Avanços na Psicometria: Da Teoria Clássica dos Testes à Teoria de Resposta ao Item
Sartes,
L. M. A., & Souza-Formigoni, M. L. O. D. (2013). Avanços na psicometria: da
Teoria Clássica dos Testes à Teoria de Resposta ao Item. Psicologia:
Reflexão e Crítica, 26, 241-250. https://doi.org/10.1590/S0102-79722013000200004
Resenhado por
Maria Heloísa
A demanda por métodos
objetivos de avaliação psicológica surgiu a partir da emergência da ciência positivista,
possibilitando o surgimento e a modificação de métodos de avaliação das propriedades
psicométricas de instrumentos. A Teoria Clássica dos Testes (TCT) e a Teoria de
Resposta ao Item (TRI) são empregadas com esse objetivo. A TCT avalia a validade
e a confiabilidade dos testes e é o principal método utilizado até a
atualidade. Já a TRI, por sua vez, é uma teoria mais recente e tem sido usada
na avaliação de construtos e no estudo da equivalência de grupos com
características sociodemográficas distintos. O objetivo da pesquisa foi
apresentar aspectos conceituais das teorias e um panorama comparativo entre
elas quanto à avaliação da validade de construto e forma de otimização dos
instrumentos.
A TCT tem como principal
objetivo obter o resultado de um sujeito em um teste a partir de seus
postulados, que pressupõem que erros aleatórios na medida são independentes em
qualquer circunstância. Em suas análises, há a seleção dos melhores itens por
meio da avaliação do índice de dificuldade e do parâmetro de discriminação. A
dificuldade avalia a proporção de respondentes que apresentam respostas
afirmativas ao item e a discriminação é a forma de identificar os grupos que tiveram
alta ou baixa pontuação.
Já
a TRI é um conjunto de modelos psicométricos que parte da pressuposição de que
cada indivíduo possui um traço latente (teta) referente a uma característica a
ser mensurada. O nível desse traço permite identificar se o indivíduo
responderá positivamente ou não a um item, estabelecendo probabilidades de respostas.
A estimação do parâmetro dos itens é feita por diferentes modelos estatísticos
e é o primeiro passo da TRI, sendo baseado no número de populações envolvidas,
na natureza das respostas (dicotômica ou não dicotômica), na dimensionalidade
do instrumento e no número de parâmetros avaliados. Duas suposições
fundamentais para o uso da TRI são a unidimensionalidade, isto é, apenas um
traço latente é responsável predominantemente pelas respostas, e a
independência local, que indica que as respostas aos itens são independentes.
Na
TRI, modelos de dois parâmetros são utilizados para avaliar itens dicotômicos
(como sim ou não) e avaliam a probabilidade de o entrevistado responder
positivamente ao traço latente. Tal probabilidade é representada no gráfico da
Curva Característica do Item (CCI). Já os itens politômicos são aqueles que
apresentam várias categorias de resposta ordinais e crescentes. Os modelos
logísticos da TRI geram, ao final, uma escala de níveis do traço latente, que
possibilitam a interpretação do resultado encontrado. Os resultados do sujeito
também são posicionados na escala, de acordo com sua pontuação no traço
latente. Foi identificado que TRI representa avanços no campo da psicometria
quando comparada à TCT, já que possibilita a realização de cálculos que
independem da amostra e dos itens do teste. Além disso, permite posicionar
itens e sujeitos em uma mesma escala de traço latente, o que torna viável e
estabelecimento de relações entre os itens. Por fim, possibilita que respostas
nulas não sejam consideradas similares a respostas que não se aplicam a alguns
sujeitos. Apesar disso, a TRI não visa substituir a TCT, apenas complementar
suas análises. Ambas são importantes para a Psicologia, o que abarca a
Psicologia da Saúde, pois possibilitam a avaliação de instrumentos de
mensuração dos construtos psicológicos. Cada método de análise psicométrica,
seja a TCT ou a TRI, deve ser aplicado quando pertinente, existindo casos em
que é justificável a realização de análises conjuntas.
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