Dor e sofrimento

Loeser, J. (2000). Pain and suffering. The Clinical Journal of Pain16(2), 2-6. https://doi.org/10.1097/00002508-200006001-00002

Resenhado por Maísa Carvalho

Apesar de a medicina ter avançado consideravelmente em termos de cuidado e tratamento de doenças, o modelo biomédico vem se mostrando, no decorrer da história, displicente a variáveis que possam interferir no desenvolvimento e no curso da patologia, por exemplo, a tolerância a dor e ao sofrimento, que são subjetivas para cada indivíduo. Nessa perspectiva, ambos processos são complexos e não podem ser descritos apenas pela ótica da medicina tradicional.

Componentes da dor

A dor, propriedade cerebral derivada de processos bioquímicos e neurais, é um recurso consciente. Todavia, ainda que seja importante para a percepção do processo de adoecimento, não é ela que leva o indivíduo a buscar o tratamento, e sim o sofrimento. Assim, é importante perceber a dor não de forma isolada, porém em conjunto com outros elementos que a compõem. O ciclo da dor possui quatro componentes, a saber: nocicepção, que é um fenômeno de codificação e processamento físico/químico que resulta na dor; a própria dor, um estímulo nocivo ao corpo e que usualmente leva ao sofrimento; o sofrimento, a consequência física ou psicológica advinda de uma ameaça à integridade do ser humano; e o comportamento de dor, que reflete as ações verbais ou não-verbais que exprimem a dor. Esses comportamentos são reais, influenciados pelo sofrimento e pelo ambiente no qual o indivíduo está inserido, além de que podem ser antecipados ou não.

Tipos de dor

Existem três classes de dor: a breve, a aguda e a crônica. A primeira é eliciada pela ativação dos transmissores nociceptivos da pele e de outras partes do corpo. Possui curta duração, pouca intensidade e é cessada quando o estímulo nocivo é removido. A segunda é mais intensa, dura um tempo relativamente curto e o processo de cura pode ocorrer com o uso de métodos de cuidado externos, por exemplo, medicamentos. A terceira e última é persistente, dura um longo período de tempo e é usualmente relacionada a doenças. Ademais, pode ser perpetuada por fatores tanto patogênicos quanto físicos ou psicológicos distintos da causa originária. A principal diferença entre as dores aguda e crônica não é o tempo de duração, mas a habilidade do corpo de se recuperar e restaurar normalmente.

Sofrimento

O sofrimento é um elemento crucial na compreensão da dor e não é um processo simples de se compreender. Ele pode ser resultante da dor ou pode ser engendrado por outros estados, como medo, ansiedade, depressão, raiva, luto etc. Há muitas críticas ao modelo biomédico por se concentrar quase que exclusivamente nas consequências biológicas e na patologia em si, mas desconsiderar o sofrimento e desfechos psicológicos a ele associados. Diferentemente da dor, o sofrimento não pode ser encontrado examinando o corpo dos pacientes, pois existe na mente do indivíduo. Por fim, os eventos que levam ao sofrimento diferem de uma pessoa para outra. Nesse prisma, a Psicologia da Saúde é uma sub área da Psicologia que investiga as diferenças individuais e a adaptação psicológica das pessoas atinentes a diversos desfechos em saúde. Dessa forma, percebe-se a importância da continuidade de estudos e pesquisas que investiguem facetas do sofrimento em diferentes públicos e o impacto desse fenômeno na saúde física e psicológica das pessoas.



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