Sobre o autoestigma da doença mental: Fases, divulgação e estratégias para a mudança

Corrigan, P. W., & Rao, D. (2012). On the self-stigma of mental illness: Stages, disclosure, and strategies for change. The Canadian Journal of Psychiatry57(8), 464-469. https://doi.org/10.1177%2F070674371205700804

Resenhado por Maísa Carvalho

Ao serem diagnosticadas com doenças mentais, as pessoas, por vezes, podem experienciar situações de preconceito, discriminação e estigma, os quais podem ser tanto públicos quanto internalizados - também chamado de autoestigma. Esse processo se dá quando o indivíduo internaliza ou assume estereótipos negativos e atitudes que são compartilhadas pelos pares acerca de condições socialmente desfavoráveis, por exemplo, receber o diagnóstico de depressão.

O modelo de estágios do autoestigma e o efeito “por que tentar?”

Existem estágios pelos quais o estigma internalizado se concretiza. São sequenciais e tem como o último ponto o efeito “por que tentar?”. São elas: (1) consciência, em que o indivíduo tem conhecimento dos estereótipos negativos públicos sobre possuir uma doença mental, por exemplo, de que as pessoas com doenças mentais são fracas; (2) concordância, quando se concorda com esses estereótipos; (3) aplicação, fase em que aplica em si os estereótipos negativos; (4) prejuízos, que são as consequências negativas na autoestima e autoeficácia. O efeito do “por que tentar?” está intimamente ligado a esses estágios, sobretudo o último. Quando a autoestima e a autoeficácia do indivíduo são afetadas, ele deixa de tentar alcançar seus objetivos de vida. Ao perceberem a desvalorização, busca-se evitar situações desrespeitosas, o que afeta possibilidades de crescimento importantes para o sujeito.

Revelação: o primeiro passo

Revelar que possui o diagnóstico de uma doença mental pode ter efeitos negativos ou positivos, mas não é uma decisão fácil. Estudos indicam riscos e benefícios para diferentes formas de “sair do armário”, existindo diferentes estratégias para tal, a saber: (1) evitação social; (2) manter em segredo; (3) revelação seletiva, ou seja, quando se revela a condição apenas para algumas pessoas, normalmente que compartilham do mesmo problema, e para outras não. Essa estratégia pode resultar em apoio social; (4) revelação indiscriminada, quando não se esconde de ninguém. Uma consequência negativa dessa estratégia é o conhecimento de estereótipos negativos públicos sobre as doenças mentais; (5) transmissão, buscando educar as pessoas sobre as doenças mentais e procurar outras pessoas para compartilhar o histórico e experiências associadas com essa condição.

Métodos para reduzir o estigma

A formulação de programas e estratégias governamentais são métodos que vêm sendo utilizados para a redução do estigma, auxiliando o combate a esse fenômeno e buscando disseminar um clima de suporte social entre as pessoas que enfrentam essa condição. Todavia, apesar de o estigma sobre as doenças mentais impactar direta e indiretamente na busca por tratamento, e acarretar em uma sobrecarga mental ainda maior para indivíduos que possuem esses diagnósticos, nem sempre essa questão é abordada em algumas culturas. A Psicologia da Saúde é uma subárea da ciência psicológica que pode contribuir para a exposição dos prejuízos ocasionados pelo processo de estigmatização e pelo autoestigma na adaptação psicológica e tratamento dessas pessoas. Dessa forma, é importante que sejam realizados estudos que exponham cada vez mais os malefícios associados ao estigma, especialmente o internalizado.



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