Perfil epidemiológico da mortalidade por causas externas em crianças, adolescentes e jovens na capital do Estado de Mato Grosso, Brasil, 2009


Resenhado por Beatriz Ramalho

Matos, K.F., & Martins, C.B.G. (2012). Perfil epidemiológico da mortalidade por causas externas em crianças, adolescentes e jovens na capital do Estado de Mato Grosso, Brasil, 2009. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 21(1):43-53

As causas externas (acidentes e violências) consistem em um dos maiores problemas de saúde pública do país. A população infanto-juvenil surge como a mais vulnerável, seja pela imaturidade e curiosidade característica das crianças, seja pelo excesso de coragem, aventura e uso de álcool e drogas pelos jovens. Diante disso, o estudo em questão teve como foco analisar os óbitos por causas externas nessa população para que seja possível conhecer o perfil e as circunstâncias desses óbitos, além de planejar formas de prevenção e ações que venham a reduzi-los.
            A população do estudo foi composta por crianças, adolescentes e jovens (zero a 24 anos) residentes no município de Cuiabá-MT, que foram a óbito por causa externa no ano de 2009.  Os dados foram obtidos a partir da inspeção manual da Declaração de Óbito e para as crianças menores de um ano, foram coletados idade, número de filhos e escolaridade da mãe.
Nos resultados foi possível perceber a predominância de óbitos do sexo masculino em relação ao sexo feminino (89,3% sexo masculino e 10,7% sexo feminino). Até a faixa etária de 5-9 anos houve certa semelhança no coeficiente de mortalidade no sexo feminino e masculino, no entanto a partir dos 10 anos as taxas do sexo masculino aumentam consideravelmente, principalmente no grupo de 20 a 24 anos, 252 óbitos por 100 mil habitantes. Tal fato pode ser explicado por um processo cultural que tem início na infância quando é oferecida maior liberdade para os meninos e com as meninas há uma maior vigilância, e na adolescência quando há uma maior exposição masculina a agressões e envolvimento em acidentes terrestres, deixando-a mais exposta a fatores de risco.
Pode-se notar também que houve um elevado percentual de mortes por agressão (61,1%), principalmente por arma de fogo, seguindo-se os acidentes de transporte terrestre (16,8%) e outros acidentes (13%). Os acidentes foram mais expressivos nos mais jovens, como nos menores de 4 anos, já a violência foi mais expressiva a partir dos 10 anos, elevando-se a cada faixa etária. Adolescentes e jovens estão mais expostos à violência em decorrência da marginalidade e envolvimento com drogas. No atual estudo observou-se que a morte por causa violenta predomina tanto em brancos quanto em negros, contudo outros estudos mostram que indivíduos negros são mais vulneráveis à violência devido à inserção social adversa que muitas vezes estão submetidos.
Em menores de 1 ano de idade as causas externas apresentam características especiais, na maioria das vezes relacionadas predominantemente com o cuidador, muitas vezes a própria mãe. No estudo a grande maioria das mães foi identificada entre os 25 e 29 anos, 50% tinha três filhos e houve uma distribuição uniforme em relação à escolaridade. É importante ter conhecimento desses dados porque muitos óbitos estão ligados a mães jovens em decorrência da inexperiência, com um grande número de filhos e baixo grau de instrução, que pode ser relacionado ao desconhecimento dos cuidados.

As causas externas constituem um problema multifatorial e é necessário que haja uma combinação de medidas preventivas que envolvem leis, educação, segurança, saúde, melhora nas condições socioeconômicas para minimizar as sequelas e aumentar a sobrevida das vítimas. Por isso, é importante que estudos desse tipo sejam feitos para que seja possível identificar e analisar as causas e a epidemiologia associada a esses óbitos para que as medidas preventivas adotadas sejam mais efetivas.

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