Bullying: Comportamento agressivo entre estudantes

Resenhado por Lucila Moraes

Lopes Neto, Aramis A. (2005). Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, 81(5, Suppl. ), s164-s172.

      A violência é um fenômeno de grande impacto em nossa sociedade, sua repercussão quase sempre traz desfechos negativos e, não raras vezes, trágicos para os envolvidos. Uma dessas formas de violência que se manifesta na fase escolar, a chamada violência juvenil (ocorre entre pessoas de 10 a 21 anos de idade), é um tipo de agressão que ocorre entre jovens – em sua maioria estudantes - e que se não interrompida, pode resultar em comportamentos mais agressivos na fase adulta. 
        A violência escolar é definida por comportamentos agressivos ou antissociais, como atos de furto e criminosos, dano ao patrimônio, conflitos interpessoais e provocações e insultos a colegas. O termo mais usado para nomear tais padrões agressivos de comportamento é o termo bullying, que é conceituado como uma forma de agressão deliberada e repetitiva com o único objetivo causar sofrimento ao outro, sendo executada numa relação de poder desigual entre o agressor e a vítima. Assim, a pessoa que sofre o bullying é geralmente mais fraca (tanto fisicamente quanto emocionalmente) e, portanto, incapaz de se defender e reagir a tais agressões. 
     Além de muitas situações de bullying serem vistas muitas vezes como normais e banais, o bullying pode muitas vezes intensificar o comportamento agressivo de quem o pratica e prejudicar o desenvolvimento psicossocial de suas vítimas, até mesmo na fase adulta. De acordo com a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), cerca de 50% dos autores de bullying afirmaram não receberem qualquer advertência sobre seus atos, e essa negligência favorece a perpetuação do comportamento agressivo. 
     Outra manifestação de bullying que tem ganhado cada vez mais espaço na era digital é o cyberbullying, que é definido por Bill Belsey (2005) como uma forma de comportamento violento e repetitivo que utiliza meios tecnológicos como sites difamatórios, emails, fotos digitais, ridicularizarão online, entre outros; para provocar dor e danos a terceiros. 
       A ABRAPIA classificou as crianças e estudantes em três grupos em relação ao bullying: bullying (agressor), o alvo de bullying (vítima) e a testemunha do bullying. Os agressores geralmente tem uma história de vida que favorece atitudes violentas, seja por falta de atenção ou excesso de permissividade dos pais, ou por possuir alguma característica individual que favoreça esse comportamento (por exemplo, hiperatividade, impulsividade, distúrbios de atenção, etc.). Muitas vezes o agressor é popular, sente prazer em provocar dano aos demais e é mais forte que seu alvo. 
       O alvo do bullying é descrito como alguém que é constantemente exposto a atos agressivos (seja através de violência física ou violência mental) e que não consegue reagir ou cessar os atos de bullying. Dependendo da regularidade das agressões, a vítima pode desenvolver sérios problemas psicológicos e sofrer de insegurança e baixa autoestima. Uma das consequências mais graves para os alvos de bullying é tirar a própria vida ou a de outros, como forma de vingança aos anos de sofrimento e descaso dentro da escola. Estudos apontam que nos casos em que alunos armados invadem e atiram contra colegas e professores, cerca de dois terços foram vítimas de bullying. 
        Já as testemunhas do bullying são alunos que apesar de não se envolver diretamente nos casos de bullying, tendem a se calar ao se depararem com tais atos, seja por medo de se tornar vítima ou por não saberem como agir. Autores apontam que a omissão ajuda o agressor a agir de forma mais livre, sem temer possíveis consequências da escola ou dos pais. Apesar disso, de acordo com a ABRAPIA, as testemunhas tendem a ter empatia pelas vítimas e desejam que tais comportamentos cessem – sendo 80% dos alunos contra os atos de bullying. Quando há uma intervenção da testemunha, o bullying tende a parar, o que mostra a necessidade de se incentivar que alunos não compactuem com tais situações e que desestimulem o agressor, para que este não encontre mais apoio para seus atos e interrompa-os por completo. 
       Por fim, medidas preventivas para evitar o bullying se fazem necessárias não só para um melhor desempenho do aluno na escola, como também para evitar que o sofrimento e medo perdurem e atrapalhem os alunos no seu desenvolvimento futuro. A prevenção deve levar em consideração cada contexto escolar e suas particularidades (como condições econômicas, sociais e culturais da população), sendo imprescindível a participação dos professores, funcionários da escola e pais dos alunos nesse combate à violência escolar. As medidas devem favorecer um ambiente de acolhimento às vítimas de bullying, bem como a conscientização dos alunos sobre as consequências negativas das suas ações. Aos agressores, não basta tomar medidas punitivas (como suspensão ou castigos), pois isso tende-se a marginalizá-los; é preciso uma reeducação social e o incentivo de atividades que favoreçam uma interação amigável e saudável com outros colegas de sala, para que o ambiente escolar seja um lugar de acolhimento e inserção, não de sofrimento e exclusão.

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