Venda irregular de anabolizantes em lojas agropecuárias

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Postado por Monique Carregosa

Os esteróides anabólico androgênicos (EAA) são substâncias sintéticas à base de testosterona, e, dentre as inúmeras contribuições clínicas, proporcionam o desempenho muscular. Apesar de não poderem ser vendidos sem prescrição médica, não é difícil encontrar lojas de produtos agropecuários que comercializam os EAA indiscriminadamente.

Fonte: http://g1.globo.com/goias/noticia/2014/07/video-mostra-venda-irregular-de-anabolizantes-em-lojas-agropecuarias.html

A venda indiscriminada de esteroides anabolizantes, na maioria das vezes de uso veterinário, é feita sem nenhum controle e prescrição médica em estabelecimentos de Goiânia. Uma equipe da TV Anhanguera flagrou a compra irregular desses produtos por homens e mulheres que querem ganhar musculatura com rapidez. Um deles, que não quis se identificar, conta que chegou a ficar quatro dias internado após aplicar uma dessas substâncias no braço.
Os esteroides anabolizantes são substâncias criadas em laboratório para melhorar o desempenho dos músculos e não podem ser vendidos sem prescrição médica. No entanto, não é difícil encontrar lojas que vendem produtos agropecuários e que fazem esse comércio ilegal. Com uma câmera escondida, um produtor da TV Anhanguera se apresentou como criador de animais em um desses estabelecimentos e flagrou a venda irregular desses.
Na gravação, uma funcionária pergunta ao produtor sobre a receita, mas outra, que seria médica veterinária, diz que já o conhece e que faz o documento para ele. “Já vendi para ele ontem. Pode ir lá que ele vai tirar para você”, afirma a mulher.Muitas pessoas recorrem às academias para ter o corpo perfeito, mas a promessa de atingir o objetivo em menos tempo é um atrativo dos anabolizantes. Um professor de educação física, que trabalha há 20 anos em uma academia na capital, e que não quis se identificar, conta que o uso das substâncias por alunos é cada vez mais frequente. “Com o aumento dessa área fitness, o uso de anabolizantes aumentou bastante. Hoje a compra é um pouco mais difícil, mas mesmo assim tem gente que mexe, que usa e comercializa”, afirmou.Ele revela que muitos jovens chegam a usar superdoses para aumentar os efeitos. “Hoje um animal de 100 quilos que vai tomar em torno de 5 ml. Já uma pessoa que pesa cerca de 50 quilos chega a tomar 20 ml, e até mais”, conta o professor.
RiscosNas redes sociais, a comercialização dos anabolizantes também é comum. Em uma das páginas, o fornecedor faz propaganda das vantagens do ganho de peso rápido e faz promoção, como frete grátis para entrega. “Hoje seria impossível o ser humano chegar ao ponto de competição sem o uso desses produtos. Qualquer atleta que disser que nunca usou os produtos estará mentindo”, garantiu o professor.
O presidente da Associação Goiana de Fisiculturismo, Márcio Rezende, rebateu essa afirmação e diz que essa prática foi comum no passado, mas hoje deixou de ser usada. “Existem vários estudos que explicam como o atleta pode atingir seus objetivos com alimentação saudável, suplementação. Então está tudo mais acessível”, afirmou.
O uso frequente de anabolizantes quase matou um homem, que não quis se identificar, que mora em Goiânia. Ele conta que sabia que os produtos eram ilegais, mas mesmo assim fez a aplicação. “Sofri alguns efeitos colaterais graves. Eu fiquei internado quatro dias após tomar 1 ml de intramuscular. Três dias depois eu fui parar no pronto-socorro e fiquei quatro dias internado fazendo a limpeza do organismo. O produto afeto meu fígado”, relata.Ele relata passou mais de 20 anos usando os esteroides anabolizantes. “É como um vício. A vontade de ficar forte é maior. Você acaba se rendendo aos anabolizantes, não tem como. É como se fosse um crack, um vício que você tem e que você vai perpetuar ao longo da sua vida”, disse.
O cardiologista Gustavo Esteves alerta para os perigos gerados a saúde por essas substâncias. “A própria hipertrofia do músculo cardíaco é uma dessas consequências e é irreversível. E ela por si só aumenta o risco de que esse paciente desenvolva o quadro de uma morte súbita”, explica.
Fiscalização
O presidente do Conselho de Medicina Veterinária, Benedito Dias de Oliveira Filho, diz que a legislação precisa ser mais rigorosa para evitar abusos. “As leis que existem hoje não são suficientes para evitar que esse tipo de situação não aconteça mais. Para se ter uma ideia, a exigência do receituário médico veterinário para este tipo de droga só começou a valer neste ano. O Ministério da Agricultura é o órgão responsável por fazer a fiscalização, mas conta com poucos funcionários, esse processo ainda se encontra em fase de implantação”, destacou.

Segundo Filho, é preciso ter uma legislação que exigisse a presença de um médico veterinário em tempo integral nas lojas que vendem produtos agropecuários. “Como acontece hoje com a farmácia humana. Pois a presença do profissional que tem a responsabilidade pelo comércio dos anabolizantes e indicação dos produtos, não é exigida em tempo integral e sim com uma carga horária de seis horas por semana”, disse.Procurado, o Ministério da Agricultura informou, em nota, que a fiscalização é feita de rotina em lojas que vendem os produtos de uso veterinário e que recebe um relatório trimestral de armazenamento dos remédios, além do controle de entrada e saída desses produtos.Sobre uma fiscalização dirigida aos estabelecimentos que fazem o comércio irregular, o ministério disse que só faz esse trabalho após uma denúncia formal aos órgãos policiais. Sendo assim, o Departamento de Jornalismo da TV Anhanguera, que está com os produtos adquiridos pelo produtor, fará um ofício e encaminhará as substâncias para a Delegacia de Defesa do Consumidor (Decon), que vai analisar se abre uma investigação sobre o caso.




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