Conceitos de Saúde e de Doença em Mudança
Resenhado por Mariana
Menezes
Stroebe, W. &
Stroebe, M. (1995). Conceitos de Saúde e de Doença em Mudança. In W. Stroebe
& M. Stroebe, Psicologia Social e
Saúde. (pp. 15-30). Lisboa, PT: Instituto Piaget.
Os autores iniciam o
capítulo 1 do livro apresentando a abordagem econômica, que implica a
existência de uma duração de vida esperada, considerada ótima, em que o valor
de um ano adicional é menor do que a utilidade prevista pelo uso de tempo e
outros recursos, a fim de obter esse mesmo ano. Por exemplo, uma pessoa pode
estudar muito a ponto de esquecer qualquer tipo de exercício físico, porém isto
não significa que ela ignore as consequências, mas que o tempo adicional de
vida que ela perderia praticando atividade física, por exemplo, não valeria o
custo de estudar menos. Diante disto, a abordagem econômica considera que a
maioria das mortes são, de alguma maneira, suicídios, pois poderiam ter sido
evitadas.
Mais a frente, os autores chamam nossa atenção para o aumento
da esperança de vida e afirmam que as ciências médicas progrediram muito a
partir do séc. XVII, principalmente durante a virada do século. Nesse período,
houve um maior conhecimento do corpo e uma maior compreensão das doenças, o que
resultou num aumento da esperança de vida. Houve também um aumento na
longevidade que se deu devido à eliminação das doenças infecciosas mais
causadoras de morte e que eram muito comuns nesta época, como por exemplo, a
pneumonia, a gripe, a tuberculose, o sarampo etc. Durante este período as
condições de vida também aumentaram muito nos países industrializados.
Houve um declínio da
mortalidade nos EUA relativo a nove doenças infecciosas mais causadoras de
morte e este declínio da mortalidade ocorreu antes da época em que as
intervenções médicas se tornaram disponíveis. Mas por quê? Mckinlay e Mckinlay
(1981) vêm nos explicar que medidas médicas contribuíram sim para o declínio da
mortalidade nos EUA a partir de 1900, mas que contribuíram pouco. Os progressos
no tratamento médico contribuíram para este declínio, mas as mudanças no estilo
de vida que ocorreram durante esse período também foram responsáveis por isso.
As mudanças significativas da expectativa de vida, que ocorreram durante o
século XVII em alguns dos países industrializados, não ocorreram somente devido
aos progressos dos tratamentos médicos, mas também devido às mudanças das
condições sanitárias, nutricionais e dos estilos de vida que também
contribuíram de forma significativa para o aumento da expectativa de vida.
Tendo em vista o
impacto do comportamento na saúde, o capítulo fez uma abordagem de um estudo
realizado por Belloc e Brelou e colaboradores sobre o impacto de alguns
comportamentos na saúde. Os resultados do estudo mostraram como nossa saúde é
influenciada pela maneira como vivemos. Em 1965, eles inferiram a 6928
moradores da Califórnia sete práticas de saúde, que eram as seguintes: 1.
Dormir no mínimo 7 a 8 horas por dia. 2. Tomar café da manhã quase todos os
dias. 3. Nunca ou raramente comer entre as refeições. 4. Sempre estar no peso
ideal ou próximo dele em função da altura. 5. Não fumar cigarros. 6. Usar
álcool moderadamente ou não consumir. 7. Praticar atividade física regulamente.
Os resultados do estudo mostraram que há relação entre bons hábitos e uma boa
saúde. As pessoas que seguiam todas as práticas apresentavam melhor saúde do
que as que não praticavam.
Resultados como estes
apoiam a ideia de que a maioria das mortes são provocadas pela própria pessoa,
pois poderiam ser evitadas se as pessoas possuíssem bons hábitos de saúde. A
promoção da saúde não tem apenas o tempo de vida como objetivo, mas também a
qualidade de vida. De acordo com a promoção da saúde, as pessoas devem adotar
estilos de vida mais saudáveis, não apenas para prolongar o seu tempo de vida,
mas também para ajudar a se manterem em forma mais tempo e a terem uma vida
ativa na velhice, sem sentir dores, ou ter doenças crônicas.
Considerando que o
estresse provoca um impacto na saúde, os autores alertam para a existência de
uma forte evidência de que o estresse psicossocial prejudica a saúde. O
estresse psicossocial causa alterações negativas no comportamento de saúde, e
esse comportamento contribui para as relações estresse-doença, como hábitos de
alimentação irregular, aumento do consumo de tabaco, consumo de álcool e
drogas, etc.
Stroebe e Stroebe nos
orientam a respeito de que ao focalizar somente nas causas biológicas da
doença, o modelo biomédico ignora o fato de que muitas doenças resultam de uma
interação entre acontecimentos sociais, psicológicos e biológicos. Devido a
estes problemas, Engel (1977) propôs um alargamento do modelo biomédico, com o
intuito de incorporar nele os fatores psicossociais. O modelo biopsicossocial
defende a ideia de que fatores biológicos, psicológicos e sociais são, todos
eles, importantes determinantes da saúde e da doença.
Wolfgang e Margaret nos
expõe a relação entre a psicologia social e a saúde. Assim, afirmam que uma das
razões que levou ao desenvolvimento da psicologia da saúde, no final dos anos
70, como um campo que integra o conhecimento psicológico de grande importância
para a manutenção da saúde, prevenção da doença e adaptação da doença, foi o
reconhecimento de que os estilos de vida e o stress psicossocial contribuem
para a extinção das doenças que mais causam mortes nos países industrializados.
Neste
capítulo, os autores se preocupam em direcionar o nosso olhar para a existência
de uma relação entre saúde e comportamento. Este capítulo nos deixa cientes de
que a nossa saúde é afetada por nosso estilo de vida. Que comportamentos
prejudiciais afetam nossa saúde de maneira negativa, mas que podemos prolongar
nosso tempo de vida se cuidarmos mais da nossa saúde. Os estilos de vida são
determinados por atitudes e crenças relativas à saúde, assim, para mudarmos os
comportamentos das pessoas precisamos mudar suas atitudes. Aqueles que desejam
conhecer a psicologia da saúde, que pretendem pesquisar ou trabalhar nessa
área, e até mesmo aqueles que estão sempre em busca de conhecer as diferentes áreas
de atuação em psicologia farão bom proveito desta leitura.
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