Perfil dos pacientes internados em 199 serviços de pediatria no município do Rio de Janeiro: Mudamos?
Resenhado por Beatriz Ramalho
Duarte, J. G., et al. (2012). Perfil dos pacientes internados em serviços
de pediatria no município do Rio de Janeiro: Mudamos?. Revista de Saúde Coletiva, 22, 199-214.
A apresentação da morbimortalidade na
infância e na adolescência está passando por um processo de mudanças. Há poucos
anos, o atendimento hospitalar pediátrico era voltado para o tratamento de
doenças agudas, atualmente com a disponibilidade de programas de saúde,
mudanças na dinâmica social e o processo de incorporação de tecnologias nos
serviços hospitalares há uma redução da mortalidade infantil, resultando em um
aumento da sobrevida das crianças que morreriam precocemente. Sendo assim, hoje
existe um aumento da prevalência de doenças crônicas na infância, o que requer
novas estratégias no cuidado hospitalar dessas crianças.
Este estudo teve como objetivo mostrar o
perfil clínico e demográfico de crianças internadas e analisar os procedimentos
diagnósticos e terapêuticos nessas internações.
Foi realizado estudo retrospectivo das internações nos serviços de
pediatria de quatro hospitais gerais da rede hospitalar federal do Rio de
Janeiro.
Em
2008 ocorreram 2269 internações, destas selecionaram-se de maneira proporcional
e aleatória 170 internações ocorridas entre janeiro e dezembro de 2008 de
crianças desde o nascimento até os 17 anos, 11 meses e 29 dias. A coleta de
dados foi realizada no período de setembro de 2009 a fevereiro de 2010 através
do acesso aos prontuários. Foram analisadas seis informações principais:
informações demográficas do paciente, dados clínicos referente a existência de
malformações congênitas, doenças genéticas e outras condições com perfil de
cronicidade, dados referentes à internação, informação nutricional do paciente,
procedimentos diagnósticos e terapêuticos, e, por fim, solicitação de parecer
técnico para definição do diagnóstico.
A média da idade das crianças internadas
foi de 5,7 anos e 56% residiam no município do Rio de Janeiro e 44% em outros
municípios. As doenças crônicas foram encontradas em 81 prontuários nos quatro
hospitais, representando 47,6%, ressaltando a importância de hospitais públicos
estarem preparados para o manejo do paciente com esse perfil. A incidência de
27 crianças portadoras de doenças crônicas, mas internadas por causas
infecciosas demonstra bem a transição epidemiológica no contexto da saúde
infanto-juvenil, pois nesses casos os desafios no manejo das doenças crônicas se
somam aos desafios ligados à ocorrência de doenças infecciosas.
O estado nutricional das crianças
internadas foi registrado em apenas 31 prontuários e foi possível identificar
que 14 crianças apresentavam alteração nutricional (seis com baixo peso, quatro
com sobrepeso e quatro com sinais evidentes de desnutrição). O reduzido número
de registro nutricional é preocupante, pois ele é um importante indicador de
assistência e como a permanência hospitalar prolongada pode desencadear
desnutrição é preciso identificar precocemente quem necessita de intervenções
nutricionais.
Em relação aos procedimentos diagnósticos
e terapêuticos, os procedimentos diagnósticos com maior destaque foram os
exames de imagem como a radiografia simples e a ultrassonografia. No tratamento
a utilização de antibióticos mostrou-se elevada em todos os hospitais e o
acesso venoso periférico foi verificado na quase totalidade das internações.
O estudo pode ressaltar a o elevado número
de crianças com doenças crônicas nas enfermarias pediátricas, mostrando a
mudança do perfil dessas internações. Diante disso, é preciso rever a
organização dos serviços assistenciais e a realização de novos métodos
relacionados ao cuidado desses pacientes, que estão mais vulneráveis a sequelas,
limitações de função ou atividade, dieta restrita, uso frequente de
medicamentos, e cuidados médicos especiais.
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