Depressão em pauta: um estudo sobre o discurso da mídia no processo de medicalização da vida


Resenhado por Rafael Matos

Soares, G.B.; Caponi, S. (2011). Depressão em pauta: um estudo sobre o discurso da mídia no processo de medicalização da vida. Interface - Comunicação, Saúde, Educação, 15 (37), 437-46.

O presente texto visa analisar o que se tem discutido sobre a depressão na mídia e como estes discursos contribuem para o processo da medicalização da vida, processo este que de acordo com Conrad (2007), é caracterizado por mecanismos que levam a tornar médicos certos acontecimentos ou eventos cotidianos.  Para isso, as autoras realizaram uma pesquisa descritiva, analisando matérias jornalísticas divulgadas em publicações online do jornal A Folha de São de Paulo e da revista Veja no período de 1999 a 2008.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2011), 9,5% das mulheres e 5,8% dos homens passarão por um episódio depressivo num período de um ano, mostrando uma tendência ascendente nos próximos vinte anos. Estimativas como estas podem ser levadas em consideração para o entendimento dos frequentes relatos na mídia sobre a depressão.
A questão principal do artigo gira em torno não da frequência de divulgação de notícias sobre depressão, e sim, pelos conteúdos das mesmas. Segundo Horwitz (2007), o espaço dado na mídia aos relatos de depressão apresentam um caráter de onipresença deste transtorno. Além disso, como constatado pelas autoras depois de feitas as análises, há um predomínio do estímulo ao diagnóstico precoce e ao autodiagnostico, além de mostrarem como predominantes intervenções em que o foco social não é priorizado.
Segundo Cornad e Horwitz (2007) a expansão do processo da medicalização da vida, pode ser visualizada na mídia mediante alguns aspectos, a saber: redução de causas complexas de vida para o entendimento dos determinantes da depressão, identificação das patologias por sinais e sintomas, o que em muitas vezes levam a autodiagnósticos imprecisos, prescrição de medicamentos como tratamento primordial, para citar os principais.
No caso da depressão, por não se ter ainda um marcador biológico, ou seja, por não se ter um atributo biológico que evidencia a presença da doença, a psiquiatria em especial, na ausência deste marcador, utiliza a ação do medicamento. Caso o medicamento sorta efeito, atribui-se as razões da depressão a causas biológicas.
Destarte, é possível perceber que há uma frequente busca por modelo explicativo com bases biológicas para a depressão, aumentando o uso de antidepressivos, o que leva a um fortalecimento da indústria farmacêutica.
Vale ressaltar, que condições melhores de saúde não se dão pelo uso arbitrário e primordial de determinadas ações interventivas em detrimento de outras, e sim, pelo reconhecimento do uso de métodos e técnicas a depender das situações particulares dos indivíduos. Há situações que demandam por ações intersetoriais para a potencialização de uma vida de qualidade e não apenas o uso de medicamentos.
Através do presente texto, percebemos que ao expor notícias tendenciosas e distorcidas com caráter de verdades absolutas, a mídia, em alguns casos contribui para transformar o cotidiano em patológico. Aspectos complexos da vida antes considerados normais passam a ser patologizados e medicalizados.



Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.