Uma nova forma de olhar para o estresse
Resenhado por
Luana Santos
McEwen, B. S. & Lasley, E. N. (2003). Uma nova forma de olhar para o estresse. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2003. In: O fim do
estresse como nós o conhecemos (pp. 15-33)
Como denotam
ambos os títulos, do capítulo e do livro, a proposta de McEwen e Lasley é
trazer um novo olhar para o fenômeno denominado estresse. Todos estão sempre
dizendo que estão estressados e todos querem evitar o estresse, mas o que é o
estresse? O texto explana sobre o tema, perpassando por várias abordagens e
estudos já conhecidos do campo, além de acrescentar novas perspectivas: a alostase e a carga alostática.
Sabemos que,
biologicamente, todos os sistemas do nosso corpo trabalham ‘em equipe’ visando
manter o equilíbrio. Na biologia esse processo de equilibração é denominado
homeostase. Às vezes, o processo precisa defender nosso corpo e desencadear uma
reação de luta ou fuga, mobilizando assim várias partes do organismo, desde
glândulas e hormônios, ao sistema imunológico e órgãos. Quando precisamos
potencializar nossa energia para um local específico, os autores não mais falam
em homeostase, mas sim em alostase. A homeostase seria responsável por manter
nossa temperatura corporal abaixo de 38°, por exemplo, já que sabemos que acima
desse limiar a temperatura pode ser perigosa. Já a alostase não se enquadra
nesse equilíbrio entre limites tão estreitos, estaria mais ligada aos momentos
de mudança, quando temos que ser flexíveis para lidar com limiares mais dinâmicos.
Uma sutil diferença entre sistemas homeostáticos e alostáticos é que os últimos
tem eles próprios a capacidade de mudar.
Uma reação
imediata nem sempre tem caráter de urgência, logo, a alostase também está
presente em circunstâncias mais amenas, como quando levantamos pela manhã,
passar do estado de sono para vigília requer uma pequena potencialização de
certos hormônios responsáveis por esse processo. Cada vez mais o processo
alostático está sendo ativado em nosso organismo por atividades que não possuem
um caráter de urgência, porém, que denotam estado ‘crônico’: o estresse não tem
sido ativado só por situações estressoras imediatas, a grande maioria das
situações que deflagram estresse hoje em dia são aquelas situações que perduram
– trabalhar para um chefe dominador, cuidar de algum ente querido enfermo,
entre tantas outras – assim, a alostase funciona constantemente para produzir
as substâncias necessárias para abrandar o estresse, e como o processo
alostático não delineia a urgência da situação, essas substâncias acumulam no
organismo e causam desgaste. É como uma
gangorra que aguenta tranquilamente 5kg de cada lado. Porém, se colocamos 500kg
de cada lado, ela ainda sim vai estar equilibrada, mas provavelmente a tensão
de tanto peso vai fazê-la quebrar, o mesmo ocorre conosco; em demasia, o ‘peso’
nos quebra, ou seja, adoece-nos.
Não há como
falar em estresse sem citar a importância dos estudos de Hans Seyle. Hans Seyle
reconhecia os sistemas fisiológicos envolvidos na reação do corpo ao desafio,
falando de estresse da mesma forma que McEwen e Lasley denominaram como carga
alostática. Ele destacava que pacientes com doenças infecciosas tinham muitos
sintomas similares, mas como isso aparentemente não interessava aos médicos
daquela época, ele só retornaria ao assunto mais tarde ao estudar hormônios e
seus efeitos em ratos. Em seus experimentos com hormônios em ratos, Seyle
começou a perceber reações generalizadas semelhantes ao injetar hormônios e as
mesmas reações ao injetar formol – que funciona preservando tecidos e é também
um irritante muito poderoso. Ao conseguir traçar um elo entre os pacientes com
doenças infecciosas e as reações generalizadas semelhantes nos ratos, Seyle cogitou
a existência de um mecanismo organizado para ajudar o corpo a lidar e enfrentar
uma variedade de ataques. A partir daí, denominou esse mecanismo como Síndrome
de Adaptação Geral, incluindo três estados de estresse: reação de alarme,
estado de resistência e estado de exaustão, passando então, a estudar mais a fundo a
‘área’.
A descoberta foi
denominada por Seyle ‘stress’, por
não possuir equivalente em outras línguas e, assim, eliminar os significados
múltiplos da palavra. Outros estudos começaram a surgir e perduram até os dias
atuais, nos campos biológico, psicológico e social, isoladamente ou tentando
ligar o conjunto biopsicossocial à origem e desenvolvimento do estresse.
Enfim, no mundo
dinâmico contemporâneo, os estressores também são mutáveis e variados, e diante
de tudo que foi exposto, McEwen e Lasley encerram o capítulo advertindo que a
melhor maneira de lidar com o estresse é preservar nossa saúde física e mental,
um feito não tão simples, mas também não impossível. Se por um lado já se sabe
que hábitos saudáveis auxiliam na manutenção da saúde, por outro também já se
descobriu que a própria natureza da carga alostática não permite curas rápidas.
“O equilíbrio é restabelecido [...] pelo
estabelecimento gradual e permanente de novos hábitos baseados na compreensão
de como o cérebro e o corpo funcionam”(pp. 32), e novos conhecimentos são
somados ao leque já existente, dia após dia.
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