Aspectos clínicos da depressão em crianças e adolescentes.
Resenhado por
Brenda Fernanda
Bahls, S. C. (2002). Aspectos
clínicos da depressão em crianças e adolescentes. Jornal de Pediatria, 78,
359-366.
Os
transtornos depressivos constituem um grupo de patologias com alta e crescente
prevalência na população geral. No entanto, anteriormente, acreditava-se que a
depressão era um fenômeno que acometia apenas adultos. Deste modo, pode-se
dizer que o interesse científico pela depressão em crianças e adolescentes é
recente, datando aproximadamente da década de 70. Estudos apontam que os
sintomas básicos de um episódio depressivo são os mesmos em crianças, adolescentes
e adultos; porém, os pesquisadores destacam a importância do processo de maturação
na apresentação sintomatológica da depressão, isto é, em cada fase do
desenvolvimento apresentam-se características predominantes a cada faixa etária.
O presente trabalho menciona que o Instituto Nacional de
Saúde Mental dos EUA (NIMH) reconheceu oficialmente a existência da depressão
em crianças e adolescentes a partir de 1975 e, desde então, as pesquisas sobre
depressão nestes períodos da vida têm atraído um interesse crescente por parte
da comunidade científica.
Várias pesquisas têm chamado a atenção para o fato de a
depressão em crianças e adolescentes estar mais frequente e acontecer cada vez
mais cedo. No estudo Los Angeles
Epidemiologic Catchment Area Project, de acordo com Olsson e von Knorring
(1999), 25% dos adultos com depressão relataram o primeiro episódio da doença
ocorrendo antes dos dezoito anos de idade.
O
autor relata a que a depressão maior na infância e na adolescência apresenta
natureza duradoura e pervasiva, afetando múltiplas funções e causando
significativos danos psicossociais.
Como
quadro clínico, pode-se dizer que em crianças pré-escolares (idade até seis/sete
anos), a manifestação mais comum são os sintomas físicos, tais como dores (em
especial de cabeça e abdominais), fadiga e tontura. Goodyer (1996) cita que aproximadamente
70% dos casos de depressão maior em crianças apresentam queixas físicas. As
queixas de sintomas físicos são seguidas por ansiedade, fobias, agitação
psicomotora ou hiperatividade, irritabilidade, alterações do apetite e do sono.
Ainda que a maioria dos autores afirme que ideação ou tentativas de suicídio
neste período são raras, Shafii e Shafii (1982) destacam que o comportamento autodestrutivo
na forma de bater a cabeça severa e repetidamente, morder-se, engolir objetos
perigosos e a propensão a acidentes pode ser um equivalente suicida em crianças
que não verbalizam emoções. No que diz respeito às famílias, estudos norte-americanos
realizados com crianças pré-escolares com depressão encontraram com frequência
pais também depressivos e envolvidos em graves problemas sociais (Versiani,
Reis, & Figueira, 2000).
Em crianças escolares (entre seis/sete anos até doze
anos), o humor depressivo já pode ser verbalizado e é comumente relatado como
tristeza, irritabilidade ou tédio. Apresentam aparência triste, choro fácil,
apatia, fadiga, isolamento, declínio ou desempenho escolar fraco, podendo
chegar à recusa escolar, ansiedade de separação, fobias e desejo de morrer.
Também podem relatar concentração fraca, queixas somáticas, perda de peso,
insônia, entre outros.
A manifestação da depressão em adolescentes (a partir dos
doze anos) costuma apresentar sintomas semelhantes aos dos adultos, mas com
importantes características fenomenológicas que são típicas do transtorno depressivo
nesta fase da vida. Adolescentes deprimidos não estão sempre tristes;
apresentam-se principalmente irritáveis e instáveis, podendo ocorrer crises de
explosão e raiva em seu comportamento. Segundo Kazdin e Marciano (1998), mais
de 80% dos jovens deprimidos apresentam humor irritado e perda de energia,
apatia e desinteresse, retardo psicomotor, sentimentos de desesperança e culpa,
perturbações do sono (principalmente hipersonia), alterações de apetite e peso,
isolamento e dificuldade de concentração. Outras características próprias desta
fase são o prejuízo no desempenho escolar, a baixa autoestima, as ideias e
tentativas de suicídio e graves problemas de comportamento, especialmente o uso
abusivo de álcool e drogas. Alguns autores chamam a atenção para a diferença
dos sintomas entre adolescentes do sexo feminino e masculino, destacando que
garotas relatam mais sintomas subjetivos, como sentimentos de tristeza, vazio,
tédio, raiva e ansiedade, além de
costumarem ter, também, mais preocupação com popularidade, menos satisfação com
a aparência e menos autoestima, enquanto que os garotos relatam mais
sentimentos de desprezo, desafio e desdém, e demonstram problemas de conduta
como: falta às aulas, fugas de casa, violência física, roubos e abuso de
substâncias.
Dessa
forma, pode-se dizer que atualmente a depressão em crianças e adolescentes é
considerada comum, debilitante e recorrente, envolvendo alto grau de morbidade
e mortalidade, sendo considerada sério problema de saúde pública. O autor destaca
que o transtorno depressivo tem apresentação heterogênea já desde a infância,
requerendo cuidadosa avaliação diagnóstica dos profissionais envolvidos com
crianças e adolescentes. Seja em relação à sintomatologia ou em relação à
evolução, a existência de patologias psiquiátricas comórbidas traz especial
complicação no estudo das depressões infanto-juvenis, sendo que a coexistência de
múltiplos diagnósticos é mais a regra do que a exceção. Especialmente nestes
períodos é necessário considerar a importância da utilização de várias fontes
de informações (pais, professores e amigos) ao se estabelecer uma investigação
clínica.
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