Efeitos psicológicos do abuso de anabolizantes

Resenhado por Monique Carregosa

Martins, C. M. et al. (2005). Efeitos psicológicos do abuso de anabolizantes. Rev. Ciências & Cognição, 5, 84-91. Disponível em: <http: // www.cienciasecognicao.org>.
       
Apesar do uso de anabolizantes ser indicado para fim terapêutico de reposição hormonal, está havendo uma utilização abusiva dos esteróides anabólicos androgênicos (EAA) ou também chamados de "bomba" por parte dos jovens, para fins estéticos. O interessante é que apesar de parecer ser um tema atual, os autores fazem um apanhado histórico e mostram que o uso da substância ocorre desde a Grécia Antiga por campeões olímpicos; perpassando pela 2ª Guerra Mundial, para o tratamento de doenças associadas à debilidade crônica, depressão e recuperação de grandes cirurgias; até se espalhar no atletismo, causa de ter sido vedado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional).
        Além disso, acreditava-se que as alterações de imagem corporal só estavam presentes em mulheres, mas nos dias atuais, verifica-se o aumento de casos masculinos com este quadro. Assim, conforme Hildebrandt et al. (2004), enquanto as mulheres querem estar cada vez mais magras, os homens almejam estar mais fortes e musculosos.
        Desta feita, faz-se uma revisão dos achados acerca da temática, mas objetivando priorizar os sintomas psicológicos em detrimento dos físicos, visto que os primeiros carecem de uma maior ênfase, justamente porque não são muito divulgados e mostram que as consequências do uso não estão só voltadas para as questões orgânicas, mas acometem a vida biopsicossocial do indivíduo.
Entre as pesquisas encontradas, destacam-se a de Poper e Katz (1994), em que se constatou que 25% dos usuários de EAA possuem algum tipo de transtorno de humor, desde mania e transtorno bipolar até depressão profunda; a de Silva et al (2002), que encontraram correlação entre o uso indiscriminado de EAA e atos agressivos em geral, destacando para mudanças súbitas de temperamento, síndromes comportamentais e crimes contra a propriedade. Outros estudos consideram os EAA como importantes agentes etiológicos da síndrome comportamental de risco nos adolescentes (Middleman & DuRant, 1996).
        Ainda há estudos que correlacionam sintomas ao uso de um esteróide específico, como o metandienona aos casos de esquizofrenia aguda e o uso de oxandrolona e oximetolona a casos de mania, hipomania, confusão mental, paranóia e depressão. Além disso, para Lise (1999) a interrupção do uso de anabolizantes gera, dentre outros problemas, uma síndrome de abstinência, em que seus sintomas correspondem com os critérios da DSM-IIIR e é confirmada pela Associação Psiquiátrica Americana (APA, 1994) como "transtorno de dependência do hormônio esteróide sexual" (Kashkin & Kleber, 1989).
        Entretanto, ainda há uma condição considerada mais grave, decorrente do uso dos anabólicos: o chamado transtorno dismórfico corporal (TDC), o qual pode ser definido por ocasionar uma distorção da imagem/percepção física por parte do paciente. Esse transtorno ainda relaciona-se, no sentido de apresentar características comuns, tanto com o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) como com a anorexia. Sobre isso, os autores lembram que a dismorfia muscular já foi chamada de anorexia nervosa reversa.
        Desse modo, os autores descrevem que a forma como o corpo é percebido parece estar diretamente vinculada ao uso de anabolizantes e apontam que a terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se mostrado eficaz para o tratamento da dismorfia muscular. Todavia, o uso de medicação não é aconselhável, em função da dependência que pode ocasionar, e, que mesmo com a eficiência da TCC, faz-se necessário estudos para a análise da melhor abordagem terapêutica, a fim de melhores e/ou comparações de resultados.

Portanto, a leitura do presente texto é recomendada a estudantes e profissionais que tiverem interesse na temática, principalmente em estudar e entender os fatores psicológicos envolvidos e que refletem a busca pela aparência física perfeita. Assim, a preocupação está na falta de conhecimento dos reais e sérios problemas envolvidos ou por saberem, mas não pensarem nas consequências a longo prazo.  

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