Ajustamento psicológico dos casais em paternidade de gêmeos: modo de concepção (reprodução espontânea versus assistida) e diferenças de gênero
Resenhado
por Susana Santana
Tendais, I., Figueiredo, B.,
Canário, C., & Kenny, D. (2019). Couples’ psychological adjustment to
twin parenthood: Mode of conception (spontaneous versus assisted reproduction)
and gender differences. Primary Health Care Research &
Development, 20(e56),
1-7. https://doi.org/10.1017/S1463423618000269
O crescimento do uso da Tecnologia de Reprodução Assistida
(TRA) e o aumento das taxas de nascimento de gêmeos são dados expressivos
mundialmente. Nesse tipo de gestação, mesmo que planejada, pais de gêmeos podem
estar expostos a repetidas situações estressantes. A sobrecarga no atendimento
às necessidades de dois ou mais filhos, dificuldades financeiras e problemas
físicos e psicológicos podem surgir nesse contexto. Além disso, a angústia
relacionada aos receios de infertilidade poderia gerar um efeito cumulativo
negativo no ajustamento psicológico dos pais de gêmeos após TRA.
Embora o conceito de ajustamento psicológico possa ser
entendido tanto como o processo de adaptação e, numa definição mais ampla, como
o resultado satisfatório da adaptação, é comum investigar esse construto pela
presença ou ausência de dados referentes à sintomas de ansiedade, depressão,
bem-estar, estresse, qualidade de vida, entre outros. Neste estudo, buscou-se
verificar se o ajustamento psicológico de pais de gêmeos estava associado ao
modo de concepção e ao gênero no contexto de transição para a paternidade de
gêmeos. Foram analisados índices de sintomas depressivos, ansiosos e
informações de relacionamento conjugal, atitudes quanto ao sexo, bem como em
relação à gravidez e ao bebê. Participaram da pesquisa 41 casais que esperavam
gêmeos, sendo 25 deles com gestação de concepção espontânea (CE) e 16 com TRA.
Dentre os resultados, verificou-se que os pais do grupo TRA
mostraram um declínio na qualidade do relacionamento conjugal, mas nenhuma
mudança nas atitudes em relação à gravidez e ao bebê e nenhuma mudança nas
atitudes em relação ao sexo no pós-parto. Em contrapartida, os pais de CE não
mudaram sua percepção do relacionamento conjugal e relataram atitudes mais
positivas em relação à gravidez, ao bebê e em relação ao sexo no pós-parto. Em
comparação com mães e pais de CE e pais de TRA, as mães de TRA apresentaram
aumento dos sintomas depressivos e ansiosos da gravidez até o pós-parto, com
declínio dos sintomas de ansiedade somente no pós-parto.
Essas descobertas sugerem que pais de TRA podem ter mais
dificuldades psicológicas durante a transição para a paternidade de gêmeos
quando comparados aos pais de CE. As mães de TRA, em particular, parecem estar
mais expostas ao risco de altos níveis de sintomas depressivos. Estudos em
Psicologia da Saúde investigam os aspectos emocionais, cognitivos e
comportamentais de condições físicas de saúde. Assim, pesquisas sobre adaptação
psicológica à gestação, parto, puerpério e parentalidade podem fornecer dados
importantes para propor intervenções nos fatores psicossociais que mais
influenciam no ajustamento psicológico desse público.
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