Comportamentos de coping no contexto da hospitalização infantil.
Postado
por Catiele Reis
Motta,
A.B., Perosa, G.B., Barros, L., Silveira, K.A., Lima, A.S.S., Carnier, L.E., &
Caprini, F.R. (2015). Comportamentos de coping no contexto da hospitalização
infantil. Estudos de Psicologia, 32,
331-341. doi: https://dx.do.org/10.1590/010366x20.5000200016
As
crianças empregam uma variedade de estratégias de enfrentamento para lidar com
o estresse decorrente de cuidados médicos e de doença. Entre as estratégias
mais usadas pelas crianças destacam-se as de controle secundário, que incluem
pensamento positivo, aceitação e distração, assim como estratégias opostas como
a esquiva e a negação, sendo estas últimas relacionadas com pior ajustamento.
O
estudo aqui apresentado teve como objetivo descrever e analisar os
comportamentos de coping das crianças frente à hospitalização, além de responder
as seguintes questões: a) Há correlação entre os comportamentos de coping mais
referidos por crianças hospitalizadas? b) O comportamento de coping de crianças
hospitalizadas diferem em função de características sociodemográficas como
idade e sexo? c) Comportamentos de coping de crianças hospitalizadas diferem em
função do motivo da hospitalização? O estudo analisou ainda diferenças entre as
crianças com câncer brasileiras e portuguesas.
Para
isso, a amostra foi composta por 148 pacientes com idade média de 9,5 anos.
Entre as crianças hospitalizadas 19 eram portuguesas e estavam em tratamento em
um hospital de Lisboa e as demais (n = 129) eram brasileiras internadas em
hospitais públicos de São Paulo. Os dados foram obtidos através da aplicação da
avaliação de hospitalização (AEH), que é um instrumento capaz de avaliar as
estratégias de enfrentamento da hospitalização, em crianças na faixa etária de
6 a 12 anos.
Os
dados que há correlações entre os
comportamentos de coping mais referidos por crianças hospitalizadas, e que tais
comportamentos diferenciam-se no que se refere ao sexo e tipo de hospitalização,
mas não no que se refere a idade.
Pode-se
observar que a maioria dos comportamentos relatados nesse estudo refere-se
aqueles com maiores chances de desfecho positivo no processo adaptativo, tais
como: tomar remédio, rezar, conversar, assistir televisão e brincar. Por outro
lado os comportamentos menos frequentes foram aqueles com possível impacto
negativo em longo prazo para adaptação, como sentir culpa, pensar em fugir e se
esconder. Ou seja, de modo geral, os dados mostraram um cenário favorável ao
ajustamento psicológico das crianças desse estudo, o que foi confirmado através
da análise de correlação entre os comportamentos mais referidos.
A
análise dos comportamentos de coping em função do sexo evidenciou diferenças
significativas. Reações de medo, tristeza e choro foram mais evidenciadas pelas
meninas do que pelos meninos. Da mesma forma, as mulheres tendiam a procurar
mais o suporte social para lidar com o manejo da dor do que os homens.
É
importante destacar também a característica multicultural da amostra. Crianças
brasileiras e portuguesas apresentaram semelhanças em seus comportamentos de coping
na hospitalização, o que permitiu que elas fossem colocadas em uma única
amostra: a de crianças com câncer.
Embora
muito bem estruturado, o artigo possui algumas limitações. O tamanho da
amostra, mesmo sendo ampliada com a integração dos dados, pode ser considerado
reduzido em relação ao agrupamento de crianças por diagnóstico. Também não
houve igualdade no número de crianças por diferentes hospitais, o que pode
pressupor que alguns dos comportamentos ocorrem em virtude da oferta de
recursos do local da pesquisa que são diferenciados.
Portanto,
dada a relevância do coping para o ajustamento da criança com câncer, estudos
posteriores poderiam incluir instrumentos que mensurem esses comportamentos
após a internação fazendo a comparação entre o momento crônico e agudo da
doença. Tais esclarecimentos podem permitir a construção de propostas de
intervenção que se diferenciam no ambiente hospitalar para atender as
necessidades das crianças.
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