“Mobbing” (Assédio Psicológico) no trabalho: Uma Síndrome Psicossocial Multidimensional

Resenhado por Iracema Freitas

Guimarães, L. A. M.;  Rimole, A. O. (2006). Mobbing” (Assédio Psicológico) no trabalho: Uma Síndrome Psicossocial Multidimensional. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Mai-Ago, Vol.22 n.2, pp 183-192.

 O assédio psicológico no trabalho é um fenômeno generalizado que compromete a força de trabalho, e tem sido estudado em vários países como Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão, Nova Zelândia. No Brasil, não há muitos estudos dentro do campo da saúde mental, porém como o mobbing se mostra uma forma de mal-estar que causa adoecimento, tem mobilizado pesquisadores da área de saúde mental ocupacional. A OTI (Organização Internacional do Trabalho), considera o amedrontamento, a intimidação ou assedio psicológico no trabalho como atos de violência. O que implica em custos para o indivíduo em termos de saúde, da organização e da sociedade. De acordo com Piñuel y Zabala e Cantero (2003), o mobbing no trabalho deve ser considerado como grave ameaça a saúde dos trabalhadores, uma vez que compromete a saúde física e mental da população ativa.
O termo mobbing pode ser confundido com bulling, mas segundo Leymann(1990), o primeiro se aplica a adultos em ambiente de trabalho que sofrem violência psicológica, e o segundo a crianças e adolescentes no contexto escolar que sofram também algum tipo de violência física. A origem da palavra deriva da etologia (Nikon Tinbergen e Konrad Lorenz), em que o comportamento de mobbing se caracteriza pelo ataque coletivo a um alvo considerado perigoso, por exemplo, um predador. A função dos membros da mesma espécie é confundir e afastar o inimigo através de vocalizações e ameaças a distância, porém algumas espécies podem defecar e vomitar no alvo, o que confere um caráter de contato físico ao embate. Percebe-se que mobbing na perspectiva etológica é uma reação adaptativa de preservação de uma espécie. A popularização do termo no comportamento social, veio em 1980 com o psicólogo Heinz Leymann (“o pai do mobbing”). No ambiente organizacional, o mobbing está relacionado a uma reação extrema do sujeito diante de uma situação ameaçadora ou estressora. Para Leymann, o fenômeno é descrito como um conflito em que a ação envolve a manipulação do outra pessoa, num sentido negativo, envolvendo quatro grupos de comportamentos: manipulação da comunicação da vítima(interrupção da comunicação); manipulação da reputação da vítima(tentativa de denegrir a reputação do outro); manipulação do trabalho da vítima( atingir a dignidade profissional da pessoa) e manipulação das contrapartidas laboriais ( discriminação contra salários, respeito, direito e outros), quando essas ações são realizadas propositalmente e com certa regularidade caracterizam o mobbing. Além das vítimas desse tipo de violência, aqueles que presenciam tais ações podem ser afetados psicologicamente, uma vez que testemunhar o assédio pode ser desencadeador do estresse geral.  Leymann desenvolveu em 1990 o LIPT (Leymann Inventory of Phisicological Terrorization) em que o mobbing deve compreender pelo menos uma das 45 formas de comportamento descritas no instrumento.
Na delimitação do conceito de mobbing, é preciso descartar o estresse causado por urgência na execução de alguma tarefa, a competitividade empresarial, ter um dia ruim de trabalho, algum conflito com colega, ser cobrado por um chefe exigente. E ainda, assédio sexual, racial e outros tipos de agressões que também causam danos físico e psicológicos. Esses são conflitos em muitos contextos inevitáveis, o mobbing é um processo de destruição continuo, resultante da regularidade de situações hostis, que acontecem dentro de um domínio onde a vítima está sujeita a tal situação em virtude de uma necessidade maior, por isso o mobbing também é chamado de psicoterrorismo. Habitualmente as vítimas são atacadas por apresentarem alguma diferença do grupo, como cor da pele, sexo ou qualquer outra característica física.
De acordo o Leymann, os tipos de mobbing são: horizontal- quando se assediado por alguém do mesmo nível hierárquico; ascendente - alguém do nível hierárquico superior se vê agredido por subalternos; e descendente - quando aquele que detém o poder mina a esfera psicológica do trabalhador através de ofensas, insultos e depreciações. As fases típicas : fase de conflito – quando conflitos interpessoais por interesses ou objetivos distintos começa a estigmatizar-se levando ao enfretamento constante; fase de mobbing ou estigmatização – o assediador executa estratégias de humilhação, ridicularizando e isolando socialmente a vítima, esse é mobbin propriamente dito; fase de intervenção da empresa – punindo assediador(solução positiva) e  quando a vítima é considera pela empresa como o problema a ser combatido (solução negativa); fase de marginalização ou exclusão da vida laborial - a vítima abandono o emprego depois de várias licenças. Já aqueles que suportam o assédio e permanecem no trabalho, podem agravar ainda mais o seu estado de saúde já comprometido pela exposição ao ambiente estressor. e em casos extremos pode chegar ao suicídio.
            Os fatores de risco, estão ligados a variáveis individuais, situacionais e organizacionais. Com ênfase no impacto dos fatores organizacionais e socioeconômicos sobre o indivíduo. Portanto, no contexto do estresse o mobbing é considerado um grave estressor social, caracterizado por fatores multicausais que tem vários efeitos adversos à saúde.
Diante do quadro apresentado, a prevenção e intervenção frente ao fenômeno do mobbing, deve ser multidisciplinar, envolvendo trabalho psicológico e suporte jurídico em parceria com outras áreas, dando suporte emocional e físico para o enfretamento do problema. O público alvo dessa modalidade de assedio é constituído pela população dos trabalhadores distribuídos em todas as modalidades de atividades laborais, que quando afetados trazem prejuízos físicos e mentais para si, sociais e organizacionais para toda a comunidade. 

Enfim, esse artigo é um leitura recomendada aos profissionais na área da saúde, jurídica, administrativa, estudantes e demais interessados no tema, pois o texto trata do assédio no trabalho como fator gerador de adoecimento físico e psíquico, além de abordar a necessidade de um assessoramento as vítimas dessa violência.

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