O sintoma da criança e a dinâmica familiar: orientação de pais na psicoterapia infantil.

Resenhado por Laís Santos

Sei, M. B., Souza, C. G. P., & Arruda, S. L. S. (2008). O sintoma da criança e a dinâmica familiar: Orientação de pais na psicoterapia infantil. Vínculo – Revista do NESME, 2, 101-219.

No início de seu desenvolvimento, o ser humano se apresenta de forma muito frágil e dependente de seu meio, pois entre outras coisas, ainda é incapaz de fazer uso da linguagem verbal para a sua comunicação. A partir da maior ou menor dependência do ambiente, Winnicott elenca três estágios para o desenvolvimento emocional da criança.O primeiro deles é a fase de ‘dependência absoluta’, na qual a criança não consegue discernir que o seu meio está separado de si. No segundo estágio, de ‘dependência relativa’, a criança consegue perceber um mundo externo a si, porém, ainda espera os cuidados provenientes do meio. No último estágio, intitulado de ‘rumo à independência’, a criança continua evoluindo nesse processo de internalização dos cuidados recebidos. No entanto, de acordo com Winnicott, ela, assim como todo ser humano, nunca será completamente independente do meio.
Pensando na importância do meio ao longo da vida, o artigo em questão enfatiza a necessidade de cuidado com o meio no qual as crianças se desenvolvem e também de atenção ao contexto familiar para esse desenvolvimento, já que a família representa as pessoas que, na maior parte das vezes, dão suporte a esse processo. Em muitos casos, os problemas identificados na infância são basicamente reflexos de problemas primeiros existentes no próprio contexto familiar, e/ou também nos pais de modo individual.
O texto em questão exemplifica essa dinâmica através do relato de um caso clínico de uma criança e sua mãe que eram atendidas no ambulatório de psicoterapia infantil de um hospital universitário. A mãe trazia a questão de que sua filha, de oito anos, era uma criança ‘terrível’ e atribuía isso ao problema de saúde da mesma. No decorrer do atendimento individual prestado à criança, foi constatada a importância de um olhar para a família como um todo. O terapeuta percebeu que a queixa trazida pela mãe na verdade era um reflexo da dinâmica familiar e viu a necessidade de realizar psicoterapia com a criança e dar orientações a mãe. No entanto, como ocorreu no caso em questão, muitas vezes a orientação de pais centrada apenas na criança não é suficiente, pois, durante as orientações surgem conteúdos que diferem da queixa inicial. Esses conteúdos também precisam ser acolhidos, assim, muitas vezes a orientação perpassa o caminho entre orientar e fazer uma espécie de psicoterapia do cuidador.
Acredita-se que apesar da família ser o principal alicerce das crianças, nem sempre a mesma tem o suporte e as condições necessárias para conduzir um bom desenvolvimento de seus membros. O caso em questão é um exemplo disso, os sintomas da criança eram reflexos da desordem existente na própria família. Por vezes, ao fornecer orientações aos pais, os psicólogos acabam identificando angústias e situações mais problemáticas trazidas pelos pais, podendo também ajudá-los na compreensão destas.
De acordo com os autores, as orientações só produzem efeitos se os cuidadores puderem se desenvolver emocionalmente, trabalhando com questões da dinâmica entre pais e filhos. Contudo, nos casos em que isso não se aplica, vê-se a necessidade de uma atenção maior para o cuidador, podendo este receber um atendimento individual, com um suporte direcionado.
A psicoterapia infantil é uma estratégia interventiva muito benéfica, ao passo em que age preventivamente, auxiliando a construção de bases sólidas importantes para o desenvolvimento da criança. Quando se fala em psicoterapia infantil, mediante a influência dos pais sobre seus filhos, a entrevista familiar diagnóstica tem papel fundamental nesse processo. Nos casos em que a criança recebe acompanhamento psicoterápico individual, as orientações aos pais podem ser mantidas, pois se mostram como uma possibilidade de intervenção em conjunto com o atendimento individual. Por fim, a psicologia contribui com orientações psicoeducacionais aos pais e as crianças e/ou também pode intervir terapeuticamente com as crianças e seus familiares quando há necessidade.


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