O impacto do lockdown no uso de redes sociais, problemas de imagem corporal e autoestima em adolescentes e mulheres jovens

 

Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva.

Vall-Roqué, H., Andrés, A., & Saldaña, C. (2021). The impact of COVID-19 lockdown on social network sites use, body image disturbances and self-esteem among adolescent and young women. Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry110, 110293. https://doi.org/10.1016/j.pnpbp.2021.110293

            A pandemia da COVID-19, apesar de ser um problema global de saúde física, tem potencial para se tornar uma crise em saúde mental devido às consequências do lockdown. Dentre os impactos resultantes das medidas de contenção do vírus, podem ser citadas a associação com a ansiedade, depressão, estresse, transtorno de estresse pós-traumático e problemas de sono. Alguns estudos sugeriram ainda que a pandemia pode impactar no risco e desenvolvimento de transtornos alimentares. Nesse contexto, o estudo buscou examinar o impacto do lockdown quanto ao uso de redes sociais, bem como se tal uso estava associado a distúrbios na imagem corporal e autoestima rebaixada em adolescentes e mulheres jovens.

            A amostra foi composta por 2601 mulheres, residentes na Espanha, entre 14 e 35 anos. O estudo teve delineamento retrospectivo e transversal, no qual as participantes foram indagadas quanto ao uso de redes sociais antes e depois do lockdown. A amostra foi recrutada pelo Facebook, Twitter, Instagram e pela lista de contatos dos pesquisadores. Foram requeridas as informações sociodemográficas, como idade, gênero, status de relacionamento, além do peso e da altura para o cálculo do índice de massa corporal (IMC). Em relação à COVID-19, as participantes informaram se elas ou algum conhecido foram infectados ou se conheciam alguém que morreu devido às complicações da COVID-19. Foram usadas escalas de autorrelato do tipo Likert acerca do uso de redes sociais antes e depois do lockdown. As subescalas de insatisfação corporal e desejo de ser magra retiradas do Inventário de Transtornos Alimentares foram utilizadas. As duas subescalas têm 17 itens que são respondidos por meio de  uma escala Likert de 6 pontos. A autoestima foi mensurada com a Escala de Autoestima de Rosenberg,  que possui 10 itens com escala Likert de 4 pontos.

            A amostra foi dicotomizada em geração Z, que tinha entre 14 e 24 anos, e geração Y, que tinha de 25 a 35 anos. A geração Z teve maior uso de aplicativos, como Instagram, YouTube, TikTok e Twitter, ao passo que a geração Y passou mais tempo usando o Facebook. A proporção de mulheres acompanhando contas focadas em aparência no Instagram não diferiu entre os grupos. De modo geral, houve aumento significativo quanto ao uso de todas as redes sociais no estudo, assim como aumentou o número de mulheres acompanhando conteúdos relativos à aparência em comparação ao período anterior ao lockdown. A frequência de uso do Instagram teve associação com insatisfação corporal, autoestima e desejo de ser magra. Análises post-hoc demonstraram que participantes que passavam mais de 2 horas por dia no Instagram apresentaram maiores níveis de insatisfação corporal, desejo de ser magra e autoestima rebaixada. Outros achados do estudo foi que a idade e o IMC foram preditores significativos de desejo de ser magra e, em relação à geração Y, a frequência de uso do Instagram foi associado ao desejo de ser magra.

            As redes sociais são ferramentas eficazes para mitigar a solidão durante o lockdown, pois têm a capacidade de aproximar as pessoas de uma forma segura em relação ao contágio do novo coronavírus. Entretanto, é necessário ressaltar que as redes sociais podem ser uma ferramenta que traz sofrimento psicológico aos indivíduos, uma vez que há predominância de um padrão corporal em detrimento dos demais. Esse padrão pode trazer crenças de imperfeições e inadequações diante de  uma expectativa da sociedade, que muitas vezes é inalcançável. Diante disso, a Psicologia da Saúde pode promover formas mais saudáveis de utilização de tais ferramentas a exemplo da conscientização frente ao uso insalubre de aplicativos, assim como a conscientização dos usuários acerca do padrão corporal disseminado pelas redes sociais.

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