Motivações para o uso de esteróides anabolizantes entre fisiculturistas


Resenhado por Ariane de Brito


Wright, S.; Grogan, S.; & Hunter, G. (2000). Motivations for Anabolic Steroid use Among Bodybuilders. Journal of Health Psychology, 5 (4), 566–571.


O presente estudo foi realizado no ano 2000, e mesmo já tendo se passado quatorze anos, sua temática ainda continua relevante. O objetivo geral foi o de investigar as motivações que levam fisiculturistas a usarem esteróides anabolizantes (EAA) para alterar a forma e o tamanho do corpo. Os autores partiram da premissa de que os fisiculturistas competitivos poderiam experimentar pressões externas para usar EAA com o intuito de atingir níveis excepcionalmente elevados de musculosidade, tal como é exigido nas competições (Tricker, O'Neil, & Cook, 1989), e que os fatores motivadores daqueles que não pretendem competir são menos óbvios e, portanto, mais interessantes para serem investigados.
De modo geral os esteróides anabolizantes como a testosterona produzida naturalmente, tem dois efeitos principais: o anabólico e o androgênico. Seus efeitos colaterais incluem distúrbios do fígado e rins, icterícia, tumores, cistos e acne, e alguns deles continuam mesmo depois da pessoa suspender o uso de anabolizantes.  Em relação aos efeitos psicológicos tem-se encontrado correlações entre uso de anabolizantes e o aumento da irritabilidade, mau humor e agressividade (Choi, Parrott, & Cohen, 1990; Yesalis & Bahrke, 1995).  
Os autores mencionam que os esteróides anabolizantes foram usados ​​por fisiculturistas para aumentar a massa muscular por muitos anos (Strauss & Yesalis, 1991), e que seu uso tornou-se mais generalizado na Grã-Bretanha na década de 1990, em paralelo com a preocupação com a imagem corporal, principalmente entre os homens. Apesar da grande extensão do uso recreativo de EAA, poucas são as investigações acerca das motivações que levam os indivíduos a utilizar tais substâncias.
No método de pesquisa, os autores realizaram, inicialmente um estudo piloto entrevistando três fisiculturistas (dois ex-usuários de anabolizantes, um usuário atual). As entrevistas foram transcritas na íntegra e submetidas a uma desconstrução temática (Stenner, 1993). Os temas que emergiram do estudo piloto deram origem a um questionário que foi colocado nas edições de duas revistas de fisiculturismo Setembro / Outubro de 1998: Muscle and Fitness e Battle News. Os entrevistados foram solicitados ainda a adicionar qualquer comentário com o objetivo de ajudar na compreensão da motivação para a utilização de esteróides no final do questionário. Dois mil questionários foram fornecidos para a Battle News e para 3000 Muscle and Fitness.
Cento e trinta e cinco indivíduos preencheram e enviaram os questionários: 57 da Muscle and Fitness, e 78 da Battle News. Dos respondentes, 88% foram do sexo masculino e 44% tinham feito uso de anabolizantes. Os resultados encontrados indicaram principalmente que: os homens foram mais propensos do que as mulheres a relatarem o uso de esteróides (48% contra 13%); destes todos relataram uso de esteróides em ciclos, de duração média de nove semanas; a idade média em que se iniciou o uso foi de 26 anos, e a média de tempo de uso foi de 4 anos; 42% tinha entrado na musculação/treinamento para competição, 46% estavam se planejando para competir; e 61% treinavam pelo menos quatro dias por semana.
Sobre a análise de conteúdo das questões abertas, esta indicou que: (1) Ficar maior/mais musculoso, foi o motivo mais relatado pelos usuários de esteróides (31%), destes, 21% relataram aumento da confiança e 76% concordaram que o uso de anabolizantes ajudou-os a atingir seu corpo ideal. O fato dos entrevistados terem relatado que experimentaram se aproximar do corpo ideal através do uso de esteróides, indica que este seja um motivador importante entre esse público.
Uma minoria significativa de usuários relatou ainda que experimentaram EAA porque queriam (2) ficar maior mais rápido (17%), esse dado é importante, uma vez que nas entrevistas eles relataram que um dos incentivos primários para tomar esteróides era o fato de não conseguirem aumento significativo de massa muscular apenas com a musculação. Segundo os autores, este pode ser um momento crítico na decisão de uma pessoa tomar esteróides, e também um momento onde as informações acerca dos efeitos nocivos e a redução desses danos precisam estar disponíveis para os potenciais utilizadores.
Pessoas que usaram esteróides foram significativamente mais propensas a relatar que eles foram influenciados por ver outros homens musculosos (71%). Parece que prováveis ​​fisiculturistas que usam anabolizantes são um grupo que, particularmente, são influenciados pela imagem corporal e pelos processos de comparação social, uma vez que o tamanho do corpo é auto- relevante e importante para eles, especialmente se eles estão com o plano de competir (Grogan, 1999).
Além desses dados, encontrou-se também que os participantes que não fazem uso de anabolizantes foram os mais propensos a descrever os efeitos colaterais físicos negativos dessas substâncias (95%).
Por fim, os autores concluem o estudo de maneira cautelosa, uma vez que mencionam a limitação da amostra, que não pode ser considerada representativa da comunidade de musculação e de fisiculturistas. As motivações encontradas foram consideradas complexas e específicas de cada sujeito. No entanto, a existência de motivos comuns que levam ao uso de EAA pode ajudar no desenvolvimento de estratégias de prevenção de drogas para esse público. Para eles, é evidente que a cultura encoraja o culto ao corpo, a musculação e o uso de esteróides, mas sem o desenvolvimento de uma política que busque minimizar os danos específicos e informar acerca dessas substâncias, fisiculturistas ou não continuarão a se expor a níveis perigosamente elevados de esteróides.

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