Associação de Fatores Sociodemográficos com Depressão em Mulheres em Idade Reprodutiva
Resenhado
por Lucila Moraes
Ali, F.A.; Rukhsana, W.Z. (2001).
Association of Sociodemographic Factors With Depression in Women of
Reproductive Age. –Asia-Pacific Journal
of Public Health, 24(1) 161-172.
O
estudo tem como objetivo identificar os fatores associados com alta carga de
depressão entre as mulheres e indicar medidas que podem ter implicações
políticas para diminuir a carga dessa doença no Karachi (Paquistão).
Estudos confirmam que os países em desenvolvimento possuem
um alto percentual de depressão, e que o predomínio dessa doença é maior que
50% nestes países. Outro fator importante de ser destacado é que a depressão é
duas vezes mais comum em mulheres que homens, e tal fato podem ser atribuído
tanto a fatores biológicos (predisposição genética, por exemplo) como ambientais
(um histórico familiar de transtorno de humor, histórico de abuso sexual na
infância).
No
Karachi, numa pesquisa feita em uma comunidade de classe-média-baixa
semiurbana, encontrou-se que a predominância de depressão entre donas-de-casa
foi de 30%, e a maioria das mulheres relataram que problemas financeiros,
interpessoais e familiares eram grandes contribuidores para a doença. Importante
ressaltar que a violência contra a mulher no Paquistão é bastante comum como
também o é em outras partes do mundo. Em outra pesquisa realizada pelas Nações
Unidas descobriu-se que 50% das mulheres paquistanesas são fisicamente
agredidas, e 90% são abusadas por seus companheiros, seja mentalmente ou
verbalmente.
Em
suma, a depressão é um transtorno metal comum, especialmente entre mulheres que
vivem em países em desenvolvimento. Estudos indicam que adversidades sociais
como: baixa educação, o fato das mulheres estarem desprivilegiadas e serem
maltratadas pelos seus parceiros são determinantes importantes para o
desenvolvimento da depressão. Nos países em desenvolvimento, a revelação de que
uma mulher sofre de estresse psicológico e emocional ainda é bastante
estigmatizado, o que acarreta num atraso do diagnóstico e consequentemente
morbidez da depressão. Por isso, explorar os fatores e suas associações com a
depressão é muito importante no contexto do Paquistão, justamente por causa da
cultura específica em que as mulheres de lá se encontram e da dificuldade em
revelar suas necessidades sociais e psicológicas.
Um
estudo controle foi conduzido no Hospital Universitário de Aga Khan e na
clínica psiquiátrica Hospital Nacional de Liaquat, utilizando 418 voluntárias
do sexo feminino, sendo 209 do grupo controle e 209 pacientes. As pacientes
possuíam entre 15 a 49 anos e haviam sido diagnosticadas com depressão por
psiquiátricas de acordo com o critério do DSM-IV, e marcaram um escore de 8 ou
mais no Questionário Auto-Relatório para
Ansiedade e Depressão (SRQ20). No grupo controle foram selecionadas mulheres
que estavam em idade reprodutiva e não possuíam nenhuma história psiquiátrica
ou depressão de acordo com o SRQ20. O resultado foi coletado através de
questionários autoadministrados
O
estudo mostrou que fatores como: Aumento dos anos de casamento (ou seja, quanto
maior o tempo de casada), abuso físico ou verbal por parceiros ou por seus
familiares, pouco tempo na companhia do marido (3 horas ou menos) e insatisfação
com a vida matrimonial estão intimamente associados com a depressão entre as
mulheres casadas em idade reprodutiva no Paquistão. Essas associações podem ter
ocorrido pelo fato das mulheres serem oprimidas e abusadas pela sociedade em
que vivem, e também como resultado da falta reconhecimento das necessidades da
esposa. Com tais resultados é possível montar um programa mais específico de
auxílio a tais mulheres casadas, como o desenvolvimento de programas que
incentivam a comunicação do casal, disponibilização de atendimento
psicoterapêutico gratuito, bem como campanhas para o fim da violência
doméstica, já que se sabe que todos estes fatores tem uma influência
significativa no quadro de depressão dessas mulheres.
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