Bem-estar subjetivo, saúde e envelhecimento
Steptoe, A., Deaton, A., & Stone, A. A. (2015). Subjective
wellbeing, health, and ageing. Lancet, 385(9968), 640-648. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(13)61489-0
Resenhado por
Laurisson Albuquerque da Costa
Nas últimas
décadas, houve um aumento da expectativa de vida e consequentemente do número
de idosos. Envelhecer é um processo natural de todo ser humano e envolve
processos biológicos, psicológicos e sociais. Para que ocorra de forma
satisfatória, é necessária a interação entre esses três domínios. Um dos
indicadores para definir um processo satisfatório do envelhecimento é o
Bem-estar subjetivo que reflete a satisfação física e emocional. O bem-estar
psicológico pode ser afetado por muitos fatores, como condição econômica,
relação social e familiar, papeis e atividades sociais. Alguns estudos sugerem
que o bem-estar psicológico pode reduzir doenças crônicas e promover
longevidade.
O estudo realizou
uma revisão de literatura sobre o bem-estar
psicológico e a saúde no processo de envelhecimento. Para isso, foi abordado o
bem-estar sob três perspectivas: avaliação da vida, que refere o pensamento das
pessoas sobre qualidade de vida, satisfação com a vida ou o quão felizes estão
com a vida. Bem-estar hedônico, que demonstra sentimentos e humores cotidianos,
tais como a tristeza, a felicidade, estresse e raiva vivenciados, sendo
composto por uma associação dessas dimensões. E o bem-estar eudaimonico, que
possui como foco principal o julgamento sobre significado e propósito da vida.
O estudo discorre
sobre a piora do bem-estar psicológico ser preditor de doenças crônicas, como
doença arterial coronariana e diabetes, e de forma oposta, evidencias acerca de
melhor avaliação de vida e estado hedônico estarem relacionadas a menor
mortalidade e morbidade. Entretanto, devemos nos atentar que estudos de
associação podem possuir muitos vieses, como uma maior escolaridade nessa
população, possibilidade de pessoas que referem uma baixa avaliação de
bem-estar já estarem doentes e vieses de publicação. Contudo, evidencias atuais
mais robustas vem surgindo, para ilustrar essa afirmação, o estudo citou o English
Longitudinal Study of Ageing (ELSA), uma pesquisa de coorte que avaliou
9050 pessoas, com média de idade 64,9 anos, seguidos por uma média de 8,5 anos.
O bem-estar hedônico foi avaliado com questionário com itens contendo
autonomia, senso de controle, propósito de vida e autorrealização, os
resultados foram divididos em quartis de bem-estar. Foi encontrado que a
população com o maior quartil, quando comparada com a de menor quartil e
ajustada para gênero e idade, houve uma redução da mortalidade em 58%.
A saúde física
também está associada a redução do bem-estar, algumas doenças como doença
arterial coronariana, diabetes, alguns canceres, doença renal crônica e
acidente vascular encefálico estão associadas a maior sintomatologia
depressiva. Outro aspecto importante é o fim de vida, onde a saúde claramente
impacta no bem-estar psicológico, a qualidade do cuidado nessa fase é
fundamental para que o processo de morte ocorra da melhor forma possível, o
foco geralmente é no controle da dor e sofrimento, porém aspectos relacionados
com bem-estar como dignidade e alívio da angustia raramente
são abordados.
Dessa forma, tendo
em vista que o envelhecimento é um processo gradual e natural onde ocorrem
mudanças físicas e psicológicas, entender fatores envolvidos no bem-estar psicológico
da população idosa é de grande relevância para a psicologia da saúde, uma vez
que apesar pesquisas nessa área estarem em fases iniciais, existem evidências
de que o bem-estar psicológico é importante para a saúde e qualidade de vida.
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