Depressão: uma breve revisão dos fundamentos biológicos e cognitivos.
Resenhado por Laís Almeida
Bahls, S. C. (1999). Depressão: uma breve revisão dos fundamentos biológicos e cognitivos. Interação em Psicologia (Qualis/CAPES: A2), 3(1).
O
objetivo desse trabalho é detalhar os fatores biológicos e cognitivos da
depressão. O artigo introduz essa temática ressaltando a importância do tema
nos contextos de atenção à saúde, visto que se trata de uma patologia com alto
crescimento na população e que, segundo a OMS, pode chegar ao ponto de
substituir os problemas de doenças infecciosas e desnutrição nas próximas duas
décadas.
Dentro
do modelo biológico da depressão há várias teorias que se baseiam na relação
dos neurotransmissores cerebrais e seus receptores. A principal hipótese
envolvendo os neurotransmissores envolve as monoaminas, as quais subdividem-se
em catecolaminas: dopamina e noradrenalina, e na indolamina: serotonina. A
hipótese catecolaminérgica de Schildraut, Bunney e Davis (1965) sugeria que a
depressão se associava a um déficit das catecolaminas. Anos depois, Van Praag e
Korf (1971) criaram a hipótese serotonérgica. Por último, a hipótese
dopaminérgica de Wilnner (1990), a qual explorava a implicação da dopamina nos
mecanismos de recompensa cerebral e no aumento de respostas comportamentais à
dopamina causadas por antidepressivos tricíclicos.
O
artigo mostra algumas evidências que reforçam a hipótese das monoaminas, dentre
elas: a) drogas, como a reserpina, que anulam esses neurotransmissores são
capazes de induzir depressão; b) alguns precursores da serotonina apresentam
efeito antidepressivo leve; c) a redução da concentração de serotonina e de seu
principal metabólito ocorre no cérebro de vítimas de suicídio, alcançado de
maneira violenta, e no líquor de pacientes deprimidos.
Devido
à resistência a hipótese das monoaminas, o foco passou para os receptores dos
neurotransmissores. Fato que derivou dos seguintes achados: a) a depleção de
monoaminas aumenta o número de receptores pós-sinápticos; b) cérebros de
pacientes suicidas concentram maior número de receptores 5HT2 no córtex
frontal; c) a ativação de subtipos do mesmo receptor provoca efeitos diversos e
opostos. O artigo sugere que anormalidades devem ser procuradas na expressão
genética de enzimas e receptores cerebrais e deve-se saber mais sobre o que
ocorre no interior no neurônio pós-sináptico após a estimulação do receptor.
Através de estudos de neuroimagem estrutural e funcional foram descobertas
áreas responsáveis por alterações emotivas, motoras, de sono, apetite, conduta
sexual, imunológicas e cognitivas na depressão.
Ao
abordar o modelo cognitivo da depressão, o autor explica que todos os afetos
são secundários à cognição, sendo esta o modo peculiar de como vivenciamos e
interpretamos os acontecimentos. Ele destaca a importância de vários autores,
dentro os quais Beck, o qual postula que a cognição é o fator determinante da
doença, Bandura, que defende que pessoas deprimidas apresentam expectativas de
desempenho excessivamente elevadas conduzindo-as ao fracasso, e Seligman, autor
da teoria do desamparo aprendido.
Explicando
um pouco mais sobre as ideias de Beck, a ideia principal é que existe uma
predisposição cognitiva para a depressão que se originaria nas experiências
iniciais das pessoas, formando os conceitos ou esquemas negativistas sobre si
mesmas e sobre a vida. Esses sistemas ficariam latentes, podendo se manifestar
quando os indivíduos passassem por vivências semelhantes às iniciais, que foram
responsáveis pela introjeção da atitude negativista. O autor afirma que a
atribuição de sentido e intensidade através dos nossos valores aos
acontecimentos, podem fazer com que haja um desencadeamento de pensamentos negativos
quando passamos por experiências semelhantes. Então, na depressão existe uma
distorção patológica de um processo que é comum a qualquer pessoa.
O
modelo cognitivo apresenta três conceitos clássicos: a tríade cognitiva, os
esquemas cognitivos disfuncionais e as distorções ou erros cognitivos. A tríade
consiste no fato de o paciente apresentar uma visão negativa e persistente em
relação a três aspectos fundamentais que são: sobre si mesmo, sobre o mundo e
sobre o futuro. Desse modo, ele sente-se envolvido em situações que só causarão
medo, sofrimento e abandono. Os esquemas cognitivos fazem referência à forma
sistemática como a pessoa interpreta as situações adaptando-as a suas
referências vivenciais e também designam padrões estáveis que categorizam e
avaliam as experiências.
No
caso do paciente deprimido, os padrões estáveis geram percepções distorcidas da
realidade que são influenciados pelos pensamentos negativos desencadeados pela
cognição. O paciente perde grande parte do controle sobre seus pensamentos e
não se acha em condições de utilizar outros esquemas que melhor se adaptem às
situações. O terceiro conceito, dos erros cognitivos, representam as distorções
que acontecem no processamento das informações, no sentido de adaptar a
realidade aos esquemas negativistas. Segundo Burns, os principais erros
cognitivos são: absolutismo ou pensamento dicotômico, supergeneralização,
abstração seletiva, desqualificação, inferência arbitrária, magnificação e
minimização, racionalização emocional, sensação de obrigação, rotulações e
personalização.
Enfim,
esse trabalhou mostra a compreensão atual que se tem sobre dois modelos
etiológicos da depressão, cuja abrangência não deve ser tomada por definitiva,
já que estudos e aprimoramentos devem sempre ser feitos para um melhor estudo
sobre a patologia.
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