Qualidade de vida e desesperança em familiares de dependentes químicos
Aragão, A. T. M., Milagres, E., Figlie, N. B. Qualidade de vida e desesperança em
familiares de dependentes químicos.
Psico-USF, v. 14, n. 1, p. 117-123, jan./abr. 2009
O sistema familiar é diretamente afetado pela
presença de um membro dependente químico. A relação deste com os demais membros
da família pode comprometer a saúde mental dos envolvidos, gerando até transtornos psíquicos nestes. O presente
estudo foi realizado em São Paulo teve o
objetivo de medir a qualidade de vida e desesperança num grupo de 56 mulheres (mães,
companheiras e irmãs), que lidam com dependentes do álcool em casa. Todas são
participantes do CUIDA (Centro Utilitário de Intervenção e Apoio aos Filhos de
Dependentes Químicos) que oferece assistência psiquiátrica e psicológica aos
familiares e dependentes químicos, como também orientações e psicoterapia
familiar.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS),
qualidade de vida está relacionada com o modo como o sujeito se sente diante de
contextos que interfiram na sua saúde e em seus comportamentos diários. No
contexto em que as condições de saúde mental e física são atingidas, o indivíduo
pode desenvolver transtornos psiquiátricos como depressão, sendo a desesperança
fator relevante para tal condição. Segundo Stotland (1969), as pessoas
desesperançadas acreditam que nada sairá bem para elas, que nunca terão sucesso
no que tentarem fazer, e que suas metas
importantes jamais poderão ser alcançadas e bem como seus piores problemas nunca serão solucionados
(Beck, 2001).
Para
a coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos : Critérios de
Classificação Econômica do Brasil (CCEB )instrumento que estima o poder de
compra dos indivíduos e famílias urbanas; Levantamento Sócioeconômico (LSE) do
IBOPE, que classifica-os por classes econômicas (A, B, C, D, ou E); a Beck
Hopelessness Scale (BHS) (Beck, 2001) permite avaliar a extensão das
expectativas negativas a respeito do futuro imediato e remoto, classificando os
resultados como nível: mínimo, leve, moderado ou grave; e o o WHOQOL-Bref (Fleck, Louzada,Xavier,
Chachamovich, Vieira, Santos & Pinzon,2000) , instrumento desenvolvido pela
(OMS) possui 26 questões sobre qualidade de vida dividida em quatro domínios:
físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente. Os resultados indicaram
que 83% (n=47) das mulheres pesquisadas possuem desesperança mínima e leve. Da
amostra total 23% (n=13) apresentaram diagnóstico de depressão e 5% (n=3)
diagnóstico de ansiedade, sendo que 16% (n=9) dessas entrevistadas apresentaram
desesperança moderada e grave.
De
modo geral, os dados encontrados revelaram que conviver com dependentes
químicos interfere na qualidade de vida de seu familiar. Entendendo qualidade
de vida como uma experiência subjetiva, ela pode garantir ao indivíduo
habilidades de enfrentamento que nos resultados do estudo foram refletidas como
desesperança leve e moderada. Apesar da relação com dependentes do álcool
afetar a harmonia familiar, as mulheres definem sua qualidade de vida como
adequada mesmo diante dos acontecimentos externos, ou seja, seu estado mental
diante dessa situação de crise é de fortalecimento. Nos casos, onde não houve
enfrentamento, constatou-se transtornos psiquiátricos como depressão e
ansiedade.
O
consumo desordenado do álcool compromete a vida do dependente e dos familiares.
Os resultados do estudo sugerem que a realização de intervenções junto aos familiares
de dependentes pode diminuir a possibilidade de ideação suicida decorrente da
depressão e da desesperança, e servir como um trabalho preventivo de diagnóstico
psiquiátrico.
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