Manutenção da ansiedade social na gagueira – um modelo da terapia cognitivo-comportamental

 

Iverach, L., Rapee, R. M., Wong, Q. J. J., & Lowe, R. (2017). Maintenance of social anxiety in stuttering: A cognitive-behavioral model. American Journal of Speech-Language Pathology, 26(2), 540–556. https://doi.org/10.1044/2016_ajslp-16-0033

Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo

 

O transtorno de ansiedade social é caracterizado pelo medo intenso de situações sociais, especialmente as que podem envolver a avaliação de outras pessoas. Tal transtorno é crônico e incapacitante, além de estar relacionado com interferências significativas em vários domínios da vida. A gagueira é uma desordem na fala que é frequentemente acompanhada com ansiedade social uma vez que há medo de avaliação negativa, vieses de atenção e uso de comportamentos de segurança. Nesse sentido, este estudo teve como objetivo verificar os modelos do transtorno de ansiedade social da terapia cognitivo-comportamental para sua manutenção em pessoas com gagueira, bem como para orientar pesquisas futuras sobre o tema.

Os componentes da terapia cognitivo-comportamental foram utilizados para entender a manutenção da ansiedade social em indivíduos com gagueira. Tais elementos foram descritos para entender os processos antes, durante e depois a avaliação de situações sociais, que estão relacionados com o aumento da probabilidade da persistência do medo. Os modelos utilizados para a revisão foram o de Clark e Wells (1995) e de Rapee e Heimberg (1997).

A partir do estudo, verificou-se que indivíduos com gagueira e socialmente ansiosos poderiam relatar mais pensamentos negativos antes e depois de eventos que envolvam avaliação social. Além disso, as pessoas com níveis severos de gagueira poderiam estar mais propensas a visualizar seus desempenhos em interações sociais como fracassos em comparação às que apresentam níveis mais leves. No que diz respeito aos vieses de atenção, pessoas com gagueira poderiam dedicar maior atenção aos termos gaguejados e aos sinais de desinteresse ou desconforto de ouvintes. Esses enviesamentos poderiam intensificar os níveis de ansiedade a partir da detecção da ameaça social. Outro aspecto foi a presença de autoavaliação negativa e a recordação de memórias distorcidas após eventos de interação social.

Através das características descritas, verifica-se elementos cognitivos que facilitam a persistência de crenças que consideram que a gagueira será avaliada negativamente pelos outros. Seus componentes estão presentes nos modelos da terapia cognitivo-comportamental para ansiedade, a exemplo de autoavaliação negativa e vieses de atenção. Os achados podem servir de base para estudos e intervenções no âmbito da Psicologia da Saúde em pessoas que possuam gagueira em conjunto com ansiedade social. Assim, torna-se factível identificar fatores que mantêm o medo sentido perante eventos sociais em pessoas com gagueira, assim como elaborar estratégias que lidem diretamente com tais elementos para diminuição da ansiedade.

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