Fatores de risco para o ajustamento psicológico de gestantes
Wechsler, A. M., Reis, K. P. D., & Ribeiro, B. D. (2016). Uma análise exploratória sobre fatores de risco para o ajustamento psicológico de gestantes. Psicologia argumento, 273-288. https:/doi.org/ 10.7213/psicol.argum.34.086.AO07
Resenhado por Maria Heloísa
A gravidez é uma fase que implica uma
série de mudanças físicas, psicológicas e socioeconômicas. Diante das
transformações, as gestantes passam por processos adaptativos e estão mais
vulneráveis a problemas psicológicos. Um ajustamento psicológico adequado
envolve uma boa adaptação às mudanças decorrentes da gravidez e baixos níveis
de ansiedade e depressão. Características da gestante, traços de personalidade,
fatores ambientais e o tipo de estratégia de enfrentamento utilizadas são
fatores que podem impactar no ajustamento. Logo, o objetivo do estudo foi
explorar os fatores de risco para o desajustamento psicológico em gestantes,
assim como a incidência de sintomas ansiosos e depressivos no público.
O estudo utilizou uma amostra de 30
gestantes com idade superior a 18 anos e que são assistidas pelas Unidades
Básicas de Saúde (UBS) do município de Bebedouro, São Paulo. Foram aplicados os
Inventários de Beck de Depressão e Ansiedade (BDI e BDI), a Bateria Fatorial de
Personalidade (BFP) e um questionário sociodemográfico que inclui informações
pessoais, estratégias de enfrentamento, o que as gestantes atribuem para suas
alterações emocionais e o nível de envolvimento do pai da criança. Os dados foram
coletados a partir da visita realizada pela equipe da UBS na residência das
gestantes. Para análise de dados, foi utilizada a frequência, a média, o desvio
padrão, o teste não paramétrico de Mann-Whitney e uma análise hierárquica de
regressão múltipla, a fim de identificar os efeitos de moderadores.
Identificou-se que 46,7% da amostra
manifestavam ansiedade, sendo que 16,7% possuíam a ansiedade moderado ou grave.
Além disso, 50% da amostra possuía sintomas de depressão e 10% das
participantes apresentavam depressão moderada ou severa. Participantes com
maior escolaridade exibiram menores níveis de ansiedade. As gestantes
atribuíram suas alterações emocionais mudanças corporais (73,3%) e à hora do
parto (80%), mas não houve relações estatisticamente significativas com os
níveis de ansiedade e depressão. A maior parte das gestantes relatou que o pai
do seu bebê contribuía financeiramente (90%) e demonstravam preocupação com
elas (86,7%.) Nas análises bivariadas identificou-se que houve um efeito
marginalmente significativo entre a participação dos pais para preparação do
parto e um menor nível de depressão.
As estratégias de enfrentamento mais
utilizadas pelas gestantes foram conversar com amigos (100%) e passear (83,3%),
mas não houve relações significativas entre a estratégia de enfrentamento e o
ajustamento psicológico. Apesar disso, foi encontrado um efeito moderador entre
o enfrentamento e o nível de depressão. Quanto maior a escolaridade e maior o
diálogo com profissionais de saúde, menores níveis de depressão. Ademais, o
traço de personalidade neurótica foi positivamente relacionado a sintomas
ansiosos nas gestantes (r = 0,39; p = 0,03). O neuroticismo também possui
efeito moderador significativo na relação entre a depressão e a idade
(acréscimo de 17% na variância) e entre a depressão e o número de semanas da
gestação da participante (acréscimo de 19% na variância). Logo, um menor tempo
de gestação e uma menor idade, combinados a baixos níveis de neuroticismo,
tendem a reduzir níveis de depressão.
O estudo é importante para a psicologia da
saúde pois apresenta apontamentos importantes sobre variáveis psicológicas que
perpassam o período gestacional e podem afetar o bem-estar das gestantes.
Destaca-se, sobretudo, os resultados quanto ao papel moderador do diálogo com o
profissional da saúde nos menores níveis de depressão. Esse achado sustenta a
importância do acompanhamento psicológico durante o pré-natal, a fim de
humanizar o serviço e promover bem-estar nas gestantes.
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