Distorções de imagem corporal após rejeição social

Mu, W., Schoenleber, M., Leon, A. C., & Berenbaum, H. (2019). Body Image Distortion Following Social Rejection or Acceptance Cues. Journal of Social and Clinical Psychology, 38(5), 395–408. doi:10.1521/jscp.2019.38.5.395 

Resenhado por Giulia

       A imagem corporal é construída por componentes perceptuais e atitudinais. Distorções de imagem corporal fazem parte dos componentes perceptuais desse construto e acontecem quando a percepção que o indivíduo tem do próprio corpo é inconsistente com suas medidas corporais reais, além de estarem relacionadas com comportamentos maladaptativos, como alimentação restritiva e comportamentos alimentares compensatórios. A insatisfação corporal, por outro lado, é o componente atitudinal da imagem corporal, refletindo o quão inaceitável um indivíduo julga ser seu próprio corpo.

       A construção individual de imagem corporal perpassa por fatores sociais que podem influenciar o modo como as pessoas se veem, como representações midiáticas e interações com outros indivíduos. Por exemplo, receber comentários negativos da família, colegas ou conhecidos está associado com distorções de imagem corporal em crianças e adolescentes, assim como comentários negativos por parte do parceiro romântico pode gerar distorções na imagem corporal de adultos. Evidências mostram que tais fatores colocam as mulheres numa posição de maior vulnerabilidade para distorções corporais. Normas sociais fazem com que respostas negativas diretas sobre a aparência sejam relativamente incomuns no cotidiano, mas em interações interpessoais diárias as pessoas recebem comentários sutis ou implícitos acerca da aceitabilidade social de suas aparências. Consequentemente, por conta da necessidade de se verem como parte de grupos sociais que leva as pessoas a adotarem comportamentos favoráveis para a sua inclusão, sinais de rejeição social podem levar à insatisfação com aspectos pessoais, aumentando autoavaliações negativas.

    O efeito da autovalorização (self-enhancement) é identificado como um dos mediadores que explicam as percepções e comportamentos das pessoas. Ele se refere ao desejo por respostas positivas sobre si e inclui comportamentos autoprotetivos que são desencadeados por experiências ameaçadoras ou negativas, levando ao senso positivo de si mesmo. Por exemplo, uma pessoa pode se avaliar bem em alguns critérios pessoais depois de saber que outras pessoas tinham uma impressão negativa dela.      

     Apesar de poder trazer benefícios a curto prazo, os processos de autovalorização podem trazer prejuízos ao longo do tempo. Há indícios de que a autovalorização pode estar associada com menor autoestima e crescente descompromisso com atividades acadêmicas a longo prazo, além de poder causar conflitos interpessoais por conta da incongruência entre a percepção social e a percepção que a pessoa tem de si mesma. Uma vez que a distorção de imagem corporal e a insatisfação corporal são fatores de risco para a ocorrência de transtornos alimentares, a investigação de aspectos que podem ajudar a explicar essa relação torna-se crucial. Assim, os fatores elucidados no texto podem ter utilidade na promoção de saúde e prevenção de comportamentos alimentares de risco, principalmente em grupos mais vulneráveis. Espera-se que a psicologia da saúde possa colaborar com a ampliação dos estudos sobre a temática que levem em consideração as variáveis indicadas a fim de fornecer evidências científicas sólidas e desenvolver protocolos de tratamento eficazes.



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