância revelou que as mulheres que tiveram
cesárea ou parto vaginal instrumental apresentaram níveis mais altos de
angústia geral, somatização, sintomas obsessivo-compulsivos, depressivos e
ansiosos do que aquelas que tiveram parto natural ou vaginal. Destaca-se que
foram controladas outras variáveis como saúde mental pré-mórbida, idade
materna, escolaridade, primiparidade e complicações médicas no recém-nascido.
As mulheres submetidas a cesárea não planejada também apresentaram níveis mais
altos de sintomas de Transtorno de Estresse Pós-traumático (TEPT) relacionados
ao parto, excluindo aquelas com parto vaginal. Sintomas psiquiátricos de casos
clinicamente relevantes aumentou em duas vezes após a cesariana não planejada e
foi três vezes maior para provável TEPT relacionado ao parto.
Os autores concluíram que o bem-estar materno após o parto
está associado ao modo de parto experimentado. Sugeriu-se, ainda, o aumento da
conscientização sobre as implicações do parto operatório e das intervenções
obstétricas sobre a saúde mental da mulher no atendimento de rotina. Além
disso, a triagem de mulheres em situação de risco poderia melhorar a qualidade
do atendimento e evitar sintomas persistentes. No campo da Psicologia da Saúde,
essa é uma área de grande importância. O desenvolvimento de pesquisas sobre os
fatores psicológicos implicados na adaptação à modalidade de parto pode
favorecer a orientação psicológica adequada a gestantes durante o pré-natal.
Nenhum comentário: