Tratamento Cognitivo-Comportamental do transtorno alimentar restritivo/evitativo
Thomas, J. J., Wons, O., & Eddy, K. (2018).
Cognitive-behavioral treatment of avoidant/restrictive food intake disorder. Current opinion in
Psychiatry, 31(6),
425-430. doi:10.1097/YCO.0000000000000454.
Resenhado por Luanna Silva
O transtorno alimentar restritivo/evitativo
(TARE) é caracterizado pela evitação ou restrição alimentar, a qual é motivada
pela sensibilidade às características sensoriais dos alimentos, medo das
consequências aversivas de comer ou falta de interesse em comida. Essa é uma
categoria diagnóstica recente, que apenas no ano de 2013 entrou para o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). O TARE pode levar a consequências
como perda de peso ou crescimento deficiente, deficiência nutricional,
dependência de suplementos nutricionais ou alimentação por sonda, além de
comprometer a qualidade de vida daqueles que sofrem com essa condição.
Indivíduos com diferentes características
clínicas e sociodemográficas podem desenvolver esse transtorno. A literatura
relata casos em todas as etapas do desenvolvimento, em ambos os sexos e
associação com diversas comorbidades como o transtorno do espectro autista. A
heterogeneidade observada na manifestação do TARE pode individualizar as
necessidades de tratamento, dificultando a identificação de abordagens
universais. Por ser uma categoria recente, ainda não existem evidências
suficientes que recomendem um tratamento adequado para todas as formas de
manifestação do transtorno. Os tratamentos descritos recentemente na literatura
incluem o treinamento de pais, abordagens cognitivo-comportamentais e farmacoterapia.
Neste artigo, os autores descrevem a formulação de um protocolo baseado em
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), o qual eles têm testado no Massachusetts
General Hospital. O objetivo do tratamento é reduzir o comprometimento
nutricional e aumentar as oportunidades de exposição a novos alimentos,
abordando os sentimentos negativos e previsões catastróficas associados à
ingestão de comida. Pode ser utilizado com crianças, adolescentes e adultos,
sendo apropriado para indivíduos que estão clinicamente estáveis, atualmente
aceitando pelo menos alguns alimentos por via oral e que não estão recebendo
alimentação por sonda,
Quanto a estrutura, é proposto que sejam
realizadas 20 sessões para pacientes que não estão abaixo do peso e 30 para aqueles
que precisam ganhar peso significativo. As sessões devem seguir uma programação
em quatro níveis. O primeiro estágio tem como base a psicoeducação sobre o
transtorno e TCC aplicada a TARE. Além disso, é solicitado monitoramento do
padrão de alimentação, variações na apresentação de alimentos preferidos e
reintrodução daqueles que foram previamente descartados. Na segunda etapa é
realizada psicoeducação sobre deficiências nutricionais. O terceiro passo é
considerado o mais importante do tratamento, nele o terapeuta deve focar no
mecanismo de manutenção do TARE presente para o paciente, ou seja, sensibilidade
sensorial, medo de consequências aversivas ou falta de interesse em comida. Em
casos com múltipla apresentação, o terapeuta deve abordar o mecanismo primário
ou mais prejudicial. Embora as intervenções do estágio 3 sejam diferentes, com
base no mecanismo específico, o elemento comum a todos é a exposição. No quarto
e último nível, paciente e terapeuta trabalham em um plano de prevenção de
recaída e estabelecem metas para o futuro.
O TARE é uma condição que ainda precisa
ser explorada, sua inclusão recente no DSM-5 mostrou a urgência da realização
de pesquisas sobre esse tema, especialmente no que se refere ao tratamento. Ademais,
psicólogos da saúde podem colaborar realizando investigações que forneçam evidências
robustas e que demonstrem a abordagem mais apropriada para o tratamento desse
transtorno.
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